"Deus de barro não dura muito tempo", diz Lula sobre Moro
Petista fez um discurso na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo
Habilitado novamente para disputar eleições, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um discurso na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, em seu primeiro pronunciamento após a anulação de suas condenações na 13ª Vara Federal de Curitiba.
"Se tem um brasileiro que tem razão de ter muitas e profundas mágoas, sou eu. Mas não tenho, porque o sofrimento que o povo brasileiro está passando, o sofrimento que as pessoas pobres estão passando, é infinitamente maior que qualquer crime que cometeram contra mim", declarou.
Lula foi enquadrado na Lei da Ficha Limpa por causa de sua condenação no caso do tríplex do Guarujá (SP) e chegou a passar 580 dias na cadeia, mas o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), anulou todas as sentenças contra o petista na Justiça Federal do Paraná.
Segundo Fachin, a 13ª Vara Federal de Curitiba, que era comandada por Sergio Moro até ele aceitar o convite de Jair Bolsonaro para ser ministro da Justiça, não era o "juiz natural" dos casos. Na decisão, Fachin encaminhou os processos do tríplex, do sítio de Atibaia e das doações ao Instituto Lula para a Justiça Federal do Distrito Federal.
"Eu fui absolvido em todos os processos fora de Curitiba, mas nós vamos continuar brigando para que o Moro seja considerado suspeito, porque ele não tem o direito de se transformar no maior mentiroso da história do Brasil e ser considerado herói por aqueles que queriam me culpar. Deus de barro não dura muito tempo", acrescentou.
A suspeição de Moro para julgar Lula está sob análise da Segunda Turma do STF, com votação paralisada em 2 a 2. O último a votar é o ministro Nunes Marques, indicado por Bolsonaro e que pediu vista, ou seja, mais tempo para analisar o caso.
Não há data para retomar o julgamento, mas, se o STF determinar a suspeição de Moro, isso significará a anulação de todos os atos praticados pelo ex-juiz nos processos contra o ex-presidente. Dessa forma, os casos encaminhados ao Distrito Federal teriam de recomeçar do zero. "Eles sabem que eles cometeram um erro", declarou Lula.
Bolsonaro
O ex-presidente também aproveitou a ocasião para criticar a resposta do governo Bolsonaro à pandemia do novo coronavírus e afirmou que um presidente não é eleito para "falar bobagem e fake news".
"A questão da vacina não é uma questão se tem dinheiro ou se não tem dinheiro. É uma questão se eu amo a vida ou se eu amo a morte. É uma questão de saber qual é o papel do presidente da República no cuidado de seu povo", disse.
"As mortes estão sendo naturalizadas porque a gente ouve de manhã, de tarde, de noite. Mas eram mortes que muitas delas poderiam ter sido evitadas", disse.