“Me bota no 'JN'”, provocou Bolsonaro; Bonner disse “não”
Episódio revela agravamento da guerra de nervos entre o presidente da República e o telejornal de maior audiência do País
Ao disparar ataque verbal contra a repórter Laurene Santos, da TV Vanguarda, afiliada da Globo no interior paulista, por ter sido flagrado sem máscara anteriormente, Jair Bolsonaro arrancou o acessório do rosto e fez uma provocação diante da câmera da emissora. “Me bota no ‘Jornal Nacional’ agora. Estou sem máscara. Tá feliz?”
Horas depois, o JN noticiou o episódio, porém, não atendeu ao pedido do presidente. Apesar de ter acesso às imagens, o telejornal não as exibiu. Os âncoras William Bonner e Renata Vasconcellos narraram o fato ao telespectador. Texto lido pela apresentadora chamou Bolsonaro de “descontrolado”.
Não cumprir a incitação do presidente para ser exposto sem máscara no JN foi uma maneira de revidar sua atitude agressiva. Mostrá-lo seria promovê-lo, dar publicidade ao seu discurso. Sob a ótica jornalística, omitir as imagens serviu para puni-lo e, ao mesmo tempo, afrontá-lo. Estratégia para calar o 'inimigo'.
Em várias ocasiões, o Jornal Nacional mostrou o presidente sem máscara em público a fim de reprovar seu comportamento. Mas o telejornal costuma ignorar críticas, ironias e xingamentos ditos por Bolsonaro contra a Globo e seus jornalistas. No máximo, registra a ofensa, jamais conta detalhes ou a leva no ar.
No recente episódio em Guaratinguetá (SP), o presidente chamou o canal carioca de “m*rda” e “canalha”. O Jornal Nacional disse apenas que Bolsonaro “insultou a Globo com palavrões”, sem citá-los. O mesmo aconteceu quando ele xingou Bonner de “maior canalha” e “sem-vergonha” diante de câmeras e celulares. O JN não caiu na provocação.
Apesar de ser diretamente ofendido, William Bonner não responde ao presidente no mesmo tom virulento. Prefere se posicionar de maneira formal, como na nota de repúdio sobre a agressividade contra a repórter da TV Vanguarda. Nas entrelinhas, o âncora e editor-chefe envia recados ao presidente.
E assim continua a guerra de nervos e egos entre o homem mais poderoso do Poder Executivo e a emissora mais poderosa do Quarto Poder. No meio dessa artilharia, o telespectador.