MDB do prefeito Ricardo Nunes pode virar peça-chave na disputa pelo Palácio do Planalto em 2026
Possível vitória na capital paulista fortalecerá posição da legenda, que é cobiçada por Lula, mas também flerta com o bolsonarismo por conta da aproximação com o governador Tarcísio de Freitas
A provável reeleição do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, deve consolidar o MDB como peça-chave para a disputa presidencial de 2026, especialmente no projeto de reeleição do presidente Lula (PT), que pretende atrair o apoio de partidos de centro ainda no primeiro turno.
Nunes desponta como favorito nas pesquisas para continuar no comando da maior cidade do País na disputa que enfrenta neste segundo turno contra o candidato Guilherme Boulos (Psol). Se confirmada a vitória, essa será a primeira vez que o MDB, legenda de Nunes, conquistará a Prefeitura da capital paulista por voto popular — o único prefeito do MDB em São Paulo foi Mário Covas, nomeado em 1983 pelo então governador Franco Montoro, durante a ditadura militar.
Com a Prefeitura de São Paulo, o MDB vai travar uma disputa acirrada com o PSD pelo título de sigla que governa o maior número de brasileiros. No primeiro turno, o partido de Nunes perdeu a liderança que mantinha há anos no número de prefeitos, ficando atrás do PSD por uma diferença ínfima de cerca de 30 cidades.
Liderado pelo deputado federal Baleia Rossi (SP), o MDB teve um papel decisivo na vitória de Lula em 2022. Embora o partido tenha declarado neutralidade, a direção nacional liberou seus filiados para apoiar tanto o petista quanto o então presidente Jair Bolsonaro (PL). Essa decisão abriu espaço para que a emedebista Simone Tebet, que alcançou cerca de 4% dos votos no primeiro turno, apoiasse Lula, ajudando a garantir a vitória apertada do petista sobre o então candidato do PL.
Se no governo Bolsonaro o MDB não ocupou o primeiro escalão, sob Lula, a legenda conquistou o comando de três ministérios: Cidades, com Jader Filho; Transportes, com Renan Filho; e Planejamento, com a própria Simone Tebet.
Apesar do alinhamento com a esquerda em nível federal, em São Paulo, estado mais populoso do País, o MDB se juntou ao projeto do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Embora não tenha representantes no secretariado da gestão paulista, o partido se aproximou de Tarcísio durante as eleições deste ano, com o governador mergulhando de cabeça na campanha de Nunes e se tornando um dos principais entusiastas do projeto emedebista na capital paulista.
A articulação de Baleia Rossi com Tarcísio levou o PL a desistir de lançar uma candidatura própria e aderir à coligação do prefeito. A relação entre os dois partidos — PL e MDB — se tornou mais estreita com a indicação de Bolsonaro para a vice de Nunes, o que colocou a digital do bolsonarismo na principal vitrine do MDB no Brasil.
Petistas defendem aproximação com MDB
Publicamente, petistas já defendem que Lula amplie o arco de alianças para 2026. Conforme publicado pelo colunista do jornal O Globo Lauro Jardim, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, citou o MDB como um partido a ser incorporado à aliança petista durante uma conversa com a diretoria da XP, em São Paulo.
Mas o bolsonarismo também está de olho na legenda. Na terça-feira, 22, em coletiva de imprensa após participar de um evento de campanha de Ricardo Nunes, o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro foi perguntado se buscaria o apoio do MDB em uma eventual candidatura em 2026 e respondeu: "É lógico".
O fato de o partido estar à frente da capital paulista e se equilibrando entre o governo federal e o estadual levanta dúvidas sobre qual rumo tomará em 2026: se continuará alinhado a Lula ou se embarcará num projeto de centro-direita.
Baleia tem pouca afinidade com o ex-presidente, e ambos mantiveram uma relação distante durante a campanha de Nunes. A interlocução da campanha com Bolsonaro foi conduzida principalmente pelo vice na chapa do prefeito, Ricardo Mello Araújo, além de Tarcísio e do advogado Fabio Wajngarten.
Embora haja pouca disposição no MDB para apoiar Bolsonaro em 2026, a ideia de seguir um projeto liderado por Tarcísio é vista com entusiasmo. Segundo apurou o Estadão, desde que assumiu a Presidência, Lula não chamou Baleia Rossi para uma conversa, o que incomodou o dirigente nacional. Esse distanciamento contrasta com a postura de Tarcísio.
Lula tem o apoio de lideranças no Norte e Nordeste
No primeiro turno, o MDB garantiu as prefeituras de duas capitais: Boa Vista (RR) e Macapá (AP). No próximo domingo, 27, aposta em vitórias em Belém (PA), Porto Alegre (RS) e São Paulo (SP). De todas essas capitais, apenas Belém é lulista.
Em São Paulo, que promete ser a principal vitrine do partido nos próximos quatro anos, o prefeito Ricardo Nunes é apoiador de Bolsonaro e chegou a ameaçar deixar o MDB em 2022, quando Simone Tebet subiu no palanque de Lula.
Na eleição deste ano, Baleia Rossi foi coordenador da campanha de Nunes e trabalhou para evitar uma "bolsonarização" da candidatura, fazendo o meio de campo para que o prefeito não entrasse em embates diretos com o governo federal, contam aliados. Nunes, de fato, pouco falou sobre Lula durante a campanha, mantendo a rivalidade apenas com Boulos.Pessoas próximas ao presidente nacional do MDB avaliam que a costura de uma aliança com o PT em 2026 será mais complexa do que se previa. O apoio dependerá, entre outros fatores, do espaço que o partido terá em uma eventual chapa de Lula e de um possível projeto nacional liderado por Tarcísio de Freitas.
Dentro do MDB, enquanto o grupo de São Paulo ligado a Nunes tende a apoiar o projeto de Tarcísio, lideranças do Norte e do Nordeste devem trabalhar para manter a legenda com Lula, defendendo inclusive que o governador do Pará, Helder Barbalho, seja indicado como vice na chapa do petista.