Ministros militares dizem não ter influência no governo
Walter Braga Netto e Luiz Eduardo Ramos afirmam que não existe 'ala militar' na gestão do presidente Jair Bolsonaro
Com formação e carreira militares, os ministros da Casa Civil, Walter Braga Netto, e da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, buscaram nesta terça-feira, 26, afastar a imagem de que há influência política das Forças Armadas no governo. Apesar de todos os ministros que atuam de maneira mais próxima ao presidente Jair Bolsonaro serem militares, cada vez mais presentes em diversas áreas do governo, Braga Netto disse que não concorda com a ideia de que existe uma "ala militar" na atual gestão.
"As Forças Armadas são instituições de Estado. Não existe ala militar. Você tem militares, com formação militar, que são cidadãos muito bem informados, com valores éticos e morais", afirmou o ministro da Casa Civil. Nesta terça, o Estadão mostrou que ministros militares agora negociam cargos com o Centrão.
Braga Netto também foi questionado sobre ter retratado o governo, na semana passada, como sendo de "centro-direita". Nesta terça, ele mudou para um perfil "conservador liberal". "A minha posição é que esse governo é conservador liberal. Ele é conservador porque se pauta em valores, Deus, família, liberdade, valores éticos e morais, contra a corrupção. Esse é o sentido do conservador. E do liberal pelo liberalismo econômico, do caminho da prosperidade", afirmou o chefe da Casa Civil.
Responsável pela articulação política do Planalto com o Congresso, o ministro Luiz Eduardo Ramos afirmou não ter mais contato direto com o Exército, embora ainda esteja na ativa. "Não há nenhuma ligação de eu estar aqui representando o Exército", disse ele. "Eu estou aqui como cidadão. Não há nenhuma influência política ou o que seja, que esteja sendo ligada ao Exército."
Ao lado dos ministros, estavam outras três autoridades com passagens pelas Forças Armadas: Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia), Tarcísio Freitas (Infraestrutura) e Wagner Rosário (Controladoria-Geral da União). A única civil ali, na entrevista, era a ministra da Agricultura, Tereza Cristina. Sobre ela todos brincaram que só não possuía formação militar porque, naquela época, a formação de mulheres nas Forças Armadas ainda não era permitida. No caso da Marinha, o ingresso na Força foi regulamentado por lei a partir de 1980. No Exército, a primeira turma de formação envolvendo mulheres foi aberta, na Escola de Administração do Exército, em 1992.
Escalada
Nos últimos dias, grupos de oficiais da reserva do Exército divulgaram notas de apoio ao ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, na qual, em tom de ameaça, atacaram o Supremo Tribunal Federal (STF), a imprensa e falam em "guerra civil".
A nota faz parte de uma escalada verbal por parte de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro desde que o decano do STF, ministro Celso de Mello, autorizou a divulgação do vídeo da reunião ministerial de 22 abril e despachou para a Procuradoria-Geral da República (PGR) três notícias-crime, em ato de praxe, para Augusto Aras se manifestar sobre os pedidos feitos por deputados da oposição de apreensão dos celulares do presidente e de seu filho Carlos Bolsonaro.
Na última sexta-feira, o ministro Augusto Heleno, que também é general da reserva, divulgou nota em resposta à decisão de Celso de Mello na qual fala em "consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional". A manifestação de Heleno provocou fortes reações de setores democráticos da sociedade, que enxergaram na nota uma ameaça de golpe.