MP investiga se Rogério de Andrade mandou matar Marielle
A proximidade entre o contraventor e o policial militar aposentado Ronnie Lessa foi o ponto de partida para a investigação
O contraventor Rogério Andrade, ligado ao esquema irregular de apostas conhecido como "jogo do bicho", passou a ser investigado como possível mandante do assassinato da vereadora Marielle Franco em 2018, informou nesta terça-feira o Ministério Público do Rio de Janeiro. Andrade é um dos denunciados pela Operação Calígula.
A proximidade entre o contraventor e o policial militar aposentado Ronnie Lessa, que está preso desde 2019 acusado de executar Marielle, foi o ponto de partida para a investigação, segundo o MP.
Lessa era segurança de Andrade e posteriormente se tornou sócio dele em negócios ilegais. Os dois foram alvos de uma grande operação da polícia e do MP, nesta terça-feira, que mirou uma quadrilha que explora jogos de aposta e bingos clandestinos no Rio e em Estados do Nordeste e do Sul do país.
Ao menos 14 pessoas foram presas, entre elas dois delegados de polícia. Na casa de uma delegada foram apreendidos mais de 1,7 milhão de reais em espécie.
Andrade e o filho dele, acusados de serem os cabeças do esquema, não foram encontrados e estão foragidos, segundo o MP.
"Há um vínculo histórico entre ele (Andrade) e o executor (Lessa). Rogério Andrade é um suspeito óbvio", afirmou o promotor Diogo Erthal em entrevista a jornalistas.
"Também há outras linhas sendo investigadas, mas essa é uma das linhas mais fortes... e não há elementos para descartar essas possibilidade ", acrescentou.
Segundo o MP, Lessa e Andrade mantiveram contato permanente após a morte de Marielle e do motorista Anderson Gomes em um atentado a tiros em março de 2018. Além de Lessa, a polícia também prendeu o ex-policial militar Élcio de Queiroz por suspeita de envolvimento no assassinato.
O MP obteve, após a quebra de sigilos, conversas entre o PM aposentado e o contraventor. Ambos tinham planos para abrir casas de apostas e bingos clandestinos em bairros da zona oeste da cidade, mesma região de atuação e militância da então vereadora do PSOL.
"O que chama atenção é a proximidade entre os fatos (morte de Marielle e negócios de jogos de aposta). Há um vínculo de confiança muito grande entre eles num momento concomitante ao crime", acrescentou o promotor.
O advogado Ary Bergher, que defende Andrade, disse que a hipótese levantada pelo o MP "chega a ser ridícula".
"Infelizmente, em vez de criar factoides, já deveriam os responsáveis, depois de tantos anos, terem apresentado os mandantes dessa brutalidade", afirmou.