Prisão de Queiroz foi 'espetaculosa', diz Bolsonaro
"Parecia que estavam prendendo o maior bandido da face da terra", disse Bolsonaro.
O presidente Jair Bolsonaro tratou como "espetaculosa" a prisão do ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz, encontrado nesta quinta-feira (18) em um imóvel do advogado Frederick Wassef, que defende o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). Wassef também se apresenta como "consultor jurídico" do presidente. "Parecia que estavam prendendo o maior bandido da face da terra", disse Bolsonaro.
A declaração, em transmissão ao vivo na internet, ocorreu após ministros e advogados passarem o dia discutindo uma estratégia para tentar desvincular Wassef do presidente. Pela manhã, auxiliares foram convocados às pressas para uma reunião de emergência, no Palácio no Planalto. A prisão do ex-assessor de Flávio, filho mais velho do presidente, foi discutida no encontro, que durou duas horas. A conclusão foi a de que era preciso tentar afastar Wassef de Bolsonaro.
À tarde, a advogada Karina Kufa divulgou nota para afirmar que Wassef não representa o presidente em nenhuma ação judicial. "O advogado Frederick Wassef não presta qualquer serviço advocatício em nenhuma ação em que seja parte o senhor Jair Messias Bolsonaro e não faz parte do referido escritório, não constando seu nome em qualquer processo", diz a nota assinada por Kufa.
O comunicado, porém, não cita o livre acesso de Wassef nos palácios do Planalto e da Alvorada. O advogado esteve ao menos oito vezes com Bolsonaro nos últimos meses, mas nem todas as visitas foram registradas na agenda - apenas três delas. A interlocutores, Wassef sempre se vangloriou da proximidade com a família presidencial. Recentemente, contou ter sido chamado pelo presidente para dar uma volta de jet-ski no Lago Paranoá.
Embora o advogado não represente Bolsonaro em ações judiciais, Wassef se apresenta como consultor jurídico do presidente. Questionado pelo Estadão no fim do ano passado sobre por que não constava nos processos, Wassef justificou que indicava profissionais para fazer o serviço.
'Meu advogado'
A presença do advogado sempre incomodou os auxiliares mais próximos do presidente, que o viam com desconfiança. Wassef se aproximou de Bolsonaro em 2014, mas ganhou a confiança do clã presidencial justamente com o caso Queiroz, quando passou a frequentar o Planalto.
Em dezembro do ano passado, o próprio Bolsonaro disse à imprensa que era representado por Wassef. O presidente se reuniu com o advogado e com Flávio no Palácio da Alvorada, em 18 de dezembro de 2019 - dia em que foi deflagrada uma operação no Rio de Janeiro para investigar um esquema de "rachadinha" no gabinete do filho "01". A prática consiste no repasse de parte do salário do servidor a políticos e assessores.
No dia seguinte, o presidente foi questionado sobre a operação, e disse aos repórteres para perguntarem ao seu advogado.
"O senhor esteve aqui com o advogado ontem?", indagou um repórter. "Estive. Ele é meu advogado no caso Adélio (Bispo, autor de uma facada contra o presidente, na campanha eleitoral de 2018)", respondeu Bolsonaro, que havia se reunido com Wassef e Flávio na véspera.
Tensão
Ao longo de todo o dia de ontem, o clima no governo foi tenso. A avaliação é de que a prisão do ex-assessor parlamentar em um endereço do advogado ligado ao presidente colocou o caso da "rachadinha" dentro do Palácio do Planalto. Desde o início das investigações do esquema na Assembleia Legislativa do Rio, o governo trabalhou para blindar o mandato do presidente.
Auxiliares de Bolsonaro afirmam que o governo continuará insistindo na narrativa de que, se houve algum problema, foi localizado no gabinete de Flávio e, portanto, sem qualquer ciência do presidente. Outra estratégia é evitar comentários sobre o caso, em uma tentativa de, mesmo nos bastidores, passar a imagem de que não se trata de um assunto de preocupação do Planalto.
Ao mesmo tempo, integrantes do Planalto avaliam que a prisão de Queiroz reforçará o discurso do presidente de que há uma perseguição política e conspiração contra ele e sua família para desestabilizar o governo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.