Lula fala sobre guerra na Ucrânia em visita à China: 'Parem de incentivar a guerra e comecem a falar em paz'
Presidente pediu que os Estados Unidos deixe de vender armamentos e trabalhem pelo fim do conflito entre Rússia e Ucrânia
PEQUIM E SÃO PAULO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que conversou com o presidente chinês Xi Jinping sobre a guerra na Ucrânia e defendeu a criação de um grupo de países dispostos a buscar a paz na região. Ao mesmo tempo, argumentou que os Estados Unidos e a Europeia também busquem a paz e parem de incentivar o conflito, por meio do fornecimento de armas.
"É preciso ter paciência com o presidente da Rússia, é preciso ter paciência com o presidente da Ucrânia. Mas é preciso, sobretudo, convencer os países que estão fornecendo armas e incentivando a guerra pararem", disse Lula a jornalistas no saguão do hotel em que está hospedado, em Pequim, na manhã deste sábado, noite de sexta-feira no Brasil.
"É preciso que os Estados Unidos parem de incentivar a guerra e comecem a falar em paz. É preciso que a União Europeia comece a falar em paz", completou. Só assim, afirmou o presidente, o presidente russo Vladimir Putin e o ucraniano Volodmir Zelenski vão se convencer que a paz interessa a todo mundo.
O presidente argumentou ainda que a China também está disposta a atuar pelo fim da guerra. Para o petista, os chineses devem ser hoje o elo mais importante no conflito. "Acho que a China tem um papel muito importante. Contínuo reiterando que a China talvez seja o mais importante."
Estados Unidos
Durante a visita à China, Lula mandou recados aos Estados Unidos ao visitar a fábrica da gigante de tecnologia Huawei, acusada de espionagem pelos americanos, que pressionou Brasília para não fazer negócios com a chinesa. Também contestou o uso exclusivo do dólar como lastro para o comércio internacional.
O petista, porém, minimizou a possibilidade de sua visita à China causar arranhões com a diplomacia americana. "Não precisamos romper e brigar com ninguém para que a gente melhore. Não há nenhuma razão para isso", falou sobre eventuais ruídos em Washington.
Segundo ele, sua comitiva visitou a Huawei porque o Brasil "está muito atrasado e acho que não é correto não dar ao povo brasileiro as mesmas oportunidades que os outros".
"Quando vou conversar com os Estados Unidos eu não fico preocupado com o que a China vai pensar da minha conversa", disse. E o petista emendou: "Quando eu venho conversar com a China eu também não estou preocupado com o que os Estados Unidos estão pensando. Estou conversando sobre os interesses soberanos do Brasil."
"Cada país nenhum negocia em defesa de sua soberania e da melhoria de vida do seu povo", afirmou Lula no saguão do hotel. "O Brasil tem que procurar seus interesses, tem que ir atrás daquilo que ele necessita e fazer acordos possíveis com todos os países. Não temos escolhas políticas, escolhas ideológicas", completou.
Resultado
Lula disse que saiu "muito satisfeito" com o resultado da viagem e comentou que "uma coisa importante" está acontecendo com a relação Brasil-China. "Estamos ultrapassando aquela fase das commodities e entrando em outras necessidades." Ele citou pontos como a questão digital e a educação, além da energia.
"É preciso que a gente discuta a transição energética, porque o Brasil é um país que tem potencial extraordinário de energia limpa em todos os aspectos", disse Lula. A China, emendou, pode ajudar o Brasil não apenas na construção da nova matriz energética, mas também se associando com empresas brasileiras.
"Sinto e senti extrema vontade do presidente Xi Jinping e dos ministros dessa relação com o Brasil. Nossa relação estratégica vai se aperfeiçoando cada vez mais", afirmou Lula.
Lula embarcou na manhã deste sábado para o Brasil, mas antes faz uma escala em Abu Dabhi. Lá, tem um jantar e, segundo o petista, deve anunciar investimentos no Brasil. Lula chega a Brasília no domingo.