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Lava Jato

Propina envolveu parentes, blog e escolas de samba, diz PF

4 jul 2016 - 14h52
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O pagamento de propinas ao ex-tesoureiro do PT, Paulo Ferreira, teve como objetivo não somente irrigar as finanças do partido, como também proporcionar vantagens pessoais a ele, disseram hoje investigadores responsáveis pela 31ª fase da Lava Jato, denominada Operação Abismo, deflagrada hoje (4) pela Polícia Federal. Ferreira está preso desde o dia 23 na superintendência do órgão em São Paulo, em decorrência da operação Custo Brasil, também da PF.

Policiais Federais carregam malotes com documentos apreendidos na 31ª fase da Operação, denominada "Abismo"
Policiais Federais carregam malotes com documentos apreendidos na 31ª fase da Operação, denominada "Abismo"
Foto: Futura Press

Os investigadores disseram ter colhido provas de que Ferreira recebeu recursos desviados da Petrobras. Ele usava contas de parentes para receber os recursos, um blog no qual publicava notas favoráveis à sua atuação política e também uma escola de samba de Porto Alegre para receber o dinheiro.

Em delação premiada, o operador financeiro Alexandre Romano disse ter desviado R$ 1 milhão de contratos para a reforma do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes), no Rio de Janeiro, para Ferreira.

Segundo os investigadores, Romano apresentou talões de cheque que comprovam o pagamento de R$ 2 mil ao próprio Ferreira e outros R$ 3,5 mil a seus dois filhos. Valores diversos foram pagos a assessores da tesouraria do PT e, segundo as investigações, também a uma servidora da Casa Civil da Presidência da República.

No despacho em que o juiz Sergio Moro autoriza a prisão preventiva de Ferreira, consta que o blog do advogado Júlio Garcia, na qual há publicações favoráveis a Paulo Ferreira, recebeu R$ 6 mil por meio de cheque nominal. Outros R$ 45 mil foram pagos à escola de samba Estado Maior da Restinga, também por meio de cheques.

Ferreira foi candidato a deputado federal pelo Rio Grande do Sul nas eleições de 2014, mas não conseguiu se eleger. Durante a campanha, ele recebeu da direção nacional do PT um repasse de R$ 266 mil proveniente de doação da Carioca Engenharia, empreiteira cujos diretores Ricardo Pernambuco e Ricardo Pernambuco Júnior delataram o cartel nas obras do Cenpes. Outros R$ 95 mil foram recebidos da Andrade Gutierrez.

O procurador da República Roberson Pozzobom, que esteve à frente da Operação Abismo, lembrou que Paulo Ferreira é atualmente suplente de deputado federal, indicando mais uma vez que a corrupção tem como meta influir diretamente nas decisões da classe política brasileira.

"Agentes políticos estão no topo da cadeia alimentar das propinas", disse Pozzobom, "O povo brasileiro hoje já não aguenta mais que os agentes políticos flertem, namorem e casem com a corrupção", afirmou, antes de explicar os detalhes do esquema. "Precisamos da reforma política. Precisamos mudar esse sistema, só assim conseguiremos virar a página para um Brasil mais justo", disse.

O procurador estimou que o esquema investigado na Operação Abismo tenha resultado num prejuízo de R$ 39 milhões aos cofres da Petrobras. Como Paulo Ferreira já se encontra preso na Superintendência da PF em São Paulo, em decorrência da Operação Custo Brasil, deflagrada na semana passada, não houve necessidade de cumprir seu mandado de prisão preventiva.

Outros quatro mandados de prisão temporária foram expedidos, contra os executivos ligados ao Consórcios Novo Cenpes: Edison Freire Coutinho, Roberto Ribeiro Capobianco, Genésio Schiavinato Júnior e Erasto Messias da Silva Júnio, em diligências feitas em em São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal. Os dois últimos investigados ainda não foram localizados pela PF.

Agência Brasil Agência Brasil
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