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Política

Lula insiste em linha de defesa e critica Bolsonaro: 'Ele não sabe lé com cré'

O petista foi entrevistado na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde está preso, pelo jornalista Kennedy Alencar por meio de sua produtora K.doc e da emissora RedeTV!

10 mai 2019 - 23h54
(atualizado em 11/5/2019 às 08h55)
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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, em sua segunda entrevista concedida depois que foi preso por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, ter sido condenado sem provas e que o presidente Jair Bolsonaro teve um início de mandato "extremamente desastroso".

"A impressão que eu tenho é que ele não sabe lé com cré. A impressão que eu tenho é que ele não tem noção das coisas que ele fala. Ele não conhece nada de política externa, ele não conhece nada de economia. Ele faz questão de mostrar que não conhece", disse o petista em entrevista ao jornalista Kennedy Alencar, comentarista da rádio CBN.

Lula concede entrevista na sede da Polícia Federal em Curitiba
Lula concede entrevista na sede da Polícia Federal em Curitiba
Foto: BBC News Brasil

Para Lula, Bolsonaro não tem método nem estratégia. "Ele corre atrás do filho para apagar um incêndio todo dia. Eu sinceramente não sei como é que funciona a família. Como eu não conheço, não vou ficar dando palpite. Mas o que se apresenta publicamente é um negócio incontrolável. Obviamente que pelo bem do Brasil eu espero que ele aprenda."

O ex-presidente também criticou Bolsonaro por facilitar o acesso a armas de fogo no país. "(Ele) acha que o problema do Brasil se resolve com arma. O problema do Brasil se resolve com livro, com escola."

O petista foi entrevistado na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde está preso. A entrevista foi solicitada por Alencar no ano passado, mas só foi realizada neste mês por causa de decisões divergentes de ministros do Supremo Tribunal Federal. Declarações do petista a veículos de imprensa estiveram proibidas de setembro de 2018 a abril deste ano, quando o presidente da Corte, Dias Toffoli, liberou que ele fosse entrevistado pelos jornais Folha de S.Paulo e El País Brasil.

O canal fechado BBC World News exibiu nesta sexta-feira (10), às 22h30 (horário de Brasília), trechos da entrevista concedida a Kennedy Alencar, como parte da reportagem de 30 minutos sobre o ex-presidente chamada Lula: Behind Bars (Lula: Atrás das Grades, em tradução livre). 

Em uma das partes da entrevista de duas horas e 15 minutos, Lula afirmou que os protestos de junho de 2013 foram manipulados pela mídia contra o PT. 

"Ninguém me convence que aquilo foi porque a polícia de São Paulo bateu numa manifestação de 3.000 pessoas que estavam reivindicando 20% de diminuição no aumento do transporte e que a sociedade foi para rua. Eu não acredito. Aquilo, na minha opinião, já fazia parte da arquitetura política de derrubar o governo, de tirar o PT do poder, porque era uma manifestação muito contra o PT."

Linha de defesa

Ao longo da entrevista, Lula insistiu em sua linha de defesa sobre a condenação no caso do tríplex no Guarujá, questionando as evidências apresentadas pelo Ministério Público Federal e chanceladas pelo então juiz federal Sergio Moro - e atual ministro da Justiça e Segurança Pública - e pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região.

"Alguém tem que mostrar (a prova). Esse apartamento, esse maldito apartamento, se ele é meu, tem que ter um documento, tem que ter um contrato, tem que ter um pagamento. Alguma coisa tem que ser mostrada. Não é possível que alguém possa dizer que um apartamento é meu se eu não comprei, não morei, não paguei, não tem escritura. Que negócio é meu?", afirma.

Em sua decisão de 218 páginas, Moro considerou que Lula ocultava a propriedade do tríplex no litoral paulista, o que caracteriza o crime de lavagem de dinheiro. Segundo o juiz, o imóvel e sua reforma foram concedidos pelo grupo OAS ao ex-presidente como um "acerto de corrupção decorrente em parte dos contratos com a Petrobras", conforme afirmou na época da sua decisão.

Um dos principais argumentos da defesa é que o apartamento está registrado como propriedade da OAS e, portanto, jamais pertenceu ao ex-presidente. Para o juiz, para configurar vantagem indevida, não seria necessário que o imóvel tivesse sido transferido para o nome de Lula.

Em 2018, Sergio Moro (à dir.) deixou cargo de juiz federal para se tornar ministro da Justiça do governo de Jair Bolsonaro (à esq.)
Em 2018, Sergio Moro (à dir.) deixou cargo de juiz federal para se tornar ministro da Justiça do governo de Jair Bolsonaro (à esq.)
Foto: Presidência da República / BBC News Brasil

Ainda segundo a sentença, os valores gastos pela OAS com o tríplex, no total de R$ 2.252.472, foram debitados de uma conta de propina que a empreiteira mantinha com o PT, e que teria sido abastecida por meio do esquema de corrupção na Petrobras.

"Você acha que um cara que virou presidente da República, que tinha o status que eu tinha a nível mundial, que tinha o carinho que eu tinha a nível mundial, iria sujar a minha biografia por um maldito apartamento? Acha que eu ia fazer isso? Jogar fora um patrimônio construído? Se essa gente tivesse prova, essa gente me desmascarava", afirmou Lula a Alencar.

Na entrevista ao jornalista, Lula voltou a acusar Moro de manipular a imprensa ao vazar seletivamente informações sigilosas.

"O Moro fornecia à imprensa as informações em primeira mão, do jeito que ele entendia, a imprensa transformava a mentira do Moro em verdade, e aí o cara já estava condenado. Por que que você acha que eu resolvi resistir? Porque eu quero provar que eles mentiram."

Procurado em dezembro pela BBC World News, Moro afirmou que o ex-presidente foi condenado por ser o responsável pelo escândalo da Petrobras, investigado pela Operação Lava Jato. Segundo ele, foram pagos quase US$ 2 bilhões em propina usando contratos da Petrobras durante a Presidência do petista e o apartamento é parte desses repasses ilegais que foram direcionados para benefício próprio de Lula.

Desta vez, procurado pela reportagem, Moro preferiu não fazer comentários.

Para Lula, Moro não vai sobreviver à política. "Ele não nasceu para isso. Ele nasceu para se esconder atrás de uma toga e ficar lendo o Código Penal. É para isso que ele nasceu. Ele tem que se expor a debate. Eu, por exemplo, adoraria se sair daqui fazer um debate com o Moro sobre os crimes que cometi."

A entrevista a Alencar ocorreu em 3 de maio, dias depois de Lula ser entrevistado por Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, e Florestan Fernandes Júnior, do El País Brasil. Naquela ocasião, em 26 de abril, o petista afirmou que tinha uma obsessão em provar sua inocência e que o país era governado por um "bando de malucos".

Em reação, Bolsonaro afirmou que Lula não deveria ser autorizado pela Justiça a conceder entrevistas. "Maluco? Quem era o time dele? Grande parte está preso ou está sendo processado. Tinha um plano de poder onde, nos finalmentes, nos roubaria a nossa liberdade, ok? Eu acho um equívoco, um erro da Justiça ter dado direito a dar uma entrevista. Presidiário tem que cumprir sua pena."

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