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Política

Por que a aprovação ao governo Lula caiu? Veja nos resultados de 3 pesquisas

Estudos divulgados pelos institutos Quaest, Atlas/Intel e Ipec nesta semana indicam piora nos índices de avaliação do governo federal; levantamentos apontam falas sobre Israel, aumento nos preços, corrupção e segurança pública como motivos

10 mar 2024 - 13h40
(atualizado em 11/3/2024 às 15h21)
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Nesta semana, três institutos divulgaram pesquisas que apontaram queda na avaliação positiva do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Quaest, Atlas/Intel e Ipec (antigo Ibope) indicam que mais entrevistados "desaprovam" a gestão do petista, enquanto os índices dos que avaliam o governo como "ruim" ou "péssimo" têm subido.

Cada instituto adota metodologias distintas e entrevista um universo diferente de entrevistados, mas a tendência geral é a mesma nos três levantamentos.

Lula está no terceiro mandato na Presidência
Lula está no terceiro mandato na Presidência
Foto: Wilton Junior/Estadão / Estadão

A pesquisa Ipec não apontou motivos possíveis para o crescimento da avaliação negativa, enquanto os levantamentos dos institutos Atlas/Intel e Quaest indicaram, entre os motivos para a queda, as declarações recentes do petista que abalaram sua imagem com o público.

Além disso, a percepção a respeito da Economia nacional e dos preço dos insumos do dia a dia piorou em comparação com levantamentos recentes. O governo também não consegue performar bem nos temas mais importantes para os entrevistados, como segurança pública e corrupção.

A polarização política, por fim, pesa como um "teto" que o petista ainda não conseguiu superar em suas avaliações.

Veja as principais razões para a queda na popularidade do governo Lula.

Fala que comparou Israel ao Holocausto

Em 18 de fevereiro, durante entrevista coletiva em Adis Abeba, capital da Etiópia, Lula comparou a incursão de Israel na Faixa de Gaza com o Holocausto. "O que está acontecendo em Gaza não aconteceu em nenhum outro momento histórico, só quando Hitler resolveu matar os judeus", disse o presidente.

O episódio se destaca como o evento de maior impacto na imagem do petista desde quando as últimas pesquisas de opinião haviam sido feitas e, por conta disso, institutos se debruçaram especificamente em relação ao tema.

Na pesquisa Quaest, constatou-se que a declaração foi percebida como um "exagero" e teve influência na avaliação de Lula. Para 60% dos entrevistados, o presidente "exagerou" na comparação. Entre os evangélicos, o índice chegou a 69%. E é justamente entre os evangélicos que a popularidade de Lula despencou mais nitidamente.

Segundo a Quaest, a avaliação negativa do governo subiu de 36% a 48% entre pessoas dessa denominação religiosa, enquanto no geral ela foi de 29% a 34%. Na pesquisa Atlas/Intel, 57% dos evangélicos avaliam o governo como "ruim/péssimo". No geral são 41%.

Já no levantamento do Ipec, a administração Lula é vista como ruim ou péssima por 41% dos entrevistados evangélicos e 32% no total da população.

Em janeiro, segundo o Atlas/Intel, a imagem do Lula, como presidente, era positiva para 51% e negativa para 45% dos entrevistados. Agora, o quadro se inverteu, com imagem negativa para 49% e positiva para 47%. Andrei Roman, CEO do instituto, aponta a fala dele sobre os ataques de Israel como um dos motivos para essa piora, junto da postura do presidente sobre as eleições venezuelanas.

Como mostrou o Estadão, Lula se disse feliz pelo ditador Nicolás Maduro marcar o pleito no País e sugeriu que oposição não questione a lisura do processo. No fim de janeiro, o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) da Venezuela declarou María Corina Machado, principal nome da oposição, como impedida de disputar a eleição deste ano, entre outras decisões que barram opositores no País.

Percepção de aumento nos preços dos insumos

A pesquisa divulgada pela Quaest indica um aumento substancial na percepção de aumento de preços de insumos básicos. O índice diz respeito ao que o entrevistado sente no momento de realizar as compras e não corresponde, necessariamente, aos índices de inflação auferidos por institutos especializados em estatísticas econômicas.

Ainda assim, a percepção de preço é suficiente para influenciar a opinião pública em relação à atuação do governo na área econômica.

Em dezembro, data em que foi realizado o levantamento anterior da Quaest, 48% dos entrevistados disseram ao instituto que, para eles, os preços dos alimentos "subiram no último mês". Na pesquisa de fevereiro, o índice disparou para 73%. No mesmo sentido, na pesquisa anterior, 36% disseram que sentiram um aumento no preço dos combustíveis. Em fevereiro, a percepção subiu 15 pontos porcentuais, indo a 51%.

Economia

A Atlas/Intel apurou que a percepção geral dos entrevistados é de que a economia brasileira vai mal. Para 53%, a situação econômica do País é "ruim". É a primeira vez desde o início do terceiro mandato de Lula que o porcentual supera os 50%. Na pesquisa anterior, realizada em janeiro, 47% dos brasileiros afirmaram que a economia estava indo mal.

Em comparação, na análise da semana passada, 28% disseram que a economia está "boa" e 19% que está "normal".

Na pesquisa Quaest, 38% disseram que a economia do País piorou nos últimos 12 meses, frente a 26% que opinaram que ela melhorou. Em dezembro, na pesquisa anterior, a situação estava invertida: 34% avaliavam que a economia melhorou, enquanto quem viu ela piorando foram 31%.

Segurança pública e corrupção

A Atlas/Intel entrevistou 3.154 pessoas e pediu para cada entrevistado elencar quais seriam os três principais problemas do País. As áreas mais citadas foram "Criminalidade e tráfico de drogas", com 59,9% mencionando a questão como um problema para o Brasil, e "Corrupção", com 58,8%.

Os temas destoam de forma disparada em relação aos demais: a terceira área mais citada foi "Pobreza, desemprego e desigualdade social", lembrada por 20,6% dos pesquisados. E, justamente nas áreas apontadas como mais importantes para a formação de opinião dos entrevistados, o governo Lula não tem apresentado bons índices de avaliação, como demonstra a Atlas/Intel.

Em janeiro de 2024, 52% haviam dito ao instituto que avaliavam o governo como "ruim" ou "péssimo" na área de segurança pública, porcentual que já representava, na ocasião, a área com avaliação mais problemática para o governo. Na pesquisa divulgada nesta semana, o índice foi a 66%.

No quesito "Justiça e combate à corrupção", a avaliação também piorou. Em janeiro, a opinião de que o governo era "ruim" ou "péssimo" nessa área era de 48%. No início de março, o índice foi a 55%.

Persistência da polarização Lula e Bolsonaro

Cada instituto possui uma metodologia de pesquisa distinta para auferir os índices de opinião, mas os três levantamentos são unânimes em indicar que, quase um ano e meio depois do segundo turno presidencial em 2022, a polarização entre Lula e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) segue viva na mente do entrevistado.

Polarização entre Lula e Bolsonaro, que marcou eleição presidencial em 2022, persiste na cabeça do eleitor
Polarização entre Lula e Bolsonaro, que marcou eleição presidencial em 2022, persiste na cabeça do eleitor
Foto: André Dusek/Estadão e Gabriela Biló/Estadão / Estadão

As pesquisas têm diferenciado as respostas em relação ao candidato escolhido na eleição passada. O Ipec, por exemplo, questionou os pesquisados sobre a aprovação ao governo de Lula e cruzou os dados em relação aos diferentes eleitorados. Entre eleitores de Lula, 84% aprovam a gestão federal. Entre os que votaram em Bolsonaro, a desaprovação é de 83%.

Os índices apontam que Lula não consegue influenciar a opinião de quem não votou nele em 2022, o que cria um teto estreito para o petista aumentar sua aprovação.

Saiba mais sobre as pesquisas de opinião

O Quaest fez 2.000 entrevistas presenciais entre os dias 25 e 27 de fevereiro. A margem de erro é de 2,2 pontos porcentuais e o índice de confiança é de 95%. A pesquisa Atlas/Intel entrevistou 3.154 pessoas pela internet entre os dias 2 e 5 de março de 2024, com margem de erro de 2 pontos porcentuais e índice de confiança de 95%. O levantamento do Ipec ouviu 2.000 pessoas presencialmente, com margem de erro de 2 pontos porcentuais e índice de confiança de 95%.

Estadão
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