Nem Bolsonaro nem Lula: qual é a maior força política na região do agro em SP?
Entre sete municípios com maior valor da produção agropecuária e com pesquisas registradas na Justiça Eleitoral, siglas do chamado Centrão são favoritas em cinco; apenas em duas cidades há polarização entre candidatos de Lula e Bolsonaro
Enquanto a polarização entre os candidatos apoiados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) domina a disputa em São Paulo, o cenário no interior do Estado é diferente. Nas principais cidades do agronegócio paulista, são os partidos do Centrão que lideram as pesquisas de intenções de voto. Entre os sete municípios com maior valor da produção agropecuária (VPA) e com pesquisas registradas na Justiça Eleitoral, o Centrão é favorito em cinco, ao passo que somente duas cidades apresentam uma polarização entre petismo e bolsonarismo.
Localizada a 440 quilômetros da capital, São José do Rio Preto é um exemplo da força do Centrão no interior de São Paulo. Com 480 mil habitantes e um orçamento de R$ 3,3 bilhões previsto para 2025, a cidade é governada há oito anos por Edinho Araújo, do MDB, partido do ex-presidente Michel Temer. De acordo com pesquisa encomendada pelo SBT, o candidato da situação, Itamar Borges (MDB), e o ex-prefeito Valdomiro Lopes (PSB) estão tecnicamente empatados na primeira posição, com 30,3% e 30,1% das intenções de voto, respectivamente. O levantamento foi feito pela Sinfor Consultoria, entre 6 e 8 de setembro, e registrado na Justiça Eleitoral com o código SP-03988/2024.
Filho de um ex-prefeito de São José do Rio Preto, Lopes é um típico representante da elite política local. Médico por formação, foi prefeito da cidade por dois mandatos (2009-2016) e já passou por quatro partidos, incluindo o Progressistas, do senador Ciro Nogueira (PI) e do deputado Arthur Lira (AL). Já Borges iniciou sua carreira política em Santa Fé do Sul, onde foi vereador e prefeito. Advogado, é deputado estadual desde 2011. Atualmente, Borges conta com o apoio de 12 partidos, incluindo o Republicanos, do governador Tarcísio de Freitas, em sua campanha para governar Rio Preto.
A disputa entre os dois representantes da elite política de São José do Rio Preto acabou empurrando o candidato do PL, coronel Fábio Cândido, e o candidato do PT, Marco Rillo, para a segunda e terceira posições na pesquisa do SBT, com 14,2% e 8,8% das intenções de voto, respectivamente. Nem a visita de Jair Bolsonaro à cidade, dividindo palanque com Cândido, nem a campanha feita pelo filho do ex-presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL), nas redes socais foram suficientes para impulsionar o desempenho do militar nas pesquisas.
O professor de teoria política Paulo Nicolli Ramirez, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), conta que o cenário observado no interior do Estado reflete uma questão histórica, em que as elites locais mantêm sua hegemonia independentemente do regime político ou do presidente da República. "Os partidos, nesse caso, servem apenas como fachada, já que no Brasil predomina o personalismo. Isso significa que a instituição partidária tem menos importância do que a figura pessoal que angaria os votos. No interior de São Paulo, esse fenômeno é ainda mais acentuado", diz o professor.
Segundo Ramirez, o personalismo no interior se manifesta por meio de um poder oligárquico, no qual as elites locais se adaptam de forma flexível ao cenário político. Quando há polarização, geralmente ocorre através de representantes locais que aproveitam o momento para manter seu poder. "Se for para apoiar a redemocratização, eles apoiam, mas com o objetivo de preservar seus privilégios", afirma Ramirez. Ele cita Raymundo Faoro para reforçar que "as transformações políticas no Brasil são superficiais, servindo mais para manter privilégios do que para promover mudanças sociais profundas."
Embate semelhante em Barretos
Região com o maior valor da produção agropecuária do Estado, estimado em R$ 8,4 bilhões em 2023, Barretos enfrenta uma situação semelhante à de São José do Rio Preto. Localizada a 425 quilômetros da capital, a cidade é governada por Paula Lemos, do PSD de Gilberto Kassab. Primeira mulher a comandar Barretos, Paula decidiu não disputar a reeleição por questões familiares. Raphael Oliveira (PP) é o favorito para vencer a eleição, com 44,5% das intenções de voto, segundo levantamento da VOX Brasil (SP-08418/2024, realizado entre 22 e 23/8), seguido por Odair Silva (Republicanos), com 19,8%.
Tanto Oliveira quanto Silva são filiados a partidos do Centrão e representam a elite local, enquanto os partidos de Lula e Bolsonaro não lançaram candidatos próprios em Barretos. Presidente estadual do PP em São Paulo, o deputado Maurício Neves relata que, desde o início de 2023, o partido tem formado alianças com outras forças, o que contribuiu para o favoritismo de Oliveira em Barretos. Neves também destaca que, para as eleições deste ano, o PP planeja eleger de 50 a 60 prefeitos no Estado, com foco na qualidade dos candidatos em vez da quantidade de nomes eleitos.
Embora o PL não tenha um candidato próprio em Barretos, a força do bolsonarismo na cidade é evidente. No ano passado, Bolsonaro foi homenageado na tradicional Festa do Peão e, em 2022, recebeu 62,8% dos votos na disputa presidencial contra Lula, que marcou 37,2%. Em uma entrevista ao Estadão, a prefeita Paula Lemos admitiu que a influência de Bolsonaro poderia impactar a disputa na cidade. Já o PT, que nunca elegeu um prefeito em Barretos, perdeu o único vereador que tinha na Câmara Municipal para o PL.
PSD de Kassab lidera em Ribeirão Preto
Conhecida como a "capital do agronegócio", Ribeirão Preto é mais uma cidade onde um candidato do Centrão lidera nas intenções de voto. A disputa no município, que tem 698,6 mil habitantes e um orçamento previsto de R$ 5,1 bilhões para 2025, colocou em confronto dois importantes caciques políticos nacionais: Gilberto Kassab (PSD) e Baleia Rossi (MDB). Kassab apoia o deputado Ricardo Silva (PSD), enquanto Rossi lançou, em outubro do ano passado, Igor Oliveira como pré-candidato do MDB à prefeitura.
Em junho deste ano, Igor Oliveira chegou a alcançar 19,3% das intenções de voto, segundo levantamento da Paraná Pesquisas (SP-06123/2024). No entanto, sem o apoio de outros partidos, o emedebista retirou sua candidatura, e o MDB passou a apoiar Ricardo Silva, indicando o vereador Alessandro Maraca (MDB) como vice na chapa. A candidatura de Silva conta com o apoio de nove partidos, incluindo Republicanos, PP, PL e Solidariedade. Atualmente, a cidade é governada por Duarte Nogueira (PSDB), que, por estar em seu segundo mandato, não pode concorrer nesta eleição.
Também conhecida por sediar a Agrishow, a maior feira de agronegócio da América Latina, a disputa em Ribeirão Preto segue o padrão de outras cidades do interior, onde o candidato do PT ficou para trás, enquanto o PL optou por apoiar um representante da elite política local. Segundo pesquisa da Quaest, Ricardo Silva lidera com 46% das intenções de voto, seguido por Jorge Roque (PT), com 9%, e Marco Aurélio (Novo), com 6%. A pesquisa foi realizada entre os dias 24 e 26 de agosto e registrada na Justiça Eleitoral sob o protocolo SP-06854/2024.
Em Presidente Prudente, localizada a 160 quilômetros da capital, o atual prefeito, Ed Thomas (MDB), busca a reeleição, mas está atrás de Milton Carlos de Mello (Republicanos) e Paulo Lima (PSB), segundo pesquisa encomendada pelo SBT (SP-04011/2024, feita pelo instituto Sinfor Consultoria e Pesquisa, entre 30 de agosto e 1º de setembro). O levantamento aponta Mello na liderança com 37,4%, seguido por Lima (15,2%) e Thomas (5,3%). Assim como em outras cidades, nem o PT nem o PL lançaram candidatos próprios em Presidente Prudente, que possui 225,6 mil habitantes e ocupa o terceiro lugar no ranking de VPA elaborado pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA) do governo estadual.
Já o prefeito de Franca, Alexandre Ferreira (MDB), enfrenta uma situação oposta à de seu correligionário. Candidato à reeleição, ele é considerado o favorito, com 39,5% das intenções de voto, segundo levantamento da Ágili Pesquisas (SP-00277/2024, entre 17 e 20 de junho). A cidade, com 352,5 mil habitantes e um orçamento previsto de R$ 1,6 bilhão para 2025, tem como principais adversários de Ferreira o candidato do PL, João Rocha, com 17,4%, e o candidato do PSOL, Guilherme Cortez, com 6,8%.
Araraquara e Catanduva têm polarização entre PT e PL
Entre as cidades com maior valor da produção agropecuária e com pesquisas registradas na Justiça Eleitoral, apenas Araraquara, a 276 quilômetros da capital, e Catanduva, a 195 quilômetros de São Paulo, apresentaram uma polarização entre os partidos de Lula e Bolsonaro. Com um orçamento previsto de R$ 2 bilhões para 2025 e uma população de 242,2 mil habitantes, Araraquara é governada por Edinho Silva (PT) desde 2017. Agora, o petista tenta eleger sua sucessora, Eliana Honain (PT), que lidera com 40% das intenções de voto, segundo pesquisa do Real Time Big Data (SP-07458/2024, entre 11 e 12 de setembro). Logo atrás está o candidato do PL, Doutor Lapena, com 31%.
Em Catanduva, o candidato bolsonarista e atual prefeito, Padre Osvaldo (PL), está à frente nas intenções de voto, com 34,7%, contra 30,4% do candidato da oposição, a petista Beth Sahão, segundo pesquisa realizado pelo instituto Sinfor Consultoria e Pesquisa e encomendada pelo SBT (SP-05466/2024, entre 16 e 17 de agosto).