Padilha faz discurso conciliador na posse e diz que ninguém do governo vai "metralhar" oposição
Ministro da Secretaria de Relações Institucionais prometeu nova relação com o Congresso; Lira é vaiado no Salão Nobre do Planalto e Dilma, ovacionada pela plateia
BRASÍLIA - O deputado Alexandre Padilha tomou posse nesta segunda-feira, 2, como ministro da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), pasta responsável pela articulação política do Palácio do Planalto com o Congresso. Em seu primeiro discurso como ministro, Padilha acenou para a oposição. Neste domingo, 1.º, ele já havia dito que Centrão é apenas "um apelido", um "conceito" que não existe.
"Nesse ministério está proibido insultar, agredir, ameaçar qualquer agente político, seja ele de qual seja o partido", disse Padilha. "Não existe aqui alguém que vai falar de metralhada contra a oposição. Essa época acabou." A afirmação foi uma referência a declarações do ex-presidente Jair Bolsonaro, que fez elogios à ditadura militar e disse que ia "metralhar" petistas no Acre.
Padilha destacou, ainda, que vai interagir "com civilidade e democracia" com partidos de oposição a Lula. "Esse ministério é o ministério do diálogo. Esse governo, liderado pelo presidente Lula e pelo vice-presidente Alckmin, é o governo do diálogo. Nós teremos diálogo com os partidos que compõem a nossa base e diálogo e respeito com os partidos que hoje se afirmam na oposição", insistiu ele.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), foi vaiado ao ter o nome anunciado pelo locutor. Lira é o principal expoente do Centrão. Mas o deputado do PP de Alagoas não compareceu ao evento e sua presença foi registrada por engano pelo locutor da cerimônia.
"A Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República esclarece que o presidente da Câmara, Arthur Lira, não esteve na plateia do ato de posse do ministro Alexandre Padilha, tendo comunicado previamente ao ministro sua impossibilidade de comparecimento por motivos pessoais, fora de Brasília", disse o ministério por meio de nota enviada nesta terça-feira,3. A pasta comandada por Padilha fez ainda elogios ao presidente da Câmara, ex-aliado de Bolsonaro, mas que iniciou uma aproximação com o novo governo. "Cabe reiterar, ainda, a relação de absoluto respeito e diálogo com o presidente da Câmara, como demonstrado na aprovação da PEC da transição, e que Lira já recebeu apoio expresso do PT e de outros partidos em prol de sua reeleição".
A ex-presidente Dilma Rousseff, por sua vez, recebeu aplausos. "Dilma, guerreira, da Pátria brasileira", gritavam militantes do PT, no Salão Nobre do Planalto.
Padilha foi ministro da Saúde no governo Dilma. Antes, no segundo mandato de Lula, já havia assumido a Secretaria de Relações Institucionais, quando fez pela primeira vez a articulação política do governo.
No pronunciamento, Padilha criticou Bolsonaro e listou os ataques feitos por ele à democracia. O ministro citou episódios nos quais o ex-presidente pôs em dúvida a legitimidade das urnas eletrônicas.
O petista lembrou de ameaças feitas pelo ex-presidente às instituições democráticas. "Nenhuma manifestação pela rede social ruidosa, nenhuma live espalhafatosa, nenhum tanque barulhento cheio de roncos esfumaçantes, como aqueles que desfilaram pela Esplanada há alguns anos, nenhum grito ruidoso têm mais poder que o momento silencioso do eleitor brasileiro diante da cabine eletrônica", observou.
Apesar das críticas a Bolsonaro, o ministro elogiou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, um dos aliados do ex-presidente. "Agradeço a ligação do governador do meu Estado, governador Tarcísio, que não pode estar aqui porque está dando posse ao seu secretariado, mas reafirmar por parte dele, e da minha parte e do presidente Lula", disse Padilha. Segundo o ministro, o Planalto manterá "relações republicanas" com qualquer governador, independentemente de seu partido.
Conselhão
Padilha anunciou a volta do chamado "Conselhão", grupo formado por representantes da sociedade civil para discutir políticas públicas. "Nós temos urgência de combinar responsabilidade social, ambiental e a responsabilidade fiscal. Um país que não tem responsabilidade social e ambiental é um país entregue para a barbárie. Um país que não tem responsabilidade fiscal é um país entregue para a insegurança econômica", afirmou o petista. O colegiado terá agora o nome de Conselho de Fomento Econômico-Social e Sustentável. "Não queremos nem barbárie e nem insegurança econômica. Queremos crescimento econômico, redução da desigualdade e saúde das contas públicas", disse ele.
Ao falar para a plateia que acompanhava sua posse, Padilha afirmou que vai tratar a oposição a Lula com civilidade. "Quero saudar todos os partidos políticos. Não só aqueles que compõem a coalizão que inicia nosso governo, mas também com os partidos que são de oposição com os quais nós vamos querer interagir com civilidade e democracia", insistiu.
Além dos acenos ao Congresso, Padilha também prometeu ter uma boa relação com governadores e prefeitos. "Esse ministério estará, se convidado for, em todos os fóruns de governadores do Nordeste, do Norte, Centro-Oeste, Sul e Sudeste", afirmou.