Conselhos dos marqueteiros para Dilma recuperar popularidade
Presa em uma espiral de crises e com a menor popularidade de um presidente desde as eleições de 1989, Dilma Rousseff conseguiria se recuperar com ações certeiras de marqueteiros?
A BBC Brasil conversou com alguns dos principais especialistas em marketing político e eleitoral, que veem poucas soluções para a impopularidade da petista – segundo a última pesquisa do instituto Datafolha, divulgada no início de agosto, a gestão Dilma é reprovada por 71% dos brasileiros.
Para os marqueteiros, o cenário é muito difícil e tende a piorar conforme a economia patina – nas últimas semanas, o Brasil teve sua nota rebaixada por uma importante agência de classificação de risco e viu o dólar alcançar níveis inéditos.
Mesmo assim, alguns deles arriscam dicas para a presidente sair do atoleiro.
Governo x presidente
Segundo Paulo de Tarso Santos, marqueteiro de Luiz Inácio Lula da Silva nas disputas pela Presidência em 1989 e 1994 e da surpreendente campanha de Marina Silva em 2010 – seu crescimento forçou um segundo turno entre Dilma e José Serra (PSDB) –, as chances de Dilma resistir rareiam porque ela enfrenta "uma crise todo santo dia".
Para ele, como as pesquisas mostram que o governo é mais mal avaliado que a presidente individualmente, uma das saídas para recuperar popularidade seria desenvolver uma política de comunicação que aproxime a imagem de ambos.
"Chance existe, por causa do tempo de mandato (restante). Mas não tem havido espaço de alívio para ela poder planejar uma recuperação. Tem governos no mundo todo que têm aprovação baixa e continuam governando. O problema é que Dilma está se inviabilizando. Quando (o cenário) tende a se estabilizar, ela própria dá um tiro no pé", diz Paulo de Tarso.
"Dilma tem tido uma postura muito errática em toda essa crise. Ela responde ao problema do dia, e não ao do ano. Ela só se recupera com estratégia de comunicação e de governo de médio prazo. No curto prazo não tem recuperação. E o problema é que a sociedade vive no curto prazo", pontua.
Para o marqueteiro, os adversários imobilizam a petista e inviabilizam sua reação. "E isso não é culpa dos adversários, é culpa dela."
À moda de Francisco
Abaixar o vidro do carro, falar com as pessoas à moda do papa Francisco, dar o exemplo com rigor nos gastos da máquina pública e melhorar a política de comunicação são as sugestões de Edson Barbosa, publicitário chamado pelo PT para contornar a crise do mensalão, em 2005.
Assim como Paulo de Tarso, ele destaca que o governo é mais mal avaliado do que a presidente e que ela deve investir em sua imagem para recuperar a aprovação do Planalto.
"Dilma precisa ter sobriedade, mas buscar um pouco mais de doçura. Ser uma presidente que possa conversar com as pessoas, que ande na rua. É o exemplo do papa Francisco: abaixe o vidro (do carro)", afirma Barbosa, que foi marqueteiro de campanhas do ex-governador Eduardo Campos (PSB), presidenciável morto em um acidente aéreo durante a campanha de 2014.
Ele destaca que Dilma não é vista, segundo as pesquisas, como uma pessoa corrupta, apesar do escândalo em torno dos contratos da Petrobras e de doações partidárias trazido à tona pela Operação Lava Jato.
"Os próximos três anos vão definir como ela quer entrar para a história do Brasil. Até agora, foi uma mulher corajosa e digna. Acho que ela deveria puxar o debate sobre o parlamentarismo e dar o exemplo. Não só tirar ministérios, mas acabar com os cargos comissionados. Tomar medidas que possam ser fundamentais", opina o publicitário.
Para Barbosa, a "sociedade está confusa com tudo" e, assim, Dilma pode se recuperar, desde que consiga explicar aos eleitores que "o remédio amargo é a garantia das conquistas obtidas até agora". Mas, no meio da caminho, há muitas pedras: "O problema é como você cuida da comunicação. Na comunicação de governo, ela tem dificuldades. Poderia melhorar muito isso."
'Papel feio'
O publicitário Luiz Gonzalez, responsável por campanhas do PSDB, entre elas as presidenciais de 2006 e 2010, avalia que a baixa aprovação da petista criou o ambiente para que a oposição avançasse com o movimento pelo impeachment.
"Quem é que vai contra um presidente popular? Vamos colocar em perspectiva. O PSDB não foi para cima de Lula em 2005, no auge do mensalão. Por que não foi? Você não viu nenhum pedido de impeachment, nenhuma afronta do Parlamento", disse Gonzalez, lembrando o pior momento do governo do ex-presidente, quando sua aprovação caiu para 35%.
Mesmo após a crise, o petista conseguiu se reeleger no ano seguinte e, com 83% de popularidade, em 2010 elegeu Dilma como sua sucessora no cargo.
Gonzalez diz acreditar que o impeachment deve ganhar corpo assim que a oposição e o PMDB, do vice Michel Temer, entrarem em acordo. Ele, porém, é contra a medida, que tem sido fomentada pelo PSDB, partido que ajudou a eleger por mais de duas décadas.
O marqueteiro classifica o impeachment como iniciativa "oportunista" e "papel feio", e diz que alguns personagens do movimento não têm "estatura moral" para depor a presidente.
"Dilma pode estar muito mal, pode ter errado tudo e mais um pouco, não discuto isso. Mas ela foi eleita, está certo? Seu problema é que a economia está dando errado. E por culpa dela. Mas isso não autoriza tirar uma pessoa democraticamente eleita. Votem melhor da próxima vez", opina Gonzalez.
A culpa é da economia
Segundo o publicitário, Dilma chegou a esse piso de popularidade por causa, sobretudo, da economia. Ele conta que, nas eleições de 2006 e 2010, nas pesquisas qualitativas do PSDB, nenhuma acusação contra Lula e o PT surtia efeito nos eleitores.
"O pessoal dizia: todos os políticos são ladrões. Pelo menos o Lula está dividindo com a gente, comprei meu carro, minha geladeira, como carne três vezes por semana", diz ele, apontando que " mais que o aumento do PIB (Produto Interno Bruto), houve uma expansão do consumo".
A situação de Dilma é inversa: "O consumo das famílias está caindo, o desemprego está aumentando. Portanto, já não se perdoam os erros que os governantes fazem. A má vontade está se espalhando", diz Gonzalez.
Outro ponto destacado pelo marqueteiro foi a campanha eleitoral. Para Gonzalez, "a campanha da Dilma exagerou nas mentiras. Deram uns dribles dentro da área que não precisavam ter dado. Deram umas pedaladas no marketing".
Ele disse ter vivido uma eleição parecida em 1994, para o governo de São Paulo. O principal adversário de Mário Covas (PSDB), Francisco Rossi (PDT) dizia que era preciso fechar o Estado para balanço, enquanto o tucano dizia que era preciso abrir para o progresso.
"Quando o Covas assumiu, não tinha gasolina para os carros de polícia. Foi um mandato muito difícil", lembra Gonzalez, para quem Dilma não tem chance de recuperar a popularidade. "Acho que ela não vai sangrar até o final porque vão tirá-la. Mas é este ano ou no início do próximo. Se ela aguentar até a eleição municipal (em outubro de 2016), acabou, vai até o final."
Ainda que a presidente resista ao movimento pelo impeachment, Gonzalez vê mais dificuldades em 2016.
"O fundo do poço (de popularidade) para mim, se ela não cair, é no começo do ano que vem. Porque agora o trabalhador demitido ainda tem alguns meses de seguro-desemprego. E a inflação não deve ceder. A perspectiva seria ela conseguir fazer o país melhorar. Mas ela não tem maioria no Congresso, o governo não tem nenhuma capacidade de gestão. Como vai melhorar?"
Em férias nos Estados Unidos, o marqueteiro João Santana, responsável pelas campanhas de Dilma, não respondeu ao pedido de entrevista.