Nova Ministra do Turismo teve apoio eleitoral de miliciano condenado por homicídio
Daniela Carneiro teve apoio eleitoral de ex-vereadora casada com Juracy Prudêncio, condenado e preso sob acusação de chefiar uma milícia; Daniela minimiza proximidade com a família
Esposa de Juracy Alves Prudêncio, o Jura, condenado e preso por chefiar uma milícia na Baixada Fluminense há pelo menos quatro anos, a ex-vereadora Giane Prudêncio fez campanha eleitoral em 2018 e 2022 para a deputada Daniela Carneiro, nomeada ministra do Turismo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A relação tem sido apontada como sinal de proximidade de Daniela e do marido, o prefeito de Belford Roxo, Wagner Carneiro, o Waguinho (ambos do União Brasil) com o miliciano. O casal de políticos se ligou ao PT no ano passado. A ministra, em nota, minimizou sua eventual relação política com Jura, que foi contratado na prefeitura na gestão Waguinho.
Com 213.706 votos, Daniela Moté de Souza Carneiro também é conhecida como Daniela do Waguinho. Foi a deputada federal mais votada do Rio no ano passado. Na campanha eleitoral de 2022, apoiou, com Waguinho, a candidatura de Lula na Baixada Fluminense.
O apoio do prefeito foi conquistado pelo PT após uma disputa com o presidente Jair Bolsonaro (PL). Nas redes sociais, Giane aparece ao lado da nova ministra em atos da campanha para a Câmara dos Deputados. A ´proximidade de Giane e Daniela foi revelada pela "Folha de S. Paulo".
Jura cumpre pena de 26 anos de prisão — atualmente, em regime semiaberto — pelos crimes de associação criminosa e homicídio. O miliciano chegou a ser nomeado na prefeitura de Belford Roxo para um cargo comissionado na Secretaria Municipal de Defesa Civil e Ordem Urbana em agosto de 2017. No período, Waguinho já estava no comando do Executivo Municipal.
O ex-PM foi autorizado pela Vara de Execuções Penais (VEP) a trabalhar, fora do presídio, como Diretor do Departamento de Ordem Pública da prefeitura. Menos de um ano após a nomeação, a Justiça proibiu o ex-sargento da PM de sair da cadeia para trabalhar e visitar a família. Havia suspeita de fraudes em suas folhas de ponto na Prefeitura de Belford Roxo.
De acordo com a juíza Beatriz de Oliveira Monteiro Marques, "quando logrou usufruir de saídas extramuros, o reeducando não demonstrou o senso de autodisciplina, responsabilidade e comprometimento indispensáveis à regular tramitação de sua execução, uma vez que não desempenhou com afinco a tarefa que lhe foi delegada".
Ministra minimiza relação
Por nota, a ministra do Turismo minimizou sua ligação com Jura, sem citá-lo:
"A ministra do Turismo, Daniela Carneiro, durante sua campanha, em 2018, recebeu apoio em diversos municípios.
Ela ressalta que o apoio político não significa que ela compactue com qualquer apoiador que porventura tenha cometido algum ato ilícito. Daniela Carneiro salienta que compete à justiça julgar quem comete possíveis crimes.
Quanto às nomeações na Prefeitura de Belford Roxo, a ministra enfatiza que não tem nenhuma ingerência, pois o ato é de competência exclusiva do Poder Executivo".
Em nota, a defesa de Jura, representada por Luan Palmeira e Victor Martins, diz que o ex-policial militar "não nutre qualquer vínculo com atividades criminosas" e que Giane é "política de grande estima", "jamais teve seu nome envolvido em qualquer ato de promiscuidade no desempenhar da vida pública".
"A pretensa proximidade entre Juracy e Giane Jura com Daniela do Waguinho não possui o condão de arranhar a reputação da ministra do Turismo", disse.
O Estadão procurou Giane Prudêncio, mas ainda não teve resposta.