'Lira terá menos poder na era Lula', diz governador de Alagoas
Para Paulo Dantas (MDB), perfil do presidente eleito permite maior diálogo com o Legislativo
Aliado da família Calheiros, Paulo Dantas (MDB) assumiu o governo de Alagoas em uma eleição indireta, em maio, após o governador Renan Filho (MDB) renunciar para disputar o Senado - o vice, Luciano Barbosa, havia sido eleito prefeito de Arapiraca em 2020. Antes de ser reeleito em outubro, porém, Dantas foi alvo de uma operação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal (MPF) que investiga um suposto desvio de R$ 54 milhões por meio de funcionários fantasmas na Assembleia Legislativa de Alagoas quando o emedebista era deputado estadual.
Ele foi afastado do cargo no dia 11 de outubro por decisão da ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Laurita Vaz, posteriormente confirmada pela maioria da Corte Especial do STJ, mas o Supremo Tribunal Federal (STF) reverteu o veredicto e ele voltou ao cargo, alegando ter sido vítima de "perseguição política". Ao Estadão, Dantas diz que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), desafeto de Renan Calheiros, terá "menos poder" no futuro governo Lula.
Adversário da família Calheiros em Alagoas, o deputado Arthur Lira (PP) vai ter o apoio do PT para se reeleger na presidência da Câmara. Qual sua leitura sobre esse acordo e como ele impacta o grupo político de vocês?
O Brasil vive um momento de tensão, e o presidente Lula está tendo cautela. Arthur Lira já saiu para essa disputa para a presidência da Câmara com uma larga vantagem. O presidente Lula precisa de ambiente no Congresso Nacional para aprovar as medidas que viabilizem seu governo. Foi sensato esse entendimento, que garantiu a aprovação da PEC do Bolsa Família.
Arthur Lira será tão poderoso como era no governo Bolsonaro?
Ele vai ter menos poder na era Lula.
Por que?
O presidente Bolsonaro tinha contra ele vários pedidos de impeachment e, ao contrário de Lula, muita dificuldade de diálogo com o Congresso Nacional. Lula é acessível, bem articulado, conversa com a política e tem bons projetos. O presidente eleito conhece as demandas regionais. Lula tem a sua bancada. Bolsonaro tinha uma bancada muito pequena. Quem concentrou todo o poder foi Arthur Lira, que terá bem menos poder agora.
Lula pode confiar em Arthur Lira depois do trauma que foi Eduardo Cunha para Dilma Rousseff e o PT?
Não conversei com o presidente Lula depois da eleição, mas eles fizeram uma leitura de que seria muito difícil ganhar a presidência da Câmara e Senado. O presidente preferiu não ter esse embate.
Que balanço o sr. faz da Operação Edema, que levou ao seu afastamento do governo pelo STJ, decisão revertida pelo STF? Na ocasião o sr. criticou a PF.
Eu critiquei e critico a atuação da Polícia Federal. Houve uma grande armação política com intuito eleitoral. Na passagem do primeiro para o segundo turno tivemos 300 mil votos de diferença. As pesquisas apontavam 60% das intenções de voto. Ganharíamos com facilidade, mas apertou muito com a Operação Edema. A delegada superintendente da PF foi para Alagoas substituir um delegado no dia 5 de agosto, véspera das convenções. A partir daí surgiram rumores de que haveria uma operação e que ela teria ido com essa missão. No dia 1° de outubro, o deputado Arthur Lira gravou um vídeo nas suas redes falando sobre a Operação Edema. Mas era uma operação sigilosa. No dia 10 de outubro, um dia antes da operação, o candidato nosso adversário convocou uma entrevista coletiva de imprensa para as 9 horas do dia seguinte, mas cancelou depois porque era muito escandaloso. A ministra Laurita Vaz foi induzida ao erro, mas o STF agiu e voltei ao governo, de onde nunca deveria ter saído.
A PF agiu contra o sr.?
Não estou acusando a PF, mas uma ala. Não sei de onde veio a ordem e não tenho como provar. Mas, depois da operação, eles concederam para nossos adversários informações da operação. Houve perseguição política.