Queiroz deve depor sobre suposto vazamento da Furna da Onça
Ex-assessor de Flávio Bolsonaro, que frequentava restaurantes em Atibaia onde foi preso, deve ser ouvido nesta segunda-feira
Preso desde o dia 18 acusado de operar o esquema de "rachadinha" no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro e de obstrução à Justiça, o ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz deve ser ouvido nesta segunda-feira, 29, no Rio, pela primeira vez desde que seu nome veio à tona, em dezembro de 2018.
Advogados envolvidos na defesa de Queiroz foram comunicados no sábado, 27, que o ex-assessor será interrogado pelos investigadores da Operação Furna da Onça, no inquérito que apura o vazamento de informações sigilosas. Queiroz e Flávio, hoje senador pelo Republicanos, foram intimados depois de o empresário Paulo Marinho, ex-aliado dos Bolsonaro, dizer que o gabinete foi informado com antecedência da investigação sobre as "rachadinhas".
Desde que o Estadão revelou as movimentações financeiras atípicas no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio, no dia 6 de dezembro de 2018, Queiroz se recusava a depor presencialmente diante dos responsáveis pela investigação. Ele se limitou a enviar um depoimento por escrito no qual isenta o filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro de culpa.
A possibilidade de Queiroz estar pela primeira vez frente a frente com os investigadores é motivo de preocupação entre pessoas próximas ao presidente que acompanham o caso. Elas veem o risco de o ex-assessor fazer uma delação premiada em troca de proteção à família. A mulher de Queiroz, Márcia, também teve a prisão decretada e está foragida desde o dia 18.
O motivo da preocupação é o frágil estado emocional do ex-assessor. No tempo em que ficou em Atibaia, no interior de São Paulo, Queiroz deixava claro que sabia que mais cedo ou mais tarde acabaria preso. Nas imagens interceptadas pelo Ministério Público que embasaram o pedido de prisão, ele aparece sorridente fazendo churrasco com a camisa do Vasco e uma cerveja na mão, mas o dia a dia do ex-assessor em Atibaia era bem diferente, segundo pessoas que conviveram com ele.
Queiroz tomava antidepressivos e vivia reclamando das dores e sequelas causadas pelo câncer no intestino - que trata no Hospital Albert Einstein, em São Paulo.
"Não era uma rotina de festa. Era uma rotina normal", disse ao Estadão Ana Flávia Rigamonti, que trabalhava no escritório do ex-advogado de Flávio, Frederick Wassef, onde Queiroz foi preso.
Ele passava a maior parte do tempo vendo televisão, além de filmes e séries em plataformas de streaming. Pouco falava sobre política ou sua relação com a família Bolsonaro, e se queixava de saudade da família.
Algumas vezes recebeu a visita da mulher e dos três filhos. Também ia ao Rio, onde passava temporadas mais longas. Para isso, pegava emprestado o carro de Ana Flávia.
Uma pessoa que acompanha a investigação resumiu da seguinte maneira o estado de ânimo de Queiroz em Atibaia: "Abandonado, puto, sem dinheiro, sem emprego, vendo os amigos de 30 anos no bem bom".
Ao longo de mais de um ano em que ficou na casa de Wassef, Queiroz fez apenas um amigo na cidade, o comerciante Daniel Carvalho, dono da loja de conveniência em um posto de gasolina próximo. Ele ia almoçar quase diariamente no restaurante montado em um deque ao lado da loja. Depois, Carvalho passou a levá-lo para passeios e consultas médicas em Atibaia e Bragança Paulista.
O "point" de Queiroz em Atibaia era o "deque do Daniel", que às vezes serve espetinhos na brasa, mas ele também frequentava pizzarias, churrascarias e lanchonetes na cidade. Nestas incursões, nunca escondeu a verdadeira identidade, mas usava boné e óculos escuros para evitar ser reconhecido.