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Política

Parlamentares vão ao BC pedir apoio para igrejas evangélicas

Liderados por Marcos Pereira, bispo licenciado da Universal, deputados mantiveram encontro com o presidente do banco em busca de ajuda; deputado é do Centrão, bloco com o qual Bolsonaro busca aproximação

1 mai 2020 - 05h11
(atualizado às 09h22)
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BRASÍLIA - Parlamentares ligados às igrejas evangélicas pediram apoio da área econômica do governo Jair Bolsonaro para conseguir acesso a empréstimos bancários. O assunto chegou a ser levado para o Banco Central. O presidente do BC, Roberto Campos Neto, recebeu, no último dia 22, o deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP), bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus e atual 1º vice-presidente da Câmara dos Deputados.

Pereira é uma das lideranças do chamado Centrão, bloco de partidos com o qual Bolsonaro articula uma aproximação para aumentar a base de apoio do governo no Congresso Nacional.

Imagem do Templo de Salomão, da Igreja Universal do Reino de Deus, na Avenida Celso Garcia, na região do Brás (SP)
Imagem do Templo de Salomão, da Igreja Universal do Reino de Deus, na Avenida Celso Garcia, na região do Brás (SP)
Foto: Paulo Lopes / Futura Press

O temor entre os técnicos da área econômica é que a pressão dos evangélicos leve a Caixa Econômica Federal a conceder uma série de financiamentos para as igrejas na esteira da pandemia da covid-19.

Segundo apurou o Estadão/Broadcast, a reclamação de parlamentares ligados à bancada evangélica é que o governo já socorreu grandes empresas, mas ainda não estendeu a mão às igrejas, que precisaram fechar para evitar aglomerações durante a pandemia e estão recolhendo menos dízimo dos seus fiéis. Muitas estão fazendo campanhas para receber "doação online", até mesmo vindas do exterior.

A crise levou os bancos a abrirem linhas de financiamento para empresas com taxas de juros subsidiadas, com o custo bancado pelo Tesouro Nacional. Diante disso, os parlamentares ligados à bancada começaram a pedir "apoio do sistema financeiro". Os técnicos da área econômica cobram transparência dessa movimentação das igrejas por ajuda do governo. Integrantes da equipe econômica veem com preocupação o assunto "rondando o BC".

O encontro entre Marcos Pereira e Campos Neto está registrado na agenda pública do presidente do BC, divulgada no site do banco na internet. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, Pereira e o grupo de deputados que o acompanhou quiseram saber a posição do BC sobre a possibilidade de os bancos darem empréstimos para as igrejas. O BC esclareceu que não há impedimentos legais.

Hoje, porém, os bancos não costumam conceder empréstimos às igrejas porque elas têm como garantias apenas imóveis e os dízimos dos fiéis. Geralmente, ambos são rejeitados como lastro a essas operações porque são de difícil cobrança em caso de inadimplência. Mesmo no caso dos imóveis, a avaliação é que dificilmente um juiz concederia o bloqueio do bem (onde funciona o templo religioso) porque isso inviabilizaria sua atividade.

Fontes qualificadas do governo ouvidas pela reportagem informaram que a intenção das lideranças religiosas é obter um parecer do Banco Central para que os bancos públicos possam conceder os empréstimos.

Ao Estadão/Broadcast, o BC não negou nem confirmou o pedido do parecer. "No âmbito da regulação expedida pelo Banco Central ou pelo Conselho Monetário Nacional, o BC informa não haver qualquer vedação normativa para a concessão de empréstimos por instituições financeiras a entidades religiosas ou a instituições sem fins lucrativos", limitou-se a dizer o BC em nota.

Procurado, o deputado Marcos Pereira disse que "não houve pedido de socorro algum ao BC", mas confirmou que as igrejas buscam acesso a empréstimos. "O que houve foi pedido de 'esclarecimento' a respeito da possibilidade de instituições financeiras poderem emprestar para instituições religiosas", afirmou em nota enviada à reportagem.

Nas últimas semanas, o vice-presidente da Câmara subiu o tom das provocações contra o ministro da Economia, Paulo Guedes, em meio às críticas à atuação da equipe econômica nas negociações para o pacote de auxílio emergencial aos Estados e municípios. Em um das mensagens nas redes sociais, Pereira escreveu: "Paulo Guedes assumiu o Ministério da Economia dizendo que queria 'menos Brasília, mais Brasil'. Pois bem, Agora que aprovamos o reforço nos caixas de Estados e municípios, o ministro quer vetar. Em qual Paulo Guedes devemos acreditar."

Para aliados de Guedes, o dedo de Pereira está por trás da "fritura" que o ministro sofreu nas últimas semanas, antes e depois do lançamento do Pró-Brasil, plano de investimentos do governo para a recuperação econômica na fase pós-covid-19.

Dentro da pasta, auxiliares inclusive atribuem ao impasse com as igrejas a veiculação de uma reportagem pela TV Record, cujo proprietário é o bispo Edir Macedo (fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, a mesma de Pereira), tachando Guedes como insensível com os mais pobres durante a crise do novo coronavírus. A Universal disse que esse tema deveria ser tratado diretamente com a emissora, que não se pronunciou até o momento desta publicação.

Procurado, o Ministério da Economia não se manifestou. A Caixa informou que possui linhas de crédito à disposição de igrejas, "a depender da garantia apresentada", mas não respondeu aos questionamentos sobre oferta de novos empréstimos para ajudar as instituições religiosas no enfrentamento à crise durante a pandemia.

Estadão
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