"Não vi nada", diz Eduardo sobre oferta de cargos e verbas
Governo pagou volume recorde de emendas parlamentares e recursos extras para obras com objetivo de emplacar aliados no Congresso
O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente da República Jair Bolsonaro, disse não ter visto a destinação de verbas e emendas pelo Palácio do Planalto ao parlamento, com a finalidade de angariar votos para o candidato ao comando da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
"Eu não vi nada disso. Mas como eu falei, pouco importa essas questões, eu quero saber de eleger um presidente (Câmara) que não vai deixar caducar as medidas provisórias. Um presidente que vai pautar as matérias que estiveram no centro das eleições de 2018. Isso é o que eu quero saber", afirmou Eduardo nesta segunda-feira, 1º, dia da eleição da Câmara.
Como o Estadão/Broadcast revelou, Bolsonaro pagou um volume recorde de emendas parlamentares em janeiro. No total, foram destinados R$ 504 milhões para redutos eleitorais de deputados e senadores até o último dia 26, conforme a indicação de congressistas. Além disso, destinou R$ 3 bilhões para 250 deputados e 35 senadores aplicarem em obras em seus redutos eleitorais.
Eduardo disse que cabe à Procuradoria-Geral da República (PGR) apurar se houve qualquer irregularidade nos repasses. "Estamos aí fazendo parte do jogo político. Fico até feliz que o Planalto tenha se posicionado mais, porque parece que faltou isso na eleição de 2019 da presidência da Câmara", afirmou.
O filho do presidente disse ainda não ver contradição entre as críticas feitas pela família Bolsonaro ao Centrão durante a campanha de 2018 e o apoio ao líder do grupo agora. "O governo faz suas articulações, tem diálogo aberto com o Congresso Nacional. Se o Brasil estiver funcionando, é o que interessa. Não tem o que eu ache ou o que eu deixe de achar", disse.
Mesmo com o crescimento da pressão pela abertura de um processo de impeachment contra Bolsonaro, o deputado rechaçou a possibilidade. "Precisa de um requisito básico, que é baixa popularidade. Só o presidente Jair Bolsonaro consegue andar de cabeça erguida no meio do povo. Nem todos os outros que têm pretensão para 2022 conseguem fazê-lo. Notoriamente, o governador (de São Paulo) João Doria não tem moral para sair na rua, quanto mais para pedir impeachment", disse.
Presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara em 2019, Eduardo foi apontado como um dos responsáveis pela piora na relação entre Brasil e China, cujas consequências seriam atrasos na importação de insumos do país asiático para a produção da vacina contra a covid-19.
O deputado, no entanto, negou que tenha atrapalhado as negociações. "Claro que não. Será que a relação entre dois países, a China, nosso principal parceiro econômico, se resumiria às minhas palavras? Acho que eu não sou tão poderoso assim, não."
Sobre Arthur Lira, Eduardo Bolsonaro disse acreditar que ele terá compromisso com os projetos de interesse do governo. "A gente procura conversar com os candidatos à presidência para que eles não sabotem o governo. Só isso. O compromisso é pautar os projetos", disse.
Segundo ele, porém, esse alinhamento não significa submissão aos interesses do Planalto, disse o deputado. "De maneira nenhuma, até porque acredito que nenhum candidato se permitiria a isso daí. Isso faz parte do passado, lembrando aí o mensalão do governo Lula, que aí sim a Câmara foi um puxadinho do Planalto."
Sobre a possibilidade de que Maia dê aval à abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar os atos do governo durante a pandemia do novo coronavírus e o colapso do sistema de saúde em Manaus (AM), o deputado repetiu o discurso do governo sobre os repasses de recursos ao Estado.
"Só se for pra investigar os repasses bilionários que o governo fez aos Estados. E alguns Estados infelizmente acabaram desviando, como se tem comprovado através de operações da Polícia Federal. Mas, ainda assim, o que a gente precisa nessa pandemia é levar tranquilidade. Vacinar todo mundo, aqueles que desejaram, de maneira não obrigatória, e ir destravando o País, porque ninguém aguenta mais lockdown em cima de lockdown", disse.