Presidente do Republicanos não abre as portas para Bolsonaro
"Querem comandar o partido do jeito deles", disse o deputado Marcos Pereira
Presidente do Republicanos, partido que abriga dois dos três filhos políticos de Jair Bolsonaro, o deputado Marcos Pereira (SP) disse não haver hipótese de oferecer o controle da sigla para atrair o presidente. Desde que a ideia de fundar o Aliança pelo Brasil naufragou, Bolsonaro busca uma legenda para se filiar. "Não abro mão do comando do partido para ninguém, nem para o presidente da República", afirmou Pereira, que hoje é vice-presidente da Câmara.
Segundo o dirigente do Republicanos, partido ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, tanto o senador Flávio Bolsonaro (RJ) quanto o vereador Carlos Bolsonaro (RJ) estão na sigla apenas "de passagem". O partido contabiliza crescimento nas eleições municipais, ao pular de 103 para 208 prefeitos, e agora almeja a presidência da Câmara.
O Republicanos pode ser considerado de direita, ocupando um lugar que, inicialmente, se esperava para o PSL, antigo partido do presidente Bolsonaro?
Somos um partido que se posiciona como centro-direita, um pouco mais para a direita. Mas não pode ser jamais, em tempo algum (bate na mesa para reforçar), um partido radical, de extrema direita. Obviamente, se eu tenho dois filhos do presidente, isso leva mais um pouquinho para a direita, mas tenho pessoas que são mais progressistas e isso traz equilíbrio. Até porque os filhos do presidente, eu não tenho dúvida, estão de passagem pelo partido, por um pragmatismo local.
Esse 'de passagem' pode soar como um convite para os filhos saírem logo do partido?
Não se trata de um convite. É público e notório que eles estão tentando viabilizar um partido. Se viabilizarem, vão para lá. E, se não viabilizarem, a tendência é que acompanhem o pai no partido que ele for.
Mas o Republicanos tem vontade de ter o presidente?
O partido tem vontade de ter um presidente da República, mas não necessariamente o Bolsonaro. Um dia, quem sabe.
Se Bolsonaro pedir para se filiar ao Republicanos, o sr. aceita?
Teríamos de avaliar. Em 2017, conversei com o presidente quatro vezes porque o PRB (antigo nome do Republicanos), à época, era uma opção para ele. Alguns no partido foram entusiastas, outros, refratários. Se a condição (para entrar) for ele ter o comando do partido, não virá para o Republicanos, porque eu não abro mão do comando do partido para ninguém, nem para o presidente da República.
O fato de o Republicanos não ser de extrema-direita seria outro empecilho?
O principal empecilho passa por essa questão de eles quererem comandar o partido do jeito deles, vetar pessoas. Não vetamos ninguém.
O apoio do presidente prejudicou Celso Russomanno, candidato derrotado do Republicanos na eleição para a Prefeitura?
Acho que não. Acho que o apoio do presidente não prejudicou nem ajudou. Mostrou um histórico que não é bom, mas que se repetiu pela terceira vez. Um histórico de que a população não quer o Celso Russomanno prefeito de São Paulo. É simples assim.
A reeleição do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), está descartada?
O que ele tem dito para mim é que, mesmo que o Supremo Tribunal Federal lhe dê o direito de se candidatar, ele não exercerá esse direito. Quero acreditar na palavra dele.
Se ele mudar de opinião, poderá ter seu apoio?
Se ele mudar de opinião, eu teria de conversar com a bancada. Vai ser muito ruim para a biografia dele. Ninguém tem dúvida no meio político de que Maia, saindo da presidência em 31 de janeiro, sairá gigante, infinitamente maior do que entrou.
O sr. é candidato?
Está colocada a pré-candidatura. Estamos reunindo um grupo, que envolve esse centro independente. Não é uma candidatura contra o Bolsonaro, é a favor da Câmara dos Deputados e da independência dos Poderes. Nos próximos dez dias, vamos decidir o nome mais viável.
Quem está nesse bloco?
O DEM, o MDB, o PSDB e o Cidadania são do grupo original. Os que deverão vir são Republicanos e PSL, além de PROS e PTB, que dizem que deverão vir também. E vamos buscar os demais que estão soltos, como PV, Podemos, Novo, PSC.
É uma desidratação do Centrão, comandado pelo deputado Arthur Lira (PP-AL). Mas até então o Republicanos era considerado parte desse grupo...
É um erro considerar isso, nunca foi. É só olhar o comportamento do partido em plenário. Várias vezes os partidos mais alinhados ao Lira orientaram obstrução e nós orientamos de acordo com o que achávamos.
Caso seja eleito, como tratará as pautas de costume?
Sou evangélico, não posso negar isso. Mas não sou militante da pauta de costumes, até porque acho os radicalismos preocupantes. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.