MDB vai lançar pré-candidatura de Simone Tebet ao Planalto
Se João Doria vencer prévia do PSDB, a senadora pode se tornar vice
A cúpula do MDB decidiu lançar a senadora Simone Tebet (MS) como pré-candidata à sucessão do presidente Jair Bolsonaro na eleição de 2022. O partido e Tebet já discutiam há meses a possibilidade, mas ela queria aguardar o fim da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid para tornar públicas as articulações políticas.
Tebet é a única mulher a se apresentar para a disputa até agora e integra o grupo de desafiantes da chamada terceira via ao Palácio do Planalto. O presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), disse que o anúncio do nome dela será feito ainda neste mês, mas a data não está fechada.
"Vamos oficializar, sim", afirmou Baleia ao Estadão. "Simone tinha pedido para aguardar o final da CPI apenas para não confundir os temas. A ideia amadureceu muito dentro do partido. Já existe hoje um apoio muito grande para o lançamento da pré-candidatura."
Após ocupar o Palácio do Planalto com Michel Temer (2016 a 2018), na esteira do impeachment da então presidente Dilma Rousseff, o MDB quer voltar ao jogo político. Mesmo assim, embora o comando da sigla tente construir uma candidatura como alternativa a Bolsonaro e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), uma ala da legenda é contra essa estratégia.
Os líderes do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (TO), e no Senado, Fernando Bezerra Coelho (PE), defendem o apoio a Bolsonaro. Na outra ponta, senadores como Renan Calheiros (AL) e Jader Barbalho (PA), além do ex-presidente do Senado Eunício Oliveira (CE), são próximos a Lula.
O mandato de Tebet no Senado termina em 2022. Ela tentou duas vezes, sem sucesso, presidir a Casa - a última foi no início deste ano, quando acabou abandonada pelo próprio partido em troca de cargos. Agora, se não for candidata ao Planalto e quiser disputar a reeleição, deverá enfrentar a concorrência da ministra da Agricultura, Tereza Cristina (DEM-MS), que deseja ser senadora pelo Mato Grosso do Sul.
Nos últimos meses, Tebet teve encontros virtuais com representantes do mercado financeiro e participou de grupos de discussão política, como o Direitos Já e o Prerrogativas.
A exposição que ela ganhou ao participar da CPI, onde fez apontamentos importantes, como o que mostrou fraudes nos documentos relativos à compra da vacina Covaxin, é citada como um impulso para sua candidatura.
"A CPI deu conhecimento da qualidade, desenvoltura e do preparo dela, jurídico e político. Fez com que a população soubesse e conhecesse a capacidade e a desenvoltura dela", afirmou o presidente do MDB.
Temer também se manifestou favorável à entrada da senadora no páreo. "Tenho o maior respeito pela Simone. Fui muito amigo do pai dela (Ramez Tebet, ex-presidente do Senado) e acho que ela tem uma posição privilegiadíssima", disse ele, em 27 de setembro, durante participação no programa Roda Vida, da TV Cultura.
O ex-presidente relatou um encontro que teve com a senadora. Ela o procurou em busca de conselhos para a tentativa de ser a terceira via entre Lula e Bolsonaro. "Eu saí da vida pública, mas às vezes a vida pública não sai de você", brincou Temer. "A Simone Tebet me visitou e, muito dignamente, me disse: 'Olha, estou oferecendo meu nome para essa terceira via. Se aparecer outro nome, que seja fruto dessa conjugação, eu saio da história'. Eu sou MDB. Não sou Bolsonaro, nem Lula", completou.
A reunião entre Temer e a senadora foi articulada por Baleia e pelo ex-ministro Carlos Marun. "Eu estive com ela e com o presidente. Conversamos bastante, foi muito agradável. Ele deu boas sugestões e dicas para ela agora, nesse momento de pré-campanha", contou Baleia.
O deputado Alceu Moreira (MDB-RS), presidente da Fundação Ulysses Guimarães - braço de formação política do MDB - também elogiou o nome de Tebet como alternativa para disputar o Planalto. "Ter um projeto como nós temos, o 'Todos Por Um Só Brasil', ter um articulador político, com o tamanho e a compreensão política de Michel Temer, e mais uma candidata em condição de concorrer é, com certeza, a chance de o MDB sentar à mesa com todos os atributos necessários", argumentou Moreira. "Mas muito mais importante do que ser de um partido ou de outro é o centro ter um nome competitivo para ganhar do Lula e do Bolsonaro."
Na prática, nem Tebet nem o MDB descartam abrir mão da pré-candidatura à Presidência para negociar o apoio a um concorrente de outro partido. "Claro que para sentar à mesa você tem de querer apoio, mas também tem de se dispor a apoiar alguém, se for a melhor conjuntura", observou Baleia.
Aliados da senadora citam, por exemplo, a possibilidade de ela ser candidata a vice em uma chapa encabeçada pelo governador de São Paulo, João Doria, caso o tucano vença a prévia do PSDB para a escolha do candidato ao Planalto. Assim como Doria, ela defende o impeachment de Bolsonaro.
O MDB integra o grupo de partidos que tentam construir uma candidatura em comum para enfrentar a polarização entre Lula e Bolsonaro. Fazem parte desse núcleo, ainda, PSDB, Cidadania, PV, Podemos, Novo e Solidariedade. O DEM e o PSL também estão no grupo, mas, com a fusão, passam a se chamar União Brasil.