Na mira da PF, Bolsonaro usa redes para exibir apoio popular, 'vida normal' e críticas a Moraes
Enquanto cortava cabelo em São Miguel dos Milagres, ex-presidente disse que inquérito do golpe é 'procurar chifre na cabeça de cavalo'
BRASÍLIA - Sob a pressão de um inquérito que pode render, no futuro, até 28 anos de prisão, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tem usado os dias na praia em Alagoas para reagir à sua maneira. Indiciado pela Polícia Federal por tentar um golpe de Estado, Bolsonaro passou a reexibir apoio popular nas ruas, inúmeros pedidos por selfies e uma "vida normal", com pescaria, idas a barbearia e mercados e reiteradas críticas ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
A publicação mais recente nas redes do ex-presidente é um vídeo com trilha sonora e bordas de coração na qual ele é cortejado por crianças e adultos em São Miguel dos Milagres, no litoral alagoano. "O presente é deles, mas o futuro é nosso. Com o povo, pelo povo, enquanto assim o povo quiser", diz a mensagem que acompanha o vídeo.
Com o ex-ministro do Turismo Gilson Machado a tiracolo, o ex-presidente foi a uma barbearia na manhã deste sábado, 23. Enquanto era atendido, prontificou-se a responder a perguntas para uma transmissão ao vivo nas redes sociais do aliado. Bolsonaro aproveitou para criticar Moraes e a investigação que indiciou ele e mais 36 pessoas por crimes como tentativa de golpe de Estado e de abolição do Estado Democrático de Direito.
"É um absurdo essa história do golpe. Golpe com um general da reserva e quatro oficiais? Pelo amor de Deus. Quem estava coordenando isso? Cadê a tropa? Cadê as Forças Armadas? Não fique botando chifre em cabeça de cavalo", afirmou.
O ex-presidente saiu em defesa dos presos na Operação Contragolpe, da PF, na última terça-feira, 19. Para o político, as prisões decretadas por Alexandre de Moraes são injustas. "Não se encontra um só respaldo da lei que fala da preventiva para prender esses quatro oficiais", comentou.
Bolsonaro viajou para São Miguel dos Milagres, no litoral de Alagoas, na quarta-feira, 20, um dia depois da prisão de quatro oficiais do Exército e de um policial federal suspeitos de operacionalizarem um plano para matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice Geraldo Alckmin (PSB), e o ministro Alexandre de Moraes.
Apesar do pretexto de dias de descanso na casa de veraneio de seu ex-ministro do Turismo, Bolsonaro tem percorrido as ruas da cidade para um sem fim de fotos e interações com apoiadores. Tudo é exibido nas redes sociais. Também tem falado a emissoras locais, e seus aliados tratam de distribuir os conteúdos das entrevistas.
"Alexandre de Moraes fala o tempo todo que a direita não pode continuar crescendo. Ele persegue a direita o tempo todo", afirmou em entrevista à Maragogi FM. "Não acredito nessa historinha de golpe. Ninguém viu um soldado sequer na rua, um tiro, nada. Moraes fica inventando narrativa com sua polícia criativa. Iam sequestrar Lula, Alckmin e Moraes para depois envenenar? Ah, vai plantar batata. Para de perseguir as pessoas por interesse pessoal."
O ex-presidente tem abordado outros temas nos vídeos e entrevistas, como críticas ao governo Lula e brincadeiras com apoiadores. Ao aparecer com a barba por fazer, disse que era um pedido da esposa, Michelle, e que faria propaganda para o estabelecimento para o corte de cabelo sair de graça. "Estou ficando mais bonito ainda, se é que é possível", brincou.