Lula faz reuniões com chefes de Poderes e Lira antes de assumir
Petista retoma liderança da articulação política nacional; em agenda mais simbólica, se encontra com presidente da Câmara para negociar transição e relação com Congresso
SÃO PAULO E BRASÍLIA - O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reassumiu nesta segunda-feira, 7, formalmente a liderança da articulação política nacional. Antes de assumir o Palácio do Planalto pela terceira vez, Lula fará nesta semana uma rodada de encontros com chefes dos Poderes Judiciário e Legislativo. Na reunião mais simbólica do atual momento político, o petista vai se encontrar com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para negociar a transição de governo e a relação do futuro presidente com o Congresso.
Aliado de primeira ordem do presidente Jair Bolsonaro (PL), Lira tenta abrir canais com o futuro governo para conseguir se manter no comando da Câmara dos Deputados em 2023. O parlamentar do Centrão também age para manter o poder sobre as emendas do orçamento secreto.
O petista viaja para Brasília na noite desta terça-feira pela primeira vez desde que foi eleito na disputa deste ano. Ele terá encontros com a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Rosa Weber, e com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), além de Lira. Também deve se reunir com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes.
As conversas com Lira e Pacheco têm por objetivo a negociação da tramitação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição, por meio da qual o novo governo estuda emplacar um "waiver" (licença) para gastar além do teto em 2023 e cumprir promessas eleitorais, como a manutenção do Auxílio Brasil (que voltará a se chamar Bolsa Família) no valor de R$ 600 em janeiro, além do aumento real do salário mínimo (acima da inflação), entre outras propostas feitas pelo petista.
No mesmo dia, Lula deve bater o martelo sobre a PEC da Transição - um "plano B", por meio de crédito extraordinário, chegou a ser pensado, mas deve ser descartado.
Os encontros têm ainda o condão de reforçar a mensagem de que a eleição do petista tem respaldo dos demais Poderes.
A possibilidade de um acordo entre Lula e Lira, no entanto, é minada por disputas internas e divisões que já ocorrem na equipe do futuro governo.
Em maio, ainda na pré-campanha, Lula começou a atacar o Congresso e criticar o poder de Lira sobre o orçamento. O petista chamou o presidente da Câmara de "imperador do Japão", levando Lira a responder que poderia ser comparado a um imperador, "mas nunca a um ditador".
Depois, em agendas de campanha, Lula classificou o Congresso como o "pior da história" e ainda disse que iria "dar um jeito no Centrão", grupo do presidente da Câmara.
"A conversa será boa. Ambos no clima, hora de colocar água fria e apaziguar ânimos", declarou o deputado Zeca Dirceu (PT-PR), um dos petistas escalados para fazer a ponte entre Lula e o presidente da Câmara.
Os dois conversaram por telefone no domingo do segundo turno, após o TSE declarar Lula eleito. Segundo aliados do presidente da Câmara, o tom da conversa foi cordial e positivo. Tanto Lira quanto seu pai, o ex-senador Benedito de Lira, foram durante longo tempo aliados dos governos do PT no Congresso.
O telefonema começou com Lula perguntando da saúde do pai do parlamentar, o que animou e "desarmou" o deputado do PP, de acordo com interlocutores.
Em 2002, ano de sua primeira vitória presidencial, Lula foi para Brasília na terça-feira logo após o segundo turno, quando se reuniu com o então presidente Fernando Henrique Cardoso para dar início aos trabalhos de transição.
Desta vez, o processo formal de transição se deu por meio do ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), em articulação com a equipe escalada pelo petista para este fim - o presidente Jair Bolsonaro não reconheceu formalmente e explicitamente a derrota e não contatou o adversário para parabenizá-lo pela vitória nas urnas.
O vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), vai anunciar nesta terça-feira, em Brasília, os nomes da equipe de transição. O governo eleito pode indicar até 50 nomes que assumem oficialmente cargos na transição, além de voluntários. O ex-governador de São Paulo coordena o grupo com o apoio da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e do ex-ministro Aloizio Mercadante.
Na lista da equipe de transição constam os nomes do ex-chanceler Celso Amorim, que vai liderar a transição na área de relações exteriores; Luiz Henrique Paim, que deve coordenar a área de Educação a pedido de Fernando Haddad (PT); o economista André Lara Resende; e o deputado federal eleito Guilherme Boulos (PSOL); além de nomes indicados pelos 11 partidos, além do PT, que apoiaram a chapa de Lula e Alckmin.
O ex-tucano Floriano Pesaro (PSB), braço direito de Alckmin, deve trabalhar na área administrativa da transição. A mulher de Lula, a socióloga Rosângela da Silva, a Janja, vai comandar a organização dos preparativos para a posse. Nenhum integrante foi oficialmente anunciado até o momento.
Lula passou a segunda-feira em reuniões que duraram o dia todo. Além de discutir a equipe de transição e a agenda para os próximos dias, o presidente eleito também passou a organizar a viagem para o Egito, onde participará da Conferência do Clima, a COP-27, a convite do governo egípcio.
O petista fez também uma longa reunião para discutir a questão orçamentária. A viagem para o Egito deve ocorrer na próxima segunda-feira. No retorno ao Brasil, Lula passará por Portugal, para uma rápida visita a convite das autoridades portuguesas.