O que Mauro Cid já revelou sobre a venda de joias dadas para Jair Bolsonaro
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), disse na delação premiada para a Polícia Federal (PF) que entregou para o ex-chefe do Executivo uma parte do dinheiro da venda de joias recebidas pela Presidência da República no exterior.
Enquanto Bolsonaro comandava o País, Mauro Cid teve acesso livre ao Palácio do Planalto e esteve ao lado do ex-presidente em entrevistas, lives, reuniões e até em salas de cirurgia em hospitais, sendo o braço-direito e secretário particular de Bolsonaro nos quatro anos do governo passado. As memórias e os acessos que teve nos últimos quatro anos tornam a delação um problema para o ex-chefe do Executivo.
O tenente-coronel foi preso no dia 3 de maio, em uma operação da PF que investiga a inserção de dados falsos de vacinação da covid-19 no sistema da Ministério da Saúde. Após ter a delação premiada homologada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, foi liberado do quartel onde estava detido no dia 9 de setembro.
Cinco dias depois de deixar a prisão, Mauro Cid disse aos investigadores que entregou ao ex-presidente uma parte do dinheiro proveniente do esquema ilegal de venda de joias no exterior. Segundo o tenente-coronel, Bolsonaro recebeu em mãos US$ 68 mil de forma parcelada, com um repasse nos Estados Unidos e outro no Brasil.
O tenente-coronel admitiu à PF que participou ativamente da venda de dois relógios, um da marca Rolex e outro da Patek Phillipe. O dinheiro da comercialização ilegal teria sido depositado na conta do pai dele, o general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid.
Bolsonaro ganhou joias de autoridades estrangeiras em viagens oficiais e, por isso, os itens valiosos deveriam ser incorporados ao acervo da União. Porém, as peças foram omitidas dos órgãos públicos, incluídas ao estoque pessoal do ex-chefe do Executivo e negociadas para fins de enriquecimento ilícito, segundo as investigações.
As tentativas de vender as peças só cessaram após o Estadão revelar, em março, que auxiliares de Bolsonaro tentaram entrar ilegalmente no Brasil com um kit composto por colar, anel, relógio e um par de brincos de diamantes entregues pelo governo saudita para o então presidente e Michelle Bolsonaro.
Vendas seriam para pagar despesas processuais de Bolsonaro
Na delação, o ex-ajudante de ordens disse acreditar que a venda de joias dadas ao ex-presidente poderia ser considerada imoral, mas não ilegal. De acordo com Mauro Cid, a ideia de vender as peças surgiu como uma forma de "bancar as despesas" processuais de Bolsonaro.
"O presidente estava preocupado com a vida financeira. Ele já havia sido condenado a pagar várias multas", disse o tenente-coronel à PF.
Levantamento feito pelo Estadão no último dia 1º mostrou que Bolsonaro já somava um passivo de R$ 1.638.608,40 em dívidas com a Justiça. No valor, está incluída a multa de R$ 425,6 mil, estabelecida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no julgamento que condenou o ex-presidente por abuso de poder político, abuso de poder econômico e conduta vedada nas comemorações do dia 7 de setembro de 2022.
A maior parte do débito, porém, foi perdoada por lei sancionada pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), aliado de Bolsonaro. As autuações por não usar máscara de proteção e promover aglomerações durante a pandemia de covid-19 somavam mais de R$ 1 milhão.
Ao Estadão, em agosto, o ex-chefe do Executivo alegou que Mauro Cid tinha "autonomia" para agir. A declaração foi em resposta ao questionamento se o ex-presidente havia pedido para seu subordinado vender joias no exterior e trazer de volta o dinheiro para o País.