Personagem-chave no Caso Marielle, Macalé foi segurança de bicheiro e figura citada na CPI das Milícias
Ex-sargento da PM do Rio foi mencionado em delação por Élcio de Queiroz como responsável por intermediar contratação de Ronnie Lessa
A delação do ex-PM Élcio de Queiroz trouxe à luz um novo protagonista na investigação da execução da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes: o policial militar reformado Edimilson Oliveira da Silva, conhecido como Macalé.
Identificado como o intermediário entre o suposto mandante do crime e o ex-sargento Ronnie Lessa e acusado de ser o atirador das 2 vítimas, Macalé já havia sido citado em investigações relacionadas ao jogo do bicho e à atuação de milícias antes de ser assassinado em 2021.
Em outubro de 2019, durante a investigação do atentado contra Shanna Harrouche Garcia, filha do bicheiro Waldemir Paes Garcia, conhecido como Maninho, a polícia mencionou Macalé como membro da "organização criminosa" associada ao contraventor Bernardo Bello, que é ex-cunhado da vítima.
No seu depoimento, Shanna relatou que Bernardo Bello contava com o apoio dos policiais militares Wagner Dantas Alegre, José Carlos Roque Barbosa e Macalé como seus braços armados. À época, Bernardo, que atualmente encontra-se foragido, negou veementemente as acusações.
Macalé também foi mencionado na investigação do assassinato de Alcebíades Paes Garcia, conhecido como Bid, tio de Shanna e irmão de Maninho, ocorrido em fevereiro de 2020. Segundo o depoimento de Shanna, o suspeito do crime teria se encontrado com Macalé em um restaurante alguns dias após o ocorrido.
Histórico de Macalé
Após o surgimento do nome de Macalé, os investigadores passaram a analisar o histórico do sargento reformado. Até sua morte em novembro de 2021, ele não tinha qualquer condenação por crimes. Sua carreira na Polícia Militar foi abreviada com menos de 20 anos de serviço, quando em 2004, a junta de saúde da corporação o declarou "incapaz" para o serviço ativo.
Além de estar envolvido em inquéritos relacionados ao jogo do bicho, Macalé teve sua trajetória marcada por diversas acusações de ligação com a milícia de Oswaldo Cruz, na Zona Norte do Rio de Janeiro.
A primeira dessas acusações ocorreu em 2008, quando o relatório final da CPI das Milícias, presidida pelo então deputado estadual Marcelo Freixo, mencionou Macalé como um dos integrantes da milícia de Oswaldo Cruz. No entanto, ele não chegou a ser investigado na ocasião.
Em dezembro de 2012, o sargento Macalé foi preso pelo homicídio de Michael Ramos, de 19 anos, ocorrido em Oswaldo Cruz. As investigações apontaram que a vítima foi morta por supostamente praticar furtos na região, o que teria desagradado ao réu. Testemunhas forneceram depoimentos que contribuíram para a conclusão do caso.
De acordo com o relatório final da Delegacia de Homicídios (DH), Macalé era apontado como o policial militar que liderava uma milícia atuante em Oswaldo Cruz. Essa milícia não apenas controlava serviços ilegais, como 'gatonet', segurança e transporte alternativo, mas também estava envolvida em crimes graves, incluindo execuções sumárias.
Em 6 de dezembro de 2012, Macalé foi preso e agentes da DH encontraram em sua BMW uma pistola e um taco de beisebol de alumínio, que ele costumava exibir enquanto circulava pelo bairro. Apesar de ter passado mais de um ano na prisão, Macalé foi absolvido do homicídio pelo júri popular em julho de 2014.
Execução
Aos 54 anos, Macalé foi assassinado a tiros em Bangu, na Zona Oeste. A Polícia Federal (PF) solicitou uma cópia do inquérito, que ainda não foi resolvido, à Delegacia de Homicídios (DH) e iniciará uma investigação para apurar se o homicídio dele está relacionado ao Caso Marielle.
De acordo com os investigadores, nos anos anteriores ao assassinato da vereadora Marielle Franco, Macalé estreitou laços com Ronnie Lessa, que também estava envolvido na exploração de sinal clandestino de internet em Rocha Miranda, uma região próxima à área comandada por Macalé.
Nesse período, Macalé se tornou parte de uma quadrilha de matadores de aluguel, atuando principalmente para bicheiros e milicianos.
Após prestar depoimento, Queiroz foi transferido para o presídio federal de Brasília, onde está preso desde 2019, um ano após a morte de Marielle e Anderson.