Prestes a receber sentença, Kirchner diz que ela e Lula são perseguidos pela Justiça
Vice-presidente da Argentina será julgada nesta terça-feira, 6, acusada de esquema de corrupção no país
Cristina Kirchner, vice-presidente da Argentina, se comparou ao presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao dizer que os dois são alvo de perseguição da Justiça e da mídia. Em entrevista para Mônica Bergamo, do jornal Folha de S. Paulo, ela comentou sobre o julgamento cuja sentença sairá nesta terça-feira, 6, sobre as acusações de liderar um esquema de corrupção em seu país.
Na conversa, Kirchner negou as acusações da Promotoria, que pede 12 anos de prisão para a vice-presidente, e disse ser vítima do "pelotão de fuzilamento" formado por juízes que agem por motivações políticas. Ela fala em tentativa de estigmatizar governos populares, "dizendo que são ladrões".
"Eu vi nessas últimas eleições no Brasil jovens dizendo: 'Não vamos votar no Lula porque ele foi preso, não vamos votar em presidiário, em ladrão'. Essa é a construção do senso comum por parte não apenas do Judiciário, mas também da mídia. Porque os juízes não podem fazer o que fazem se não tiverem um braço midiático", argumentou.
Kirchner menciona a existência de um "Partido Judicial", como chamou, que atua em diversos países da América Latina. Esse grupo cumpriria uma função que era exercicida pelos militares em ditaduras, com a intenção de controlar o povo e perseguir governantes que, como ela e Lula "promovem a inclusão social e a defesa do patrimônio nacional". As palavras são da própria vice-presidente.
"O fenômeno do 'Partido Judicial' aconteceu com Lula, com [o ex-presidente do Equador Rafael] Correa e acontece comigo", afirmou. "A diferença é que as mesmas pessoas que o meteram preso [Lula] depois foram buscá-lo e reverteram o que tinham feito. E por quê? Porque chegou [o presidente Jair] Bolsonaro, um personagem que fez muito mal ao país e a muitos atores da vida brasileira [...] Portanto, aqueles que insultaram Lula e permitiram que Dilma [Rousseff] sofresse impeachment, finalmente deram toda la vueltita [fizeram um giro, em tradução para o português] e terminaram admitindo que o juiz [Sergio] Moro tinha sido absolutamente parcial".
"Se Bolsonaro fosse mulher, estaria preso"
Cristina Kirchner também falou a respeito do presidente Jair Bolsonaro para exemplificar os desafios de ser uma mulher na política. Segundo a vice-presidente argentina, se Bolsonaro fosse uma mulher, "já estaria preso".
"Sou mulher, esse é o problema. Se eu gritar, 'histérica, ela está gritando, louca, louca'. Se é homem, ele é forte. Se o Bolsonaro, em vez de homem, fosse mulher, já estava preso, já estava preso", completou.
Atentado
A vice-presidente da Argentina comentou ainda a tentativa de assassinato que sofreu em setembro deste ano, quando o brasileiro Fernando Andrés Sabag Montiel disparou contra sua cabeça. A arma falhou.
Na conversa, Kirchner disse que não percebeu que estava sendo alvo de um atentado e ressaltou acreditar que o ataque teve um mandante por trás.
"Eu nem percebi. Não vi nem ouvi nada. Os psicólogos dizem que foi muito melhor, porque o impacto da cena nunca se apaga", pontuou. "Depois que tudo foi analisado, se vê claramente que os que estão presos foram apenas os autores materiais. Existem ideólogos e autores intelectuais do atentado."
Questionada se teria medo de morrer ou de ser presa, o que pode acontecer a partir desta terça-feira, Kirchner foi enfática: "Eu temo a Deus, nada mais".