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Política

Lula cita na Fiesp informações falsas sobre voto feminino e produção de carnes

Candidato disse que Brasil foi o último da América Latina a legalizar o voto feminino, mas Argentina, Peru, México e Chile permitiram depois

9 ago 2022 - 16h42
(atualizado às 18h09)
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Foto: Poder360

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) citou informação falsa em sabatina nesta terça-feira, 9, na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), ao afirmar que o Brasil foi o último da América Latina a legalizar o voto feminino. O país permitiu que mulheres votassem antes de Argentina, Peru, México e Chile.

Também não procede que o Brasil é o maior produtor de proteína animal do mundo, como disse Lula aos empresários. Segundo o último relatório da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), o país é o terceiro, atrás de China e EUA.

Confira abaixo um resumo do que checamos e acesse a transcrição da entrevista no Banco de Discursos:

  1. Não é verdade que o Brasil foi o último país da América Latina a legalizar o voto feminino. O direito veio com o Código Eleitoral de 1935, antes, portanto, de medidas similares na Argentina (1947), no Chile (1949), no Peru (1955) e no México (1955);
  2. O Brasil não é o maior produtor de proteína animal do mundo. Esse posto hoje é ocupado pela China, segundo relatório da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura). O Brasil está em terceiro lugar, atrás dos EUA;
  3. Foram vendidos 2,6 milhões de carros no ano em que Lula deixou o governo, e não 3,8 milhões, como disse o ex-presidente. O dado citado pelo petista corresponde ao licenciamento não só de automóveis, mas de outros veículos, como caminhões;
  4. O total de exportações e importações do Brasil chegou a US$ 492 bilhões em 2011, primeiro ano da gestão Dilma, valor próximo ao citado por Lula. O ex-presidente omite, porém, que o montante começou a cair ainda nos governos petistas;
  5. Os percentuais da dívida líquida em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) citados por Lula na entrevista estão próximos dos índices apurados em 2002, quando ele assumiu o governo, e em 2010, ao fim de seu segundo mandato;
  6. É verdade que Lula se manifestou contra a invasão da Ucrânia pela Rússia. O petista, porém, entrou na mira dos ucranianos após dizer à revista Time que o presidente do país, Volodimir Zelenski, era tão responsável pela guerra quanto Vladimir Putin, o mandatário russo.

Selo falso

[O Brasil foi] o último [na América Latina] a legalizar o voto da mulher.

Outros países da América Latina legalizaram o voto feminino depois do Brasil, por isso a declaração de Lula é FALSA. Em 1932, o Código Eleitoral brasileiro passou a dar o direito de a mulher votar, de forma facultativa. No ano seguinte, mulheres puderam votar para a composição da Assembleia Constituinte e também se candidatar. Esse direito foi garantido pela Constituição Federal de 1934 e regulamentado pelo Código Eleitoral de 1935, que definiu o voto obrigatório para mulheres que tinham atividade remunerada.

Na Argentina, as mulheres conseguiram o direito de votar somente em 1947 e foram às urnas pela primeira vez em 1951. No Chile, o sufrágio universal foi estabelecido em 1949, mas o direito de votar em eleições municipais havia sido promulgado em 1934. No Peru, o reconhecimento do direito das mulheres escolherem seus candidatos ocorreu em 1955. No mesmo ano, as mexicanas conseguiram o direito de votar em eleições federais.

Selo falso

O maior produtor de proteína animal do mundo [o Brasil]

Não é verdade que o Brasil seja o maior produtor de proteína animal do mundo, como afirmou Lula na Fiesp. Esse posto hoje é ocupado pela China, de acordo com relatório da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) de 2021, com dados de 2019 - último disponível. O Brasil está em terceiro lugar.

Os chineses foram responsáveis pela produção de 77,44 mil toneladas de carne de frango, de porco, bovina, entre outros tipos, no período analisado. Os Estados Unidos, segundo país no ranking, produziram 48,11 mil toneladas. Já o Brasil, 28,62 mil toneladas.

O Brasil não fica na primeira posição nem se observada a produção por tipo de proteína animal. Os EUA lideram em frango (20,15 mil toneladas) e carne bovina (12,34 mil toneladas). A China se destaca na carne suína, com 43,48 mil toneladas por ano.

Selo não é bem assim

Quando eu deixei a Presidência, a gente tava vendendo 3,8 milhões carros por ano.

Em 2010, último ano de Lula na Presidência, foram licenciados 2,6 milhões de carros, na realidade, segundo dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) no anuário publicado em 2011. O número citado pelo ex-presidente na Fiesp é próximo, na realidade, ao total de licenciamentos de automóveis, veículos comerciais leves, caminhões e ônibus: 3,5 milhões naquele ano.

Em resposta ao Aos Fatos, a assessoria de imprensa de Lula disse que levou em consideração uma reportagem publicada em janeiro de 2011 no site do jornal O Tempo. Na reportagem é dito que a produção de veículos bateu o recorde no Brasil foram 3,6 milhões de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus fabricados.

Selo não é bem assim

Chegamos a quase US$ 502 bilhões no fluxo de comércio exterior.

O total de exportações e importações do Brasil chegou a US$ 492 bilhões em 2011, primeiro ano da gestão de Dilma Rousseff (PT), valor próximo ao citado por Lula. No entanto, o ex-presidente omite que esse montante começou a cair ainda durante os governos petistas.

Segundo a base de dados do ITC (Centro de Comércio Internacional), após o pico registrado em 2011, houve um declínio na corrente de comércio com outros países, que só voltou a crescer nas gestões posteriores (veja gráfico abaixo).

 

Quando Lula deixou o governo, em 2010, a soma das importações e exportações era de US$ 394 bilhões. Já no último ano completo de Dilma, em 2015, esse fluxo havia caído para cerca de US$ 363 bilhões. A ex-presidente permaneceu no cargo até maio de 2016.

Selo verdadeiro

Nós pegamos o governo com quase 65% da dívida, deixamos com 40%.

Os percentuais citados por Lula são próximos aos de dívida líquida em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) nos anos citados. Ao final de 2002, quando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) encerrou o segundo mandato, o percentual de dívida era de 57,75% do PIB. Quando Lula concluiu seu segundo mandato, em 2010, era de 38,48%, segundo dados do Banco Central. Se considerados também os governos Dilma Rousseff (PT), o percentual era de 40,97% em maio de 2016, quando ela foi afastada do cargo pelo processo de impeachment.

Em função de manobras contábeis, conhecidas como pedaladas fiscais, que ocorreram no segundo governo Dilma Rousseff, iniciou-se uma trajetória de aumento da dívida pública que não constava nos cálculos anteriores. Isso levou analistas econômicos a observar os dados de endividamento bruto do governo geral.

Considerando esse aspecto, os percentuais mudam. Lula herdou uma dívida bruta de 76,10% do PIB e deixou um percentual de 62,43%. Em maio de 2016, o percentual era de 72,25%, ou seja, um crescimento de quase 10 pontos percentuais em relação ao fim do governo Lula e somente 3,85% menor em relação à dívida bruta deixada por FHC.

Selo verdadeiro

Eu fui contra a invasão da Ucrânia.

Em diversos momentos, Lula se posicionou contra a invasão de tropas russas à Ucrânia. No dia 24 de fevereiro, por exemplo, o petista comentou que era "lamentável" que, em 2022, ainda houvesse "países tentando resolver suas divergências, sejam territoriais, políticas, ou comerciais, através de bombas, tiros e ataques".

Em março, o ex-presidente voltou a criticar a guerra em discurso no México, quando disse que o avanço militar russo era inadmissível e que conflitos deveriam ser resolvidos por meio de negociações, não bombardeios.

O ex-presidente, entretanto, disse, em entrevista à revista Time, em maio, que o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, era "tão responsável quanto o [Vladimir] Putin" pelo conflito.

Diante da afirmação, o governo ucraniano afirmou que o petista tentava "distorcer a verdade" e incluiu o nome de Lula no relatório governamental de pessoas que estariam fazendo propaganda pró-Rússia na guerra. No final de julho, no entanto, seu nome foi retirado do documento.

Outro lado. Após ser procurada por Aos Fatos, na tarde desta terça-feira (9), a assessoria de Lula enviou posicionamentos sobre algumas das checagens, que foram incluídos no texto.

Referências:

1. TSE

2. FGV IBRE (Fontes 1, 2 e 3)

3. Governo Federal

4. Governo da Argentina

5. Biblioteca Nacional do Chile

6. El Comercio

7. Televisa

8. FAO

9. Banco Central

10. Senado Federal

11. ITC

12. G1

13. Folha de S.Paulo

14. Veja

15. Poder 360 (Fontes 1 e 2)

16. Carta Capital

17. BBC

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