Motociata de Bolsonaro custará R$ 300 mil aos cofres
Ao final de passeio com apoiadores, presidente saiu em defesa de seus ministros e da minirreforma que promoveu em seu governo na última semana
O presidente Jair Bolsonaro participa na manhã deste sábado, 31, de um passeio de motocicleta com apoiadores em Presidente Prudente, no interior de São Paulo. Em transmissão ao vivo feita nesta manhã, ele aparece com roupas de motoqueiro enquanto cumprimenta apoiadores, sem usar máscara de proteção contra a covid-19. O esquema de segurança para a visita do chefe do Executivo custará mais de R$ 300 mil aos cofres públicos, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo.
Em discurso com apelo religioso, Bolsonaro saiu em defesa de seus ministros nesta manhã e voltou a sustentar a necessidade de mudanças no atual sistema de votação, defendendo "eleições limpas, da forma que o povo deseja". Nos últimos dias, o presidente promoveu uma minirreforma ministerial, que teve como principal mudança a inclusão do então senador Ciro Nogueira (PP) na Casa Civil, e tem tentado elevar o tom das acusações de fraude ao atual sistema de votação, mas falha em apresentar uma prova sequer. Não há indício de fraude comprovada no sistema de votação vigente.
"Não aceitaremos uma farsa", acrescentou Bolsonaro a uma plateia de apoiadores, sem se aprofundar na questão do voto impresso. Ao lado do palanque onde discursava, no entanto, havia um outdoor com a frase "Voto impresso auditável".
"O soldado que vai à guerra e tem medo de morrer é um covarde. Jamais temerei alguns homens. A vontade do Brasil é a vontade de Deus e a vontade aqui na terra é a vontade de cada um de vocês", disse o presidente. "Nunca o Brasil teve um time de ministros como, graças a Deus, eu tenho, escolhidos pelo critério técnico e cada vez mais cada um deles vem dizendo a que veio", completou, antes de a transmissão ao vivo ser encerrada.
Na última quinta-feira, 29, o presidente protagonizou uma live anunciada como "bombástica", em que supostamente apresentaria provas de fraudes nas eleições. A transmissão, baseada em fake news já desmentidas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acabou por fragilizar ainda mais a narrativa do Palácio do Planalto contra a urna eletrônica.
Durante a transmissão de mais de 2 horas, o chefe do Executivo repetiu ataques ao TSE e ao presidente da Corte, ministro Luís Roberto Barroso, e admitiu não ter provas, apenas "indícios" de fraude. Veja aqui a checagem do Estadão Verifica sobre as acusações do presidente.
O evento de hoje acontece às vésperas de atos pró-voto impresso, convocados por apoiadores do presidente como resposta às frequentes manifestações de opositores ao governo.
Viagem a Presidente Prudente
De acordo com nota do governo estadual, a Polícia Militar montou um esquema especial de policiamento para garantir a segurança do ato em Presidente Prudente, além da fluidez do trânsito e do "o direito à livre manifestação". O efetivo conta com cerca de 450 policiais militares ao longo do percurso da visita, incluindo monitoramento por drones e pelo helicóptero Águia da região.
A efeito de comparação, a última motociata do presidente em São Paulo, realizada no dia 12 de junho na capital e na região de Jundiaí, custou R$ 1,2 milhão. Naquele dia, foram escalados mais de 6,3 mil policiais. Na ocasião, por ter descumprido decreto estadual e não ter usado máscara, o presidente foi multado em R$ 552,71.
Ao meio-dia, está prevista uma visita de Bolsonaro ao Hospital de Esperança, antigo Hospital Regional do Câncer, na cidade. O hospital será oficialmente credenciado ao Sistema Único de Saúde (SUS). Às 14h, segundo consta em sua agenda oficial, o presidente terá um encontro com prefeitos de Mato Grosso do Sul, do Paraná e de São Paulo. O retorno a Brasília está marcado para às 15h35.
Um evento para o presidente que estava previsto para acontecer na cidade foi proibido pela Justiça na última quarta-feira, 28. A recepção, que reuniria duas mil pessoas no Recinto de Exposições de Presidente Prudente, havia sido autorizada por decreto pela prefeitura, mas foi derrubada pelo juiz Darci Lopes Beraldo. Ele acatou a uma ação movida pelo Ministério Público estadual, alegando que a realização contrariava as regras sanitárias de prevenção à pandemia do novo coronavírus.
No último dia 13, o prefeito Ed Thomas (PSB) havia assinado decreto permitindo 1.200 pessoas na recepção ao presidente. Depois, aumentou para duas mil. A cidade é sede da União Democrática Ruralista (UDR), que durante muitos anos foi presidida pelo atual secretário de Assuntos Fundiários do governo federal, Luiz Antonio Nabhan Garcia.
As motociatas são os eventos em que Bolsonaro busca se conectar à base mais fiel de apoiadores. A última aconteceu no dia 10, em Porto Alegre, poucos dias antes de o presidente ser internado por uma obstrução no intestino. Anteriormente, o presidente havia liderado o comboio de motociclistas em Chapecó (SC), em São Paulo, no Rio e em Brasília. / COM BRENDA ZACHARIAS, CÁSSIA MIRANDA E FABRÍCIO DE CASTRO