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Política

PMs dizem que quase foram mortos por golpistas no 8 de janeiro em depoimentos

Policiais apontaram que estavam em menor número e discordaram de táticas do Exército

20 jul 2023 - 10h02
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Depois da saída dos golpistas, a polícia do Exército ocupou a área em frente á sede do CML.
Depois da saída dos golpistas, a polícia do Exército ocupou a área em frente á sede do CML.
Foto: Pedro Kirilos/ Estadão / Estadão

Agentes da Polícia Militar relataram à Justiça do Distrito Federal que sofreram ataques e enfrentaram dificuldades para controlar a invasão de vândalos golpistas ao Palácio do Planalto em 8 de janeiro, na cidade de Brasília.

As informações foram obtidas pela TV Globo e estavam em posse da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Golpistas. As declarações fazem parte de uma investigação interna da Corregedoria da Polícia Militar do Distrito Federal para apurar uma suposta agressão contra um vândalo.

O acusado no processo é o segundo-tenente Marco Aurélio Feitosa, que liderou uma das unidades do Batalhão de Choque da Polícia Militar durante o combate às invasões na Esplanada dos Ministérios.

As testemunhas apresentadas pelo segundo-tenente no processo apontaram a falta de efetivo policial como um dos motivos para o fracasso inicial da operação. Segundo Marco Aurélio Feitosa, a tropa tinha apenas 20 homens e mais 16 voluntários. Em contraste, os policiais estimaram que cerca de 200 vândalos estavam presentes no Palácio da Presidência da República. “Esse era todo o efetivo escalado pelo BPChoque, por ordens superiores, para o dia”, declarou.

Feitosa destacou, no entanto, que os policiais não deveriam ter ido ao local inicialmente. Ele afirmou que a tropa havia sido instruída a permanecer posicionada em um hotel na Região Central de Brasília. No entanto, ele decidiu levar o grupo até o Congresso Nacional. Ele alegou que, inicialmente, foi repreendido, mas relatou que era uma iniciativa dele, e que se ficasse determinado que ele deveria voltar com o grupo, voltaria. 

Golpistas removeram grades de proteção durante a invasão da Praça dos Três Poderes
Golpistas removeram grades de proteção durante a invasão da Praça dos Três Poderes
Foto: Wilton Junior/Estadão / Estadão

A falta de reforços, escassez de equipamentos e a superioridade numérica dos vândalos foram apontadas pelos policiais como fatores para o fracasso do confronto.

Dois policiais que testemunharam no processo alegaram ter sofrido lesões: a cabo Marcela Pinno e o subtenente Beroaldo José de Freitas Júnior. Imagens mostram que ambos caíram de uma altura de quase três metros e foram agredidos pelos golpistas no Congresso.

O subtenente disse em depoimento quase ter sido morto. Ele classificou o episódio como o “pior de todos” os “distúrbios civis no Distrito Federal”. "Eu e a soldado Marcela quase morremos nesse confronto, nesse primeiro momento. Estava ferido, fui socorrido depois disso todo ensanguentado, porque nem sabia que estava ferido. Mas depois fui identificado como lesionado", disse, conforme mostrou a TV Globo.

O subtenente afirmou que somente após o confronto ter sido pacificado, os policiais feridos puderam buscar atendimento médico. Ele também relatou que os PMs com ferimentos leves continuaram a atuar na operação.

Embate com Exército

Ainda segundo a TV Globo, os depoimentos também apontam uma suposta inércia por parte de militares do Exército como outro fator que contribuiu para a demora em conter os vândalos. Além de Feitosa e do subtenente Beroaldo, o tenente Diego Alves Valença Pereira relatou confrontos entre a tropa da PM e o Batalhão da Guarda Presidencial (BGP).

As declarações convergem sobre o clima e a suposta resistência dos militares do Exército em realizar prisões durante a invasão do Palácio do Planalto. Vídeos divulgados em janeiro já indicavam que os militares do Exército dificultaram a ação da PM durante o episódio.

Golpistas invadiram sedes dos três Poderes no dia 8 de janeiro, em Brasília.
Golpistas invadiram sedes dos três Poderes no dia 8 de janeiro, em Brasília.
Foto: Wilton Júnior/Estadão / Estadão

Valença afirmou que a tropa liderada por Marco Aurélio Feitosa foi hostilizada na chegada ao edifício. “Ao tentar adentrar ao edifício, sentimos uma certa resistência dos oficiais do Exército e outros militares do Exército que lá estavam. E aí, teve até um embate ali entre o nosso comandante com o oficial do Exército, que estava comandando naquele momento”, disse.

Ao ser ouvido, o subtenente Beroaldo detalhou o motivo do embate. Segundo ele, por ação de militares do Exército, vândalos chegaram a deixar o Planalto pela “porta dos fundos”.

“No interior, era um caos. Nós tivemos um pouco de dificuldade de controlar aquelas pessoas para que elas viessem a obedecer aos comandamentos da Tropa de Choque, para que se mantivessem imóveis e que a gente ia efetuar a prisão de todos eles. Até porque, antes disso, teve um embate entre a PM e o Exército. O Exército queria liberar todos eles. Inclusive, vários foram soltos pela porta dos fundos do Palácio. Por decisão nossa, da Tropa de Choque, do nosso comandante, que nós não iríamos participar disso. Quem estava ali, estava preso”, disse.

O comandante da tropa endossou as declarações e disse que havia, por parte do Exército, certa conivência com a tentativa de fuga. “Nós detivemos todos, contra vontade de oficiais do Exército, e mandamos que eles [vândalos] deitassem”, disse.

Golpistas deixaram rastro de destruição em Brasília.
Golpistas deixaram rastro de destruição em Brasília.
Foto: Wilton Junior/Estadão / Estadão

Em seu depoimento, Marco Aurélio Feitosa narrou ainda que antes de entrar no Planalto, teve negado um pedido de apoio a um pelotão do Exército localizado na entrada do Palácio.

“Fomos atacados com uma violência que eu não imaginava viver. Imaginei que só veria em livros. Fomos repelidos até a primeira guarita do Planalto, onde estava pelotão do Exército. Nesse momento, estávamos aos frangalhos e pedimos intervenção deles. Estávamos superados em números e materiais. Materiais estavam se esgotando rápido. Inicialmente, recebemos resposta negativa do pelotão do Exército. Eles só começaram a operar quando os vândalos começaram a pular os gradis do Palácio do Planalto, na N1, próximo ao Congresso e começarem a correr em direção ao Palácio”, afirmou Feitosa.

Além da inércia, o comandante da tropa que atuou no Planalto também indicou desencontros nas ações do Exército durante o ataque. Segundo ele, os militares chegaram a largar os escudos e correr na direção oposta ao confronto.

Nos depoimentos, os PMs indicaram que somente após discordarem da ordem do Exército, foi possível iniciar as ações e prisões para conter os vândalos.

Fonte: Redação Terra
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