Protestos em Porto Alegre têm pixuleco, apoio à intervenção militar e argentinos em favor de Lula
O petista é acusado de ter recebido um apartamento tríplex no Guarujá (SP) da empreiteira OAS como propina em troca de contratos fraudulentos com a Petrobras.
De um lado, milhares de apoiadores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - entre eles 21 jovens argentinos - assistiam tranquilamente à sessão em meio a discursos de deputados petistas do Rio Grande do Sul. Do outro, 20 militantes pediam a "prisão de todos os políticos".
Diferentemente do que autoridades e moradores temiam, o julgamento de Lula pelos desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) não despertou hostilidade nas ruas de Porto Alegre.
O clima foi bastante tranquilo na cidade durante toda a manhã desta quarta-feira, período em que o relator do caso, o desembargador João Pedro Gebran Neto, proferiu parte do voto em que confirmou a condenação e aumentou a pena do petista.
Lula já havia sido condenado pelo juiz federal Sergio Moro a nove anos e seis meses de prisão pelo crime de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ele é acusado de ter recebido um apartamento tríplex no Guarujá (SP) da empreiteira OAS como propina em troca de contratos fraudulentos com a Petrobras. Os três desembargadores do TRF-4 se reuniram nesta quarta-feira para decidir se mantêm ou não a sentença de Moro contra Lula. O petista nega a prática de crimes.
Quando o advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins, sustentava que seu cliente fosse absolvido por falta de provas, ao menos 21 jovens vindos da Argentina se juntaram à manifestação pró-Lula.
"Acompanhamos da Argentina as melhorias que Lula promoveu para o povo brasileiro e achamos importante que ele seja candidato", diz Carlos Vigo, 22 anos, estudante de engenharia informática em Buenos Aires. Vigo, que viajou por 24 horas até Porto Alegre, afirma que Brasil e Argentina vivem momentos políticos parecidos, com governos que defendem cortes de gastos e reformas da legislação trabalhista e da Previdência.
"A diferença é que (o presidente Michel) Temer subiu por um golpe, e na Argentina (o presidente Mauricio Macri) subiu pelo voto", diz Vigo, a respeito do processo de impeachment de Dilma Rousseff. É a primeira vez que o estudante participa de um ato político fora da Argentina. Os jovens integram o Movimento de Trabalhadores Excluídos e o Agite Rebelión Pátria Grande, organizações de esquerda argentinas. No acampamento montado pelos manifestantes pró-Lula em Porto Alegre, foram recebidos por grupos de jovens brasileiros, entre os quais o Levante Juventude e o Movimento de Pequenos Agricultores.
No protesto, milhares de pessoas acompanharam discursos de políticos locais e outros apoiadores de Lula, como a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ). No carro de som, os organizadores pedem que os manifestantes não se aproximem do tribunal, qualquer que seja o resultado do julgamento. Há uma barreira de proteção, com força policial, no entorno do prédio, para garantir a segurança dos desembargadores.
'Todos os políticos presos'
No bairro de classe alta Moinhos de Vento, duas dúzias de pessoas pregavam uma tese oposta à da defesa de Lula. O local está situado a cerca de quatro quilômetros de distância da sede do tribunal, onde ocorre o julgamento.
"Queremos a prisão de Lula e de todos os políticos e intervenção militar", dizia a atendente de farmácia desempregada Simone Dias, 53 anos, de Canoas (RS), uma das líderes do protesto, com um megafone na mão.
Reunido em torno de um carro com caixas de som que irradiava o Hino Nacional e a Canção do Soldado, o grupo era guarnecido por policiais militares. Uma faixa estendida num gramado próximo dizia: "Intervenção militar já". Outros grupos contrários ao PT e a Lula, como o MBL e o Vem Pra Rua, também prometiam manifestações ao longo do dia na capital gaúcha, mas ainda na manhã desta quarta não estavam organizados em nenhum ponto da cidade.
Simone não demonstrava preocupação com a adesão modesta à passeata naquela hora. "Depois das 18h, temos expectativa de ter 2 mil a 3 mil pessoas aqui", previu.
Segundo Simone, os petistas conseguem amealhar grandes concentrações de manifestantes porque os populares "estão pagos". "São pessoas muito necessitadas e aceitam fazer o que fazem em troca de favores. Nós, não. Estamos aqui por amor à Pátria", garantiu. A reportagem da BBC Brasil não encontrou evidências de militância paga entre os apoiadores do ex-presidente.
Simone identifica-se nas redes sociais como Simone Mourão, para fazer uma "homenagem" ao general do Exército Antonio Hamilton Martins Mourão, que causou alvoroço ao afirmar, em Brasília, que a intervenção militar seria uma possibilidade caso a crise política saísse de controle.
A manifestante não quis arriscar um prognóstico sobre o julgamento de Lula. "Tudo é possível", afirmou. O risco de absolvição é mais um argumento, disse ela, em favor de uma intervenção militar.
No Parque Moinhos, o vendedor ambulante Leonardo Moreira, 25 anos, mostrava-se otimista com a venda de bandeiras do Brasil e de bonecos infláveis apelidados de Pixuleco, que mostram Lula vestido de presidiário.
"As pessoas param os carros e compram", afirmou. O artefato custa R$ 30, enquanto uma bandeira do Brasil de tamanho grande sai por R$ 20. O preço não está inflacionado? "De jeito nenhum. Já não temos mais a bandeira pequena", respondeu.