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Política

'Nunca igualei os dois países, a Rússia errou ao invadir a Ucrânia', diz Lula em Portugal

Ainda não há data para a visita, segundo ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macêdo, que citou "questões de segurança".

22 abr 2023 - 09h59
(atualizado às 10h21)
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Lula foi recebido com honras militares pelo presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, no Mosteiro dos Jerônimos, em Lisboa
Lula foi recebido com honras militares pelo presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, no Mosteiro dos Jerônimos, em Lisboa
Foto: Ricardo Stuckert/Presidência / BBC News Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou neste sábado em Lisboa que "nunca igualou" Rússia e Ucrânia, e que "todos sabemos que a Rússia errou ao ter invadido a Ucrânia".

"Nunca igualei os dois países. Todos nós achamos que a Rússia errou por ter invadido a Ucrânia. (...) A guerra entre Rússia e Ucrânia não está fazendo bem à humanidade. E está fazendo mal até no Brasil. Quero escolher uma terceira via, para a construção da paz", disse Lula a jornalistas no Palácio de Belém, residência oficial do presidente português.

Lula já havia criticado no início desta semana a invasão russa à Ucrânia em encontro com o presidente da Romênia, Klaus Iohannis, em Brasília, mas esta é até agora a declaração mais forte contra Moscou.

O petista lembrou que o Brasil votou na ONU (Organização das Nações Unidas) pela condenação à Rússia pela invasão da Ucrânia, assim como Portugal.

Questionado, no entanto, por uma jornalista de Portugal se mantém suas declarações sobre a Ucrânia, equiparando o país à Rússia e atribuindo o prolongamento do conflito à União Europeia e aos Estados Unidos, Lula afirmou que "se você não faz a paz, você contribui para a guerra".

Sobre o envio do ex-chanceler Celso Amorim à Ucrânia, Lula disse que não viajou ao país, nem à Rússia. E que só vai aos dois países quando houver uma possibilidade concreta para a paz.

A informação sobre o envio de Amorim à Ucrânia havia sido antecipada a jornalistas na noite de sexta-feira (21/4) pelo ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macêdo, depois de ele se encontrar com representantes da Associação dos Ucranianos em Portugal a pedido de Lula.

A entidade escreveu uma carta de protesto pelas declarações de Lula, à qual a BBC News Brasil teve acesso.

No documento, os ucranianos dizem que as declarações do presidente brasileiro "nos deixaram muito preocupados e apreensivos".

"Consideramos que qualquer tipo de apoio que o Brasil possa conferir à Federação Russa será desprestigiante, levará a uma desconfiança da comunidade internacional, incluindo acerca da sua posição no Conselho de Segurança da ONU", diz a carta.

"Ninguém quer ver o bom nome do Brasil, enquanto nação democrática e livre, manchado como aliado do regime criminoso do Kremlin, pelo que as recentes declarações de Vossa Excelência nos deixaram muito preocupados e apreensivos".

Lula está em Portugal em viagem oficial. Ele permanece no país até terça-feira (25/4). Em seguida, segue à Espanha, de onde volta ao Brasil na noite de quarta-feira (26/4).

Neste sábado, ele foi recebido com honras militares no Mosteiro dos Jerônimos pelo presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, e participou de uma cerimônia de deposição floral no túmulo do poeta Luís de Camões, que está enterrado no local.

Em seguida, teve encontros com Sousa. Depois, vai almoçar com o primeiro-ministro de Portugal, António Costa, e mais tarde vai abrir a 13ª Cúpula Brasil-Portugal, a mais importante entre os dois países, que já não acontece há sete anos.

Na sequência, participa da cerimônia de assinatura de atos nas mais diversas áreas, como energia, geologia, produção audiovisual, turismo, saúde e direitos humanos.

Ex-chanceler Celso Amorim é assessor especial da Presidência
Ex-chanceler Celso Amorim é assessor especial da Presidência
Foto: Agência Brasil / BBC News Brasil

Polêmica

A visita de Lula a Portugal acontece em meio à repercussão negativa das declarações do brasileiro sobre a guerra na Ucrânia.

Membro da União Europeia e da Otan, a aliança militar ocidental, Portugal tem declarado apoio aberto ao país invadido pela Rússia e chegou, inclusive, enviar tanques Leopard a Kiev.

As críticas não só vieram da associação de ucranianos em Portugal, mas também de partidos de oposição.

Em visita recente aos Emirados Árabes Unidos, onde fez uma parada depois de sua viagem à China, o petista atribuiu aos EUA e à União Europeia, a responsabilidade pelo prolongamento da guerra na Ucrânia.

"O presidente [Vladimir] Putin não toma a iniciativa de parar. [Volodymyr] Zelensky não toma a iniciativa de parar. A Europa e os Estados Unidos continuam contribuindo para a continuação desta guerra", disse.

No início do mês, Lula já havia afirmado que a Ucrânia poderia ceder a Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, em nome da paz.

Após a polêmica, o petista condenou a invasão russa da Ucrânia.

"Ao mesmo tempo em que meu governo condena a violação da integridade territorial da Ucrânia, defendemos uma solução política negociada para o conflito", disse Lula em encontro com o presidente da Romênia, Klaus Werner Iohannis nesta semana.

Não foi apenas em Portugal que as falas de Lula sobre a guerra na Ucrânia foram mal recebidas.

John Kirby, coordenador de comunicação estratégica do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, nos Estados Unidos, chamou a postura do presidente brasileiro de "repetição automática da propaganda russa e chinesa" e "profundamente problemática".

"É profundamente problemático como o Brasil abordou essa questão de forma substancial e retórica, sugerindo que os Estados Unidos e a Europa de alguma forma não estão interessados na paz ou que compartilhamos a responsabilidade pela guerra", disse ele em conversa com jornalistas.

"Francamente, neste caso, o Brasil está repetindo a propaganda da Rússia sem olhar para os fatos", acrescentou.

Para Kirby, "os comentários mais recentes do Brasil de que a Ucrânia deveria considerar ceder formalmente a Crimeia como uma concessão pela paz são simplesmente equivocados, especialmente para um país como o Brasil que votou para defender os princípios de soberania e integridade territorial na Assembleia-Geral da ONU".

O porta-voz para Assuntos Externos da União Europeia, Peter Stano, também rebateu as falas de Lula sobre a guerra, destacando que a Rússia é a "única responsável" pelo conflito.

"O fato número um é que a Rússia — e apenas a Rússia — é responsável pela agressão ilegítima e não provocada contra a Ucrânia. Então não há dúvidas sobre quem é o agressor e quem é a vítima", disse Stano, lembrando que o Brasil condenou a invasão da Ucrânia na ONU (Organização das Nações Unidas).

Stano acrescentou que EUA e EU não estão contribuindo para prolongar a guerra, mas ajudando Kiev em sua legítima defesa.

"Caso contrário, a Ucrânia enfrentaria a destruição. A nação ucraniana e a Ucrânia como país seriam destruídos porque estes são os objetivos declarados da guerra de Putin", afirmou.

O mal-estar se agravou ainda mais com a viagem oficial do ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, a Brasília no início desta semana.

Uma das propostas do governo Lula é a criação de um "clube da paz", fórum de países que Brasília considera como não alinhados a nenhum dos lados do conflito para mediar as negociações entre Kiev e Moscou.

Na terça-feira (18/4), o governo da Ucrânia, por meio do porta-voz de sua chancelaria, Oleg Nikolenko, voltou a convidar Lula a visitar Kiev.

Em postagem no Facebook, Nikolenko afirmou que deseja que o brasileiro compreenda "as verdadeiras causas da agressão russa e suas consequências para a segurança global".

Lula já havia sido convidado pelo presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, no mês passado, quando os dois falaram por videoconferência pela primeira vez. Na ocasião, o petista afirmou que aceitaria o convite em momento oportuno.

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