Quem é André do Prado, presidente da Alesp que pode ser vice na reeleição de Tarcísio em 2026
Deputado estadual que garantiu vitórias em série para o atual governador paulista e mantém bom diálogo com a oposição, agora se destaca como peça-chave do PL para as próximas eleições
À frente do maior parlamento estadual da América Latina, a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), André do Prado (PL) viu sua trajetória política dar um salto em 30 anos: começou com 241 votos na sua primeira eleição como vereador em Guararema (SP) e chegou a 216 mil na mais recente disputa para deputado estadual. Com a expectativa de ser reconduzido ao comando da Alesp em uma articulação inédita, que conta com o apoio até mesmo da oposição, André viu sua influência no PL crescer nos últimos meses, quando passou a figurar nos bolsões de apostas como possível vice na chapa do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), à reeleição.
Em seu quarto mandato consecutivo na Assembleia paulista, André chegou à presidência da Casa graças a uma articulação de Valdemar Costa Neto, presidente nacional do PL. Embora não fosse a escolha inicial de Tarcísio para o posto, André conquistou a confiança do governador ao viabilizar a aprovação de todos os projetos de interesse do Executivo, incluindo a privatização da estatal de saneamento (Sabesp) - o mais impopular de todos -, a PEC da Educação e o programa de escolas cívico-militares. Hoje, ele é visto como um dos principais aliados de Tarcísio no Legislativo estadual.
O alinhamento com o governador é alvo de críticas de parlamentares tanto à esquerda quanto à direita. André não nega a proximidade, mas defende sua autonomia: "Realmente, a gente é alinhado. Eu tenho que ser alinhado, apesar de não ser alienado", disse ele, em entrevista ao Estadão. "Existe harmonia, mas também uma grande independência. Nós mexemos no orçamento [do estado] e nunca votamos tantos projetos de parlamentares nesta Casa como agora".
Embora filiado ao partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, André vive uma situação inusitada na Alesp: é visto com bons olhos pela oposição, em especial, pelos deputados do PT. Parlamentares petistas ouvidos reservadamente pelo Estadão dizem que André tem uma postura mais "democrática" do que seus antecessores e consegue manter diálogo com todos os deputados e atender às demandas da oposição. A relação amistosa com o PT é motivo de ciúmes em alguns colegas de partido. Um deles brincou, reservadamente, que André é o "melhor presidente que o PT poderia ter" na Casa.
O deputado atribui a boa relação com o PT ao seu perfil conciliador. "Eu sou de uma ala mais moderada. Uma ala que procura fazer uma convergência maior do que uma ala, muitas vezes, que tem um pensamento mais forte, direcionado", diz.
Entre os gestos elogiados por deputados do PT, destaca-se a decisão de não usar a figura do relator especial — mecanismo pelo qual a Presidência da Alesp designa um deputado para emitir parecer único sobre determinado projeto, acelerando sua tramitação e atropelando as discussões na Casa. Esse recurso poderia ter sido usado em temas polêmicos, como a privatização da Sabesp, mas André optou por não recorrer a essa estratégia. O presidente também ganhou pontos com a oposição ao aceitar a realização de uma audiência pública sobre a venda da empresa de saneamento, mesmo sem obrigação formal de fazê-la.
Por outro lado, sua condução durante a votação que autorizou a venda da empresa foi duramente criticada e marcou um dos momentos mais tensos da atual legislatura. A sessão virou palco de confrontos entre manifestantes e a Polícia Militar, com direito a gás de pimenta que se espalhou pelo plenário, obrigando o presidente a interromper a sessão. Apesar dos apelos para suspender a votação e retomar outro dia, André foi irredutível e levou o processo até o fim naquela noite.
Deputados da base afirmam que André "apostou tudo" na votação da Sabesp, que poderia ter terminado em tragédia. "Foi uma linha tênue entre o sucesso e o fracasso. Depois desse episódio, ele se fortaleceu com Tarcísio", resume um parlamentar filiado ao PL.
Deputado é cotado para vice ou Senado
Com um perfil conciliador, concessões à oposição e uma gestão marcada pela aprovação de projetos dos deputados, André do Prado conquistou prestígio entre os parlamentares e capital político, que lhe garantiu, em poucos minutos e com o apoio de parte da oposição, a aprovação de uma PEC que autoriza sua reeleição e a de toda a mesa diretora. Ao que tudo indica, sua recondução em março deve ocorrer sem grandes dificuldades e com o patrocínio de Tarcísio.
A proximidade com o governador e a possibilidade de uma recondução inédita no parlamento paulista começaram a projetar André como um potencial nome para compor a chapa de Tarcísio à reeleição em 2026. Além de contar com a confiança do governador, o deputado tem bom trânsito com Valdemar Costa Neto e tem se aproximado do ex-presidente Jair Bolsonaro, mesmo tendo um perfil mais moderado. Na última campanha eleitoral, André participou de agendas ao lado de Bolsonaro e ampliou sua influência no Estado. Conseguiu eleger cerca de 50 prefeitos alinhados ao seu grupo político em cidades como Itaquaquecetuba, Mogi das Cruzes, Suzano e Jacareí.
Na capital paulista, ele se engajou na campanha do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que descreveu o deputado como "uma liderança em ascensão". "Hoje é um dos grandes aliados do governador e meu", disse Nunes, ao Estadão. "A política tem uma vida própria, as coisas vão acontecendo naturalmente, creio que o André, mesmo sem ter ambição, deve despontar [na eleição de 2026]." O emedebista cita como possibilidade uma candidatura do deputado ao Senado.
André trata as especulações para 2026 com naturalidade. "Está na mão de Deus. Se Deus falar: "olha, tem novos caminhos, novos projetos [para você]", vai acontecer naturalmente. Eu estou feliz, realizado no trabalho que eu faço, e serei, pelo menos mais uma vez, candidato a deputado estadual", diz ele. "Hoje eu me sinto preparado para qualquer desafio. Depois que você passa por uma presidência da Assembleia Legislativa, conhece o Estado como hoje eu conheço, não pode ter medo de enfrentar qualquer desafio. Porém, isso é uma conjuntura de vários partidos, de grupo político, de conjuntura nacional e estadual. Não é simplesmente uma decisão unilateral."