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Política

Ministro de 64 fala sobre relação de Bolsonaro a 8/1: ‘Dizer que não tem a ver é imbecil'

Ex-ministro de Goulart faz comparação entre a ditadura militar e a tentativa de golpe em janeiro de 2023

31 mar 2024 - 10h19
(atualizado às 10h43)
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Foto: Reprodução/Câmara dos Deputados

Almino Affonso, de 94 anos, é o último membro vivo do governo de João Goulart, onde atuou como ministro do Trabalho e Previdência Social e, posteriormente, como deputado federal. O aposentado viveu o período da Ditadura Militar e fez uma comparação a tentativa de golpe que o Brasil testemunhou em 8 de janeiro de 2023.

Ao Uol, Almino conta que -- diferente do que ocorreu há cerca de um ano -- no golpe militar, a alta cúpula do Exército conspirou ao lado de setores da sociedade civil para derrubar o governo eleito da época e contou com apoio dos Estados Unidos.

Desta vez, com a suposta minuta do golpe e o ataque às sedes dos Três Poderes por parte dos bolsonarista, talvez, houvesse uma tentativa de imitar o ocorrido. “Se alguém disser que Bolsonaro não tem nada a ver com o episódio todo, aquele quebra-quebra [em Brasília], é um imbecil”, ressalta

No entanto, nem sempre o ex-ministro pensou que Jair Bolsonaro (PL) fosse tão perigoso para a democracia. Quando o ex-presidente foi eleito em 2018, Almino afirmou que seria exagero chamá-lo de golpista, durante uma entrevista à Folha de S. Paulo. 

"Ele era ninguém. Literalmente ninguém. Basta dizer que foi deputado num dos períodos em que eu estava na Câmara e nunca o vi lá. Quando fui entrevistado, disse apenas que não havia nenhum elemento para se dizer que ele era golpista”, justificou-se. 

Lembranças do período e fidelidade a Goulart

Almino Affonso foi ministro entre de janeiro e junho de 1963. Quase um ano após deixar a pasta, recebeu um telefonema de Jango. Era dia 1º de abril de 1964, e o presidente convocou uma reunião na Granja do Torto, em Brasília. O presidente estava com o "terno amarfanhado" e a "barba por fazer" e recebeu Tancredo Neves e outros deputados, além do ex-ministro.

A insurgência por parte dos militares já havia corrido os quartéis, e enquanto um manifesto pela democracia era preparado, o general Ladário Telles, que comandava o 3° Exército, avisou que o presidente deveria seguir para Porto Alegre, já que Brasília “se converteria rapidamente numa ratoeira”, conforme a reportagem.

Almiro era líder da bancada da Câmara dos deputados, e acompanhou Jango até o aeroporto. Na saída, ele ouviu de Tancredo a frase que jamais esqueceu: “Faz 10 anos, eu me recordo da reunião do presidente Getúlio Vargas com o ministério e logo mais a tragédia [do suicídio]. Fico a me perguntar se é a última vez também que me despedi do presidente João Goulart”. 

Então, ele respondeu: “Tancredo, para de dizer coisas desajustadas”. “É que você é jovem, não é capaz de perceber que se repetem as coisas”, afirmou Tancredo. 

Já no Congresso, onde foi convocada uma sessão extraordinária convocada pelo presidente do Senado, Auro de Moura Andrade. A circular emitida pelo chefe da Casa Civil, Darcy Ribeiro, informando a eles que João Goulart voava para Porto Alegre foi apresentada. 

“Eu ainda sinto ódio”, afirma Almino ao relembrar o sentimento que o dominou ao ouvir Moura Andrade declarar vaga a Presidência da República, alegando falsamente que Jango havia abandonado o cargo. 

"Canalha! Canalha! Canalha!", gritou Tancredo. Já o deputado Rogê Ferreira rompeu a barreira da guarda pessoal e cuspiu em Moura Andrade. “Foram naquela noite dramática os únicos protestos que pudemos ter”, relata o ex-ministro. 

Enquanto estava exilado entre a Sérvia (antiga Iugoslávia), Chile, Peru e Argentina, no começo do regime militar, chegou o recado de Castello Branco, ditador de 1964 a 1967, de que poderia voltar ao Brasil, mas ele agradeceu e negou. “Disse que não poderia fazer isso enquanto tantos dos meus amigos estavam exilados".

Jango morreu em 1976, na Argentina, quando Almino já havia voltado para o Brasil. Foi ele quem ajudou Maria Teresa Goulart a fazer o enterro em São Borja. "Os militares não queriam nos deixar cruzar a fronteira com o corpo. Nunca me esqueço do Almino, sempre leal, mas dizendo a verdade, sem puxar o saco do Jango”.

Fonte: Redação Terra
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