Delator: Cunha usou requerimento para pressionar por propina
Empresário Júlio Camargo alega ter sido coagido pelo líder na Câmara para pagar suborno por contrato não realizado pelo fornecedor da Petrobras
Depondo novamente por pedido da defesa do lobista Fernando Soares, no processo que trata de supostas irregularidades nas compras de navios sonda pela Petrobras, o empresário Júlio Camargo, delator na Operação Lava Jato, disse que foi pressionado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB) a pagar propina até mesmo por contrato que não foi pago pelo fornecedor da Petrobras.
Camargo intermediou a contratação da Samsung e da Mitsui pela Petrobras e diz ter repassado propina a Fernando Soares, o Baiano, apontado como operador do PMDB no esquema. Ao juiz federal Sérgio Moro, ele contou, nesta quinta-feira que a Samsung deixou de fazer o pagamento da última parcela do contrato, por discordar da forma como o negócio foi conduzido e, quando foi informar o problema a Baiano, ouviu do lobista que era uma situação de responsabilidade de Camargo. O delator disse que Fernando Baiano avisou que “se não resolvesse, a situação se tornará muito embaraçosa, pois eu estou sendo cobrado, inclusive, pelo deputado Eduardo Cunha”. Camargo disse que se colocou á disposição para conversar com o Eduardo Cunha e explicar e ouviu de Baiano que “ele não quer conversar com você, quer receber”.
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Júlio Camargo disse à Justiça que, para pressioná-lo a fazer o pagamento, de cerca de US$ 10 milhões, Cunha providenciou a aprovação de requerimentos contra a Mitsui e a Toyo (empresa de Camargo) na Câmara, conforme havia sido ameaçado por Fernando Baiano. “Passado algum tempo, em agosto de 2011, um diretor da Mitsui me procurou tendo em mãos um requerimento da deputada Solange Almeida (aliada de Cunha), que pedia que todos os processos da Mitsui fossem remetidos ao Ministério da Minas e Energia para avaliação eventual remessa dessa documentação ao TCU e pedia uma avaliação sobre a minha performance dentro destes contratos”.
Diante dos requerimentos, Camargo contou que pediu ajuda do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, para conseguir uma audiência com o então ministro das Minas e Energia, Edson Lobão (PMDB) para tratar do assunto. “E ele marcou uma agenda com o ministro para mim, na base aérea do Rio de Janeiro. Estive lá, mostrei os requerimentos para o ministro e ele disse: ‘isso é coisa do Eduardo’. Pegou o celular e ligou para o deputado na minha frente e disse: ‘Eduardo, estou aqui com o Júlio Camargo. Você está Louco?”, conta o delator, que disse que o ministro prometeu agilizar o processo para encerrar logo.
Depois da conversa com o ministro, Camargo quis falar pessoalmente com Cunha e, para isso, usou Fernando Baiano. “Nos reunimos, nós três (Camargo, Baiano e Cunha) em um edifício comercial no Rio de Janeiro. No encontro, ele (Cunha) disse que não tinha nada pessoal contra mim, mas havia um débito meu com o Fernando, do qual ele era merecedor de US$ 5 milhões, o que o estava preocupando em período eleitoral”, disse. Assim, Camargo conta que procurou Alberto Youssef que me auxiliou a fazer pagamento de US$ 10 milhões. A explicação de Camargo foi interrompida pelo juiz, que disse que como o inquérito contra Cunha corre em Brasília, ele não precisava detalhar o caso na primeira instância para não atrapalhar as investigações.
Júlio Camargo firmou acordo de colaboração com o Ministério Público Federal, comprometendo-se a ajudar nas investigações em troca de benefícios como redução da pena e possibilidade de cumprimento em prisão domicilar. Antes de iniciar seu depoimento, foi alertado pelo juiz Sergio Moro que se prestasse alguma declaração falsa ou incriminasse alguém indevidamente, seu acordo poderia ser anulado.
Leia, na íntegra, a nota enviada por Eduardo Cunha:
Com relação à suposta nova versão atribuída ao delator Júlio Camargo, tenho a esclarecer o que se segue:
1- O delator já fez vários depoimentos, onde não havia confirmado qualquer fato referente a mim, sendo certo ao menos quatro depoimentos.
2- Após ameaças publicadas em órgãos da imprensa, atribuídas ao Procurados Geral da República, de anular a sua delação caso não mudasse a versão sobre mim, meus advogados protocolaram petição no STF alertando sobre isso.
3- Desminto com veemência as mentiras do delator e o desafio a prová-las.
4- É muito estranho, às vésperas da eleição do Procurador Geral da República e às vésperas de pronunciamento meu em rede nacional, que as ameaças ao delator tenham conseguido o efeito desejado pelo Procurador Geral da República, ou seja, obrigar o delator a mentir.
Deputado Eduardo Cunha
Presidente da Câmara dos Deputados