'Para colocar 10 mil pessoas na rua, suamos sangue', diz favorito a assumir presidência do PT
Declaração foi dada por Edinho Silva ao comentar o público que Bolsonaro levou a Copacabana, durante algumas das autocríticas feitas por ele a correligionários
BRASÍLIA - Candidato a assumir a presidência do PT, Edinho Silva, admitiu, em encontro com correligionários em Brasília nesta sexta-feira, 28, que o partido precisa "suar sangue" para colocar 10 mil pessoas na rua. A declaração foi dada em reação ao ato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em Copacabana, no Rio de Janeiro, que levou 18 mil apoiadores em ato pela anistia aos presos do 8 de Janeiro, segundo dados do Monitor do Debate Público do Meio Digital, da Universidade de São Paulo (USP).
"Claro que eles (bolsonaristas) chamaram 1 milhão. Foi um vexame porque pôs 18 mil pessoas na rua. Nós, para colocarmos 10 mil pessoas na rua, suamos sangue. Por isso, temos que entender que eles têm base social, sim", afirmou Edinho.
Essa foi uma das principais autocríticas feitas por Edinho, ex-prefeito de Araraquara, em discurso realizado na reunião plenária para o ato de lançamento da candidatura dele para a presidência do PT nesta sexta. Na mesa do evento estavam, entre outros, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, e os senadores Rogério Carvalho (SE) e Teresa Leitão (PE).
Na audiência, também estiveram presentes o ex-tesoureiro da sigla Delúbio Soares e o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que elogiou as declarações de Edinho.
No discurso que durou cerca de 45 minutos, Edinho pediu para que o partido se aproxime da "maior categoria profissional do Brasil", o motoentregador. Para ele, o afastamento desses profissionais é um dos motivos pelo qual o partido vem perdendo voto nas periferias.
Assim como já fez o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outras lideranças do PT, Edinho também apelou para a aproximação com os evangélicos, pedindo a filiação de lideranças religiosas à legenda. "Não é possível que a gente continue alimentando esse antagonismo entre o PT e as comunidades evangélicas por mais que tenhamos divergências, sim", disse.
Durante o pronunciamento, Edinho voltou novamente a lavar roupa suja enquanto o partido vive uma disputa interna.
"Me sinto ofendido quando dizem que quero puxar o PT ao centro", afirmou. "Com todo respeito aos que tentam me descaracterizar como militante do PT, eu fui o prefeito que governou com políticas que caracterizaram meu governo de esquerda. Não abri mão do embate com o bolsonarismo no pior momento da nossa história, que foi a pandemia (de covid-19). E a minha prefeitura polarizou com Bolsonaro."
Como mostrou o Estadão, a corrente majoritária do PT, a Construindo um Novo Brasil (CNB), vive uma crise. Uma ala desse grupo, do qual Lula faz parte, não aceita Edinho, nome indicado pelo próprio presidente para assumir a sigla.
As eleições que vão renovar a cúpula do PT, com voto dos filiados, estão marcadas para 6 de julho, com divergências entre Edinho e a própria Gleisi Hoffmann, última presidente eleita do PT e atual ministra das Relações Institucionais.
O principal motivo das diferenças internas é o controle da tesouraria do PT. Edinho não aceita que a secretária de Finanças, Gleide Andrade, pré-candidata a deputada federal, permaneça no cargo. A soma dos fundos partidário e eleitoral da sigla está na casa dos R$ 700 milhões por ano.
No discurso, Edinho negou o conflito, mas fez críticas discretas a Gleide. "Eu reconheço méritos no trabalho dela, como eu penso também que o partido que tenha que avançar na democracia precisa também democratizar o debate de finanças, democratizar o debate de elaboração do seu orçamento", disse Edinho.
Ele também apelou pela união da corrente majoritária do PT. "Não existe construção política sem centro político. E a CNB sempre foi o centro político do Partido dos Trabalhadores", afirmou. "Quero trabalhar para construir um novo campo majoritário do PT para que a gente possa ser um partido que valorize as nossas instâncias."
-us09pv0ib31u.png)
