Partido de Bolsonaro defende Deus, armas e anticomunismo
Advogada leu princípios da sigla em convenção de lançamento em hotel de luxo em Brasília
O partido Aliança pelo Brasil, que o presidente Jair Bolsonaro trabalha para tirar do papel, realiza nesta quinta-feira, 21, a sua convenção de lançamento, sob forte discurso de respeito a Deus, a religiões e de oposição a movimentos de esquerda. Bolsonaro assinou na terça-feira, 19, a desfiliação do PSL, partido pelo qual se elegeu em 2018.
Em um auditório lotado de um hotel de luxo de Brasília, a advogada Karina Kufa fez a leitura dos princípios do partido. "O povo deu norte da nova representação política. Em 2019, novo passo precisa ser dado. Criar partido que dê voz ao povo brasileiro", afirmou.
Karina Kufa afirmou que o partido é conservador, comprometido com a liberdade e ordem, soberanista e de oposição às "falsas promessas do globalismo".
O programa tem os seguintes princípios:
- - respeito a Deus e à religião
- - respeito à memória e à cultura do povo brasileiro
- - defesa da vida
- - garantia de ordem e da segurança
O programa afirma que o partido "reconhece o lugar de Deus na vida, na história e na alma do povo brasileiro". Há ainda defesa da posse de armas.
Karina Kufa disse que o partido "se esforçará para divulgar verdades sobre crimes do movimento revolucionário, como comunismo, globalismo e nazifascismo". Ainda segundo a advogada, a sigla estabelecerá relações com partidos e entidades de países que "venceram o comunismo", como do Leste Europeu.
"O Aliança pelo Brasil repudia o socialismo e o comunismo", afirmou Karina Kufa. A frase foi bastante aplaudida pelos presentes. A plateia começou a gritar: "A nossa bandeira jamais será vermelha".
Eleições 2020
Antes de ir para o evento, Bolsonaro disse que não "entra" na eleição para prefeito e vereadores em 2020, caso a criação do partido Aliança Pelo Brasil não seja aprovada até março. "Se for possível a (coleta de assinaturas para criação da legenda) eletrônica, a gente forma um partido para março. Se não for possível, eu não vou entrar em disputas municipais no ano que vem, estou fora."
Crítico do voto eletrônico, Bolsonaro questionou: "Estamos aguardando decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) se pode a coleta de assinatura eletrônica. O voto pode, assinatura não pode? De acordo com a decisão, a gente vai saber se forma para março ou para o final do ano que vem", afirmou o presidente. Em parecer enviado na terça-feira, 19, ao TSE, o vice-procurador-geral eleitoral, Humberto Jacques, se manifestou contra a coleta de assinaturas digitais para a criação de partidos. Para Jacques, todo o esforço na Justiça Eleitoral é "devotado ao tratamento dos documentos em papel".
"Culto"
Concorrido, o primeiro encontro oficial do Aliança pelo Brasil deixou muita gente de fora. Alguns deputados tiveram dificuldade para chegar ao evento. O deputado Junio Amaral (PSL-MG) desistiu de esperar no trânsito que se formou no caminho e andou alguns metros até chegar ao local. Já na entrada, teve de aguardar a conferência do seu nome na lista e enfrentar o aglomerado de pessoas que tentavam entrar. "Não posso colocar ninguém para dentro, não faço parte da organização", tentava se explicar outro parlamentar que chegou em cima da hora, o deputado Hélio Lopes (PSL-RJ).
No auditório, o clima lembrava um culto evangélico. As intervenções do público aos discursos são incentivadas e aplaudidas. "Deus é tudo!", gritam os participantes, lembrando as celebrações religiosas.
O empresário Luciano Hang, com seu tradicional terno verde, foi recebido como celebridade, sendo bastante aplaudido. Ele é um dos que compõem o palco ao lado do presidente e da primeira-dama, Michelle Bolsonaro.