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Política

Militares e 'olavistas' travam disputa por Secom e Apex

Secretaria de Comunicação, dona de um orçamento de R$ 150 milhões, e agência de fomento a exportações viram novo alvo de conflito

3 abr 2019 - 05h10
(atualizado às 07h39)
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BRASÍLIA - O presidente Jair Bolsonaro terá de arbitrar mais uma disputa em sua equipe, após chegar, na noite desta quarta-feira (3) de uma viagem de quatro dias a Israel. Além de reuniões marcadas com presidentes e líderes de partidos no Congresso, na tentativa de apaziguar o ambiente político, Bolsonaro também vai decidir qual será o novo formato da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom).

Nos últimos dias, uma acirrada troca de farpas entre o escritor Olavo de Carvalho e o ministro da Secretaria de Governo, general Carlos Alberto dos Santos Cruz, escancarou a queda de braço sobre os rumos da comunicação do Planalto.

General Carlos Alberto dos Santos Cruz, ministro-chefe da Secretaria de Governo
General Carlos Alberto dos Santos Cruz, ministro-chefe da Secretaria de Governo
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil / Estadão Conteúdo

O embate com o grupo de Olavo também ocorre no Ministério da Educação, onde o titular da pasta, Ricardo Vélez Rodríguez, está por um fio, e na Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex). O presidente da Apex, Mário Vilalva, tem apoio dos militares do governo e está em confronto com diretores próximos do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, homem da confiança do escritor.

Guru ideológico de Bolsonaro, Olavo tenta ampliar cada vez mais sua influência na Esplanada dos Ministérios e em outras repartições federais. Agora, por exemplo, quer a rápida substituição de Floriano Amorim, atual chefe da Secom, pelo empresário Fábio Wajngarten, que acompanhou Bolsonaro na viagem a Israel. Se depender de Santos Cruz, no entanto, Amorim ainda fica, mesmo que seja deslocado para outra função na pasta.

Sob o guarda-chuva da Secretaria de Governo, a Secom tem um orçamento de R$ 150 milhões para este ano e vem fazendo cortes de verbas que desagradam às agências de publicidade. "Em pouco mais de um mês de atividade, organizamos mais de 40 vídeos (para o governo) a preço de salário (de servidor). Isso deve incomodar", disse Floriano ao Estado, na semana passada.

Twitter

Desde domingo, Olavo publicou 19 mensagens no Twitter com ataques a Santos Cruz, que o chamou de desequilibrado em entrevista à Folha de S.Paulo. Disse, por exemplo, que o general "simplesmente não presta" e "jamais" terá a coragem de discutir com ele "cara a cara". Ao eleger o ministro como seu rival, o escritor inseriu nas mensagens exclamações como "Santos Cruzes!".

Mesmo assim, Olavo chegou a postar, na segunda-feira, 1.º, que daria um basta na briga. "Chega, não vou falar mais do caso. Esse homem não merece que eu lhe dirija a palavra", afirmou, após uma sequência de notas ácidas sobre Santos Cruz. Horas depois, porém, voltou a se referir ao ministro com um xingamento. No dia anterior, ele também havia dirigido sua artilharia ao núcleo militar do governo.

"O Santos Cruz e similares chamarão de extremista qualquer um que permaneça fiel aos ideais e valores da campanha que elegeu Bolsonaro. Essa gente está no governo para impedir que o presidente cumpra suas promessas de campanha", escreveu. "O Santos Cruz se acha superior ao presidente e a todos os eleitores - e o louco sou eu, né?"

Na prática, o guru de Bolsonaro aposta no conflito para manter unida a rede de proteção ao governo. Com a queda de popularidade do presidente nas pesquisas, porém, ele começou a responsabilizar Amorim pelo revés sofrido. Discípulo de Olavo, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) também passou a criticar o atual chefe da Secom.

Embora o ministro da Secretaria de Governo tenha se tornado o alvo preferencial dessa ofensiva, outros generais, como o vice-presidente Hamilton Mourão, são hostilizados nas redes sociais pelo grupo de Olavo. Mourão disse ao Estado que, da próxima vez, processará o escritor.

Em entrevista ao jornalista Roberto D'Ávila, na Globonews, Santos Cruz classificou Olavo como "uma personalidade histérica". "É necessário tomar muito cuidado quando (se) está lidando com uma personalidade histérica", argumentou o general. Para ele, as mídias digitais precisam ser usadas com cautela porque, caso contrário, podem trazer problemas.

"Hoje em dia, com essa facilidade de comunicação, você tem de tomar muito cuidado. Porque qualquer um pega aquilo e se acha um William Shakespeare. Então, (com) a facilidade que ele tem de acessar todo mundo, e divulgar a ideia dele, a coisa ficou sem limites. Isso aí traz muita confusão."

Disposto a construir pontes com o Congresso para aprovar a reforma da Previdência, Santos Cruz almoçou nesta terça com senadores do DEM, PR e PSC e se reuniu com o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Ao Estado, o ministro disse não saber os motivos das provocações feitas a ele por Olavo, mas deu a entender que há interesses por trás do bombardeio. "Não tenho explicação sobre a motivação dos tuítes. Melhor perguntar ao interessado", declarou o general.

Diretores perdem poderes em agência de exportação

A disputa na Apex resultou na publicação de uma portaria, assinada pelo presidente do órgão, Mário Vilalva, que retira poderes e atribuições de outros dois diretores.

A portaria é mais um capítulo de uma briga de poder no governo. Vilalva tem chancela dos militares e está em atrito com os outros dois diretores, ligados a Ernesto Araújo, indicado por Olavo de Carvalho.

O imbróglio envolve agora a contratação da montagem de um estande, no valor de cerca de US$ 80 mil, na Milan Design Week 2019, exposição a ser realizada na Itália, neste mês, intermediada pela Agência Terruá.

A diretora de Negócios, Letícia Catelani, e o diretor de Gestão Corporativa, Márcio Coimbra - próximos a Olavo -, se negaram a autorizar o serviço de produção e desmontagem de um "projeto de instalação sensorial", dos irmãos Campana.

O processo de contratação, segundo e-mails aos quais o Estado teve acesso, era conduzido por funcionários do gabinete do presidente da Apex. Diante da recusa dos diretores em cumprir sua ordem, Vilalva editou portaria revogando o poder da dupla de decidir sobre atos de "contratação e dispensa de pessoal", de "representar a Apex em juízo ou fora dele" e de prover cargos comissionados e funções de confiança dentro da agência.

O Estado apurou que Vilalva é sempre emparedado por Letícia e Coimbra, que votam em bloco, e se tornou uma espécie de "rainha da Inglaterra" na Apex. Ele assumiu o cargo após a queda de Alex Carreiro, que também era indicado por Araújo, e durou nove dias na função. Carreiro se desentendeu com Letícia e não falava inglês, uma exigência da vaga. Adversários de Vilalva dizem que ele se aproxima cada vez mais dos militares para tentar substituir Araújo.

Procurada, a Apex afirmou que a contratação para montagem do estande não foi concluída porque não houve renovação do contrato com a agência de comunicação Terruá. Segundo a Apex, a decisão sobre a portaria se deu à "luz de considerações internas".

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