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Política

Presidente de confederação de tiro é alvo de operação da PF contra tráfico internacional de armas

Fernando Humberto Henrique Fernandes é foragido da Justiça e testemunhou a favor de Ronnie Lessa, apontado como executor da vereadora do Rio Marielle Franco; defesa nega que ele participe de quadrilha investigada pela Polícia Federal

4 abr 2024 - 20h32
(atualizado em 10/4/2024 às 17h00)
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BRASÍLIA - O fundador da Confederação de Tiro e Caça do Brasil, Fernando Humberto Henrique Fernandes, foi alvo de busca e apreensão em uma operação da Polícia Federal (PF) deflagrada nesta quinta-feira, 4. A PF investiga uma quadrilha suspeita de traficar armas de fogo entre o Brasil e os Estados Unidos. Em 2020, Fernando Humberto foi testemunha de defesa do ex-policial militar Ronnie Lessa, assassino confesso da vereadora do Rio Marielle Franco (PSOL). Tenente do Exército, ele está foragido desde 2015, quando foi condenado a um ano e quatro meses de prisão pelo crime de calúnia.

O presidente da Confederação de Tiro e Caça do Brasil, Fernando Humberto Henriques Fernandes
O presidente da Confederação de Tiro e Caça do Brasil, Fernando Humberto Henriques Fernandes
Foto: @confederacao.ctcb via Facebook / Estadão
O presidente da Confederação de Tiro e Caça do Brasil, Fernando Humberto Henriques Fernandes
O presidente da Confederação de Tiro e Caça do Brasil, Fernando Humberto Henriques Fernandes
Foto: @confederacao.ctcb via Facebook / Estadão

Ao todo foram realizados seis mandados de busca e apreensão na capital carioca e nas cidades paranaenses de Curitiba e Maringá. Segundo a PF, o grupo investigado também fazia um comércio clandestino de materiais bélicos a facções criminosas e milícias do Rio de Janeiro.

Endereços de Fernando Humberto foram vasculhados pel PF na manhã desta quinta. Segundo fontes da corporação ouvidas pelo Estadão, os investigadores suspeitam que Fernando Humberto teria sido o intermediador do tráfico internacional.

Sediada no centro do Rio, a CTCB reúne clubes estaduais de atiradores que credenciam caçadores, atiradores e colecionadores (CAC's). A confederação também é responsável por cadastrar clubes e organizar competições de tiro.

De acordo com a PF, a investigação começou a partir de informações cedidas pela Receita Federal que mostraram que o grupo importava material bélico de forma irregular e contratou uma empresa que trabalha com efeitos cinematográficos para armazenar os armamentos. Segundo os policiais, a quadrilha afirmava que estava guardando armas de festim para não levantar suspeitas sobre a atividade criminosa.

No Rio de Janeiro, foram apreendidas 34 armas de fogo. No Paraná, os policiais coletaram 94 carregadores de alta capacidade, 12 kits para conversão de armas de fogo, 262 carregadores de pistola, 22 carregadores de fuzil e 32 bandoleiras táticas.

Ao Estadão, o advogado Ary Brandão de Oliveira, responsável pela defesa de Fernando Humberto, afirmou que ele possui permissão do governo dos Estados Unidos para comercializar armas entre os dois países. Ary também disse que o fundador da confederação tem dupla cidadania americana e estava nos EUA durante a operação da PF.

"Nós iremos apresentar autorizações do que é tido como ilegal. Ele tem permissão do governo americano para o comércio de armas de fogo, da mesma forma que ele representa empresas do ramo no Brasil, com autorização do Exército Brasileiro", afirmou Ary Brandão.

Foragido da Justiça, Fernando Humberto foi a tribunal testemunhar a favor de Ronnie Lessa e não saiu preso

Em março de 2015, Fernando Humberto foi condenado pelo Superior Tribunal Militar (STM) a um ano e quatro meses de prisão pelo crime de calúnia. Desde então, ele está foragido da Justiça e não se apresentou para cumprir a pena.

Em agosto de 2020, ele foi presencialmente no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) como testemunha de defesa de Ronnie Lessa. Mesmo tendo o mandado de prisão expedido pelo STM, Fernando Humberto não foi preso pelos magistrados do TJ-RJ. O Estadão procurou a Corte militar, mas não obteve retorno.

Segundo o inquérito da PF sobre a morte de Marielle Franco, divulgado recentemente, Lessa foi o responsável por executar a parlamentar e o motorista dela, Anderson Gomes, no dia 14 de março de 2018, no centro do Rio.

Fernando Humberto afirmou aos juízes do TJ-RJ que a arma usada para matar Marielle e o motorista Anderson Gomes pode não ter sido uma submetralhadora MP5, diferentemente do que os investigadores concluíram. Ele disse aos magistrados que não era amigo de Ronnie e que falaria como especialista em armamentos bélicos.

"Pra mim, não é uma MP5 porque MP5 é tiro agrupado e é a melhor metralhadora do mundo. Pra mim isso aqui é uma Uzi (metralhadora) ou é uma Glock (pistola). Lambança porque o tiro tá todo espalhado. São 10 tiros que ele me mostrou aí, dez espalhados... Se fosse a MP5 estaria tudo concentrado", afirmou o fundador da confederação.

Ao Estadão, Ary Brandão afirmou que Lessa era filiado da confederação, mas que a relação entre os dois era a de fundador e associado. "O Ronnie Lessa, através dos advogados, pediu que o Fernando Humberto explicasse questões técnicas, como forma de mostrar que não seria possível ter sido ele o executor", disse o advogado.

Estadão
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