Políticos experientes já pensam em novos caminhos após não conseguirem a reeleição à Câmara de SP
Apenas 35 dos nomes que buscaram reeleição conseguiram se eleger em São Paulo. Veteranos com mais de 20 décadas de atuação ficaram de fora, mas não pensam em se afastar do serviço público mesmo sem mandato
Dos 55 vereadores que ocupam cadeiras na Câmara Municipal de São Paulo, 51 buscaram reeleição no último dia 6, mas somente 35 conseguiram continuar em suas cadeiras. A frustração não é negada por nenhum deles, mas, ao mesmo tempo, eles reconhecem que, apesar da derrota, ficou um sentimento em comum de gratidão e orgulho pelos anos dedicados à política. Entre a resignação de que é hora de uma nova geração e a esperança de que ainda possa surgir uma vaga com a saída de algum eleito para assumir outras funções, vereadores que se acostumaram com mandatos em sequência na Câmara agora precisam buscar novos caminhos.
Nomes experientes como Adilson Amadeu (União Brasil), Arselino Tatto (PT) e Paulo Frange (MDB), que agora estão na lista de 491 suplentes, segundo dados divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral, pensam em trabalhar e ajudar seus partidos até o último dia do mandato. Outros enxergam perspectivas em profissões que exerceram paralelamente em suas vidas. Mas a derrota é um caminho que se abre e, somente o futuro dirá o que será dele.
Adilson Amadeu voltará a ser despachante se nenhuma vaga abrir
Após cinco mandatos, Adilson Amadeu não descarta a esperança de voltar para a Câmara. Ele foi o primeiro colocado na lista de suplentes do partido, com 24.759 votos. Basta o prefeito convocar outro vereador para um cargo no Executivo e ele volta ao Legislativo. Na reta final de seu mandato atual, ele argumenta ter contribuído com iniciativas voltadas para o tratamento de diabetes, cuidado com idosos, melhorias em bairros, esforços em prol dos taxistas e participações em várias Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs), atuando inclusive ao lado do prefeito Ricardo Nunes (MDB).
No entanto, Amadeu se mostra preocupado com o impacto dos meios digitais nas eleições. Para ele, os eleitores passaram a ser guiados pela imagem construída pelos candidatos e desconhecem as realizações dos políticos. "Muitos (dos vereadores eleitos) estão apenas começando, eles terão muito a aprender. O que significa que o Parlamento vai demorar para se adaptar, porque muitas coisas mudaram, e várias pessoas que contribuíram significativamente para a cidade com projetos importantes acabaram ficando de fora."
O vereador diz que logo completará 74 anos, mas se sente com 30 ou 40. Ele conta que tem um escritório onde atua como despachante há 52 anos, e atualmente mantém 49 funcionários. Além disso, o vereador é um nadador apaixonado e já viajou 19 países praticando o esporte.
Amadeu entrou na política em 1998 a convite do deputado estadual de São Paulo Campos Machado. Ele ficou como suplente na Assembleia Legislativa antes de se candidatar a vereador pela primeira vez em 2004. Eleito naquele ano e mais quatro vezes, permanece no cargo até o fim de 2024. "Imagine chegar na sua empresa e ouvir que a partir de hoje você não vai trabalhar mais, porque já tem outra pessoa para o lugar. Vou ter que ir para outra casa, procurar o que fazer. Graças a Deus, tenho um escritório. Nunca precisei de nada da política, a não ser fazer política em prol da população", diz Amadeu.
Arselino Tatto foca em eleição de Boulos
Vereador desde 1988, quando concorreu ao cargo pela primeira vez, Arselino Tatto (PT), 68 anos, não foi reeleito, mas entrou na lista de suplente com 29.105 votos. O petista, que esteve na Câmara Municipal durante nove mandatos, diz que ainda é cedo para pensar em 2025, mas reforça a intenção de continuar atuando no Partido dos Trabalhadores. "Eu sou um animal político, independente de eleição. Estou na política desde os 15 anos de idade e vou continuar, sendo candidato ou não", diz.
Ele afirma que se sente bem com o resultado, lembrando que concorreu ao cargo 10 vezes e apenas nesta não se elegeu. Para ele, ainda é cedo para pensar em cargos na nova gestão, caso o deputado Guilherme Boulos (PSOL) seja eleito. E é na eleição de Boulos que ele está concentrado. "Dentro do partido (PT) temos o programa de Processo de Eleições Diretas (PED). A renovação do partido se dará no ano que vem, mas não estou pensando nisso. Agora a cabeça está voltada para o segundo turno aqui em São Paulo",comenta.
Paulo Frange quer continuar em cargos públicos
Depois de sete mandatos e 48 anos na cardiologia, Frange não pretende abandonar nem um nem o outro. O vereador recebeu 35.338 votos e fica agora como suplente da Câmara. "Encontrei alegria e realização nos dois trabalhos. E acho que posso contribuir mais em ambos. A vida pública é a maneira que temos de nos dedicar à população, de contribuir com a cidadania e quero ajudar nosso futuro prefeito, que será reeleito, Ricardo Nunes, nessa tarefa", diz Frange.
Manifestando sua preocupação enquanto médico, Frange diz que muito já foi feito, mas que também há muito para se fazer e que espera continuar contribuindo. "A cidade precisa de mais hospitais de emergência de muita coisa. Temos que pensar na cidade que queremos para envelhecer. Portanto, estou tranquilo, São Paulo é gigante. Não vai faltar trabalho e, no meu caso. É uma paixão sem remédio", expressa o vereador.
Coronel Salles voltará às palestras sobre segurança pública
Comandante Geral da Polícia Militar do Estado de São Paulo (2018-2020), Coronel Salles (MDB) também não conseguiu a reeleição. Agora, ele afirma que pretende voltar a lecionar em cursos voltados para a formação de oficiais e militares. Salles, que obteve 15.682 votos, também mencionou a intenção de retomar palestras sobre temas relacionados à gestão e segurança pública, área em que possui doutorado."Continuar fazendo o que eu fazia: lecionando, dando palestras, trabalhando pela inclusão, que é um trabalho que independe de mandato", disse ao Estadão.
Desde o resultado no último domingo, Coronel Salles tem mantido presença nas redes, reforçando a campanha do prefeito e candidato à reeleição Ricardo Nunes e do vice, Ricardo Mello Araújo, de quem é amigo há décadas.
No Brasil, a eleição de vereadores é realizada por meio do sistema proporcional de votação. Em um primeiro momento, os votos ajudam a definir quantas vagas cada partido ou coligação terá na Câmara, a contagem leva em conta todos os votos válidos dados aos candidatos e para as legendas. Em seguida, dentro de cada sigla ou coligação, os candidatos que receberam mais votos são os escolhidos para ocupar as vagas.
A suplência acontece quando a pessoa candidata ao cargo de vereador não consegue votos suficientes para ser eleita, mas pode vir a ocupar uma vaga na Câmara Municipal temporariamente se um vereador precisar se ausentar por motivos de saúde ou questões pessoais. O suplente também pode assumir o cargo de forma permanente caso um vereador faleça, renuncie ou seja cassado. A posse depende da ordem de suplência na qual o candidato se encontra.