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Política

'PT fez aliança com a direita e se associou ao Rato', diz Requião, após deixar o partido

Ex-governador do Paraná critica rumos do governo Lula 3, faz referência jocosa ao atual governador do Estado, Ratinho Júnior, diz que não está atrás de cargos e vê erro na tendência do PT de apoiar Ducci à Prefeitura de Curitiba

27 mar 2024 - 15h50
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BRASÍLIA - O ex-governador do Paraná Roberto Requião pediu desfiliação do PT nesta quarta-feira, 27, fazendo fortes críticas ao partido e aos rumos tomados até agora pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu terceiro mandato. Dois anos após ter se integrado às fileiras petistas, o ex-governador disse se sentir abandonado pelo PT, que, na sua avaliação, se transformou em uma sigla de decisões autoritárias.

Roberto Requião (à direita) disse que governador do Paraná, Ratinho Júnior, teve o apoio de Lula para o "pedágio mais caro do Brasil"
Roberto Requião (à direita) disse que governador do Paraná, Ratinho Júnior, teve o apoio de Lula para o "pedágio mais caro do Brasil"
Foto: Reprodução/Facebook e Divulgação/PT / Estadão

"O PT fez aliança com a direita e se associou ao Rato", afirmou Requião ao Estadão, numa referência jocosa ao governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD). "Não tem mais partido. Tem agora um grupo no PT que manda de cima para baixo".

Requião entrou no PT na campanha de 2022, após quatro décadas de filiação ao MDB. "Eu já estava desgostoso com o MDB, que foi liquidado pela fisiologia política, e optei pelo PT porque queria ajudar a derrotar o bolsonarismo no Paraná", argumentou o ex-governador, que administrou o Estado três vezes e também foi senador. Em 2022, porém, ele perdeu a disputa ao Palácio Iguaçu para Ratinho Júnior, que foi reeleito.

"Depois, Lula me ligou e disse que queria conversar comigo sobre o Paraná, mas essa conversa nunca aconteceu e ele se afastou completamente", relatou Requião. "Chegaram a me propor cargo no Conselho de Administração da Itaipu e em outros lugares, mas não estou atrás de emprego."

Agora, na eleição para a Prefeitura de Curitiba, o PT caminha para apoiar a candidatura do deputado Luciano Ducci (PSB), adversário político de Requião. Tanto que, nesta terça-feira, 26, o Diretório Nacional do PT decidiu empurrar a última palavra sobre a tática eleitoral a ser adotada em Curitiba e em outras três cidades (Rio, Recife e João Pessoa) para a Executiva do partido, que vai se reunir em abril.

A decisão de lançar ou não chapa própria na capital do Paraná embute uma queda de braço entre a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e o deputado Zeca Dirceu, que quer concorrer à Prefeitura. O grupo de Zeca acusa Gleisi de ter feito acordo para respaldar a campanha de Ducci.

Em troca, o PSB apoiaria a presidente do PT na intenção de concorrer à cadeira do senador Sergio Moro (União Brasil), caso ele tenha o mandato cassado. O Tribunal Regional Eleitoral (TER) do Paraná marcou o julgamento de ações que pedem a cassação de Moro por abuso do poder econômico para o próximo dia 1.º.

"Fizeram acordo com um cara que já foi prefeito (Ducci) e que votou com a direita no Congresso. O PT deveria escolher o seu candidato em Curitiba. O que vai ser diferente de hoje? A cidade está totalmente abandonada", disse ele.

Requião afirmou, ainda, que esperava "transformações" por parte de Lula. "Mas ele se associou com o Rato e fez o pedágio mais caro do Brasil, além de apoiar as privatizações da Sanepar, do Porto de Paranaguá e a venda da Copel", criticou.

Ratinho Júnior é citado como pré-candidato do PSD à cadeira de Lula

Ratinho Júnior é um dos nomes citados pela direita para concorrer ao Palácio do Planalto, em 2026, quando Lula pretende disputar um novo mandato. Pesquisas indicam que o presidente e o PT ainda sofrem forte rejeição no Paraná, berço da Lava Jato.

Lula orientou o partido a só lançar candidatos próprios em cidades onde tenha chance de vencer a eleição. Toda a estratégia está sendo montada projetando o cenário de 2026, quando o PT quer construir uma frente mais ampla de apoio em torno de Lula já no primeiro turno.

Apesar de ter saído das fileiras petistas, Requião disse que não fará oposição ao governo e afirmou não ter definido seu próximo destino partidário. "Eu apoiei o Lula para remover Bolsonaro. Se não fosse o Lula, nunca saberíamos quem mandou matar a Marielle", destacou. Mesmo assim, o ex-governador não poupou críticas ao que chamou de "erros" do governo, sobretudo à política econômica levada a cabo pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

"Do ponto de vista econômico, o governo Lula está repetindo a política do Paulo Guedes", disse Requião, ao citar o ministro da Economia do então presidente Jair Bolsonaro. "E o que estão fazendo na Petrobrás, então? É um crime. Estão acabando com a empresa. O PT faz o jogo do mercado."

Na Assembleia Legislativa, o deputado estadual Requião Filho tem endossado as críticas do pai, mas, por enquanto, continuará filiado ao PT. "Ele nem pode sair porque perderia o mandato", observou o ex-governador.

Procurados, Lula e Gleisi não quiseram responder às críticas de Requião.

Ao lado de Lula e Gleisi, Requião e seu filho assinaram ficha de filiação ao PT do Paraná em 2022: casamento de conveniência.
Ao lado de Lula e Gleisi, Requião e seu filho assinaram ficha de filiação ao PT do Paraná em 2022: casamento de conveniência.
Foto: Eduardo Matysiak/Divulgação / Estadão
Roberto Requião (à direita) disse que governador do Paraná, Ratinho Júnior, teve o apoio de Lula para o "pedágio mais caro do Brasil"
Roberto Requião (à direita) disse que governador do Paraná, Ratinho Júnior, teve o apoio de Lula para o "pedágio mais caro do Brasil"
Foto: Reprodução/Facebook e Divulgação/PT / Estadão
Estadão
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