Ministério aciona PF para investigar denúncia de jogos combinados após relato de empresário à CPI
Revelações de depoente na CPI de manipulação de resultados o empresário indicam esquema que envolve árbitros, jogadores e políticos, com operações no Brasil e no exterior
BRASÍLIA - O Ministério da Justiça acionou a Polícia Federal (PF) para investigar indícios de manipulação de jogos no Brasil. O pedido de apuração partiu da Secretaria Nacional de Apostas Esportivas, do Ministério do Esporte, a partir de depoimento do empresário William Rogatto na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Manipulação de Resultados em 8 de outubro.
O Ministério do Esporte sustenta que o empresário William Rogatto contou em depoimento à CPI que a manipulação de jogos ocorre há mais de 40 anos, e que existe um "complexo sistema", que inclui fotos, vídeos, negociações, gravações e conversas envolvendo a manipulação de jogos.
Considerado um dos chefes de esquemas de apostas investigado pela Justiça, Rogatto confessou a manipulação de jogos de futebol no Brasil e disse que ganhou aproximadamente R$300 milhões no esquema, que lucra com o rebaixamento de times.
O empresário declarou-se réu confesso e que foi responsável pelo rebaixamento de 42 equipes de futebol, operando em todas as federações estaduais de futebol do Brasil, além do Distrito Federal e em nove países, incluindo a Colômbia. Ele também mencionou que "em questão de valores movimentados, o esquema de adulteração de partidas fica atrás apenas da política e do narcotráfico".
Rogatto afirmou que o esquema de manipulação dos jogos existe há mais de 40 anos e que a "maior hipocrisia do mundo está em ter um clube de futebol hoje e ser patrocinado por uma casa de apostas".
Jogador se transforma em aposta
Em resposta ao senador Romário (PL-RJ), relator da CPI, o empresário afirmou que o fato de uma casa de apostas patrocinar um clube "já abre um gatilho para que tudo aconteça" e que a partir disso "o jogador se transforma em aposta, ele não recebe um salário digno e a bet vem e dá um suporte."
O relator da CPI sugeriu a Rogatto a realização de uma delação premiada, mas ele disse que apesar de ser "interessante" não garantia a devida proteção, dadas as constantes ameaças que vem recebendo de pessoas envolvidas nesses esquemas.
O senador Eduardo Girão (Novo-CE) defendeu a concessão de medida de segurança a Rogatto, em virtude do teor de suas declarações. Ele perguntou ao empresário se havia a presença de políticos no esquema de manipulação e Rogatto confirmou: "Tem político, vereador, prefeito. O sistema é único e para entrar é preciso de pessoas. Todo mundo gosta de dinheiro. Eu sempre procurei entrar nas secretarias de Esporte."