PMDB tenta mostrar ‘união’ para vencer disputa na Câmara
Direção executiva do partido se reuniu em Brasília para apoiar a candidatura de Eduardo Cunha à presidência da Casa
A executiva nacional do PMDB decidiu nesta quarta-feira entrar de vez na sucessão de Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) pela presidência da Câmara.
Como Eduardo Cunha (PMDB-RJ), candidato indicado pela bancada peemedebista, sofre restrições do Palácio do Planalto, o partido resolveu apoiar a escolha e agir para evitar a pressão do governo federal em favor do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP).
"(Nossa intenção é) revelar a unidade do PMDB em torno desta matéria", afirmou o vice-presidente da República e presidente nacional do PMDB, Michel Temer, após a reunião da executiva nacional.
Nos bastidores, o apoio da cúpula do partido é um recado para o PT e para a presidente Dilma Rousseff, caso a pressão para eleger Chinaglia continue.
Na visão de peemedebistas, movimentos como as indicações de George Hilton (PRB) para o Ministério do Esporte, de Gilberto Kassab (PSD) para Cidades e de Cid Gomes (Pros) a Educação ocorreram também para pressionar os partidos aliados em não apoiar a candidatura de Cunha.
A atuação especialmente de Gomes e Kassab teria como objetivo isolar o PMDB na disputa.
Fogo amigo
Outro problema visto pelos peemedebistas foram as denúncias veiculadas na semana passada ligando Cunha ao doleiro Alberto Youssef, preso desde o ano passado pelo envolvimento no esquema de pagamento de propina e lavagem de dinheiro na Petrobras.
Integrantes da cúpula do partido ‘enxergam digitais’ do Palácio do Planalto no vazamento de informações, negadas no início da semana por Antônio Figueiredo Basto, advogado do doleiro.
"O PMDB é um partido aliado do governo. Evidentemente que o partido espera, aguarda e tem certeza que o governo não se envolverá (na disputa pela Câmara), ao contrário de boato aqui e acolá", afirmou o ex-deputado Geddel Vieira Lima, um dos integrantes da executiva nacional da legenda.
Ele entende que, caso o governo não "tome cuidado" no apoio a Chinaglia, pode ter problemas na relação com o Congresso a partir de fevereiro.
Uma possível pressão do governo para eleger Chinaglia pode ser prejudicial, já que a votação é secreta e não há como cobrar a fidelidade dos deputados na eleição. Parlamentares recordam de 2005, quando o Palácio do Planalto queria o então deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) como presidente da Câmara, mesmo sem apoio da base.
O resultado: Severino Cavalcanti (PP-PE) acabou eleito com apoio do baixo clero e de governistas descontentes.
"Acho que o PT tem legitimidade e direito de postular a presidência da Câmara. O que o PT não tem direito, e certamente não fará, é de cobrar de um governo de coalizão que prefira esse ou aquele candidato", comentou Geddel.
Formalmente, Cunha tem o apoio de partidos como o PSC, PTB, Solidariedade (SD) e o PRB. Destes, apenas o PRB é governista. Já Chinaglia conta com PCdoB e Pros.
O terceiro candidato, Júlio Delgado (PSB), recebeu o suporte de PSB, PSDB, PV e PPS.