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Política

Quem é Chico Rodrigues, o senador com dinheiro na cueca

Senador mais votado por Roraima em 2018, vice-líder do governo Bolsonaro atua como político desde a década de 1980 e emprega primo dos filhos do presidente

15 out 2020 - 09h25
(atualizado às 15h42)
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Flagrado tentando ocultar dinheiro na cueca durante uma operação da Polícia Federal nessa quarta-feira, 14, o senador Chico Rodrigues (DEM-RR) é político profissional desde a década de 1980. Atual vice-líder do governo no Senado, Rodrigues passou 20 anos consecutivos na Câmara dos Deputados e chegou a assumir o governo de Roraima, tendo seu mandato cassado.

O vice-líder do governo no Senado, Chico Rodrigues (DEM-RR).
O vice-líder do governo no Senado, Chico Rodrigues (DEM-RR).
Foto: Jefferson Rudy/ Agência Senado / Estadão Conteúdo

Chico Rodrigues emprega em seu gabinete no Senado o assessor parlamentar Léo Índio, primo dos filhos do presidente Jair Bolsonaro, que já disse ter "quase uma relação estável com o senador".

Pernambucano de origem, Rodrigues assumiu seu primeiro cargo público após ter migrado para Roraima. Engenheiro Agrônomo por formação, foi convidado para assumir a Secretaria de Agricultura durante o governo de Arídio Martins de Magalhães, ainda na ditadura militar, entre 1983 e 1985. O primeiro mandato eletivo veio apenas em 1989, quando conquistou uma vaga na Câmara Municipal de Boa Vista.

A partir daí, a carreira do parlamentar decolou. Rodrigues deixou a vaga de vereador em 1991, quando foi eleito para o primeiro de seus cinco mandatos como deputado federal. Foram 20 anos consecutivos na Câmara Federal.

Além dos mandatos seguidos, chama a atenção o número de partidos pelos quais o senador já circulou. Desde 1987, quando se filiou ao MDB, foram 6 siglas defendidas: MDB, PTB, PPB (atual Progressistas), PFL/DEM, PSB e PSDB.

Nas eleições de 2010, o então deputado abriu mão de disputar a reeleição para tentar um plano mais ambicioso. O deputado do PSB resolveu aceitar ser vice na chapa do então governador José de Anchieta Júnior (PSDB), que venceu a eleição daquele ano. Com o afastamento do titular pela Justiça, em 2014, Rodrigues chegou a ser empossado governador, mas teve o mandato cassado no mesmo ano, por irregularidades cometidas pela chapa nas eleições de 2010.

Após quatro anos afastado dos mandatos eletivos, Rodrigues voltou a alcançar sucesso eleitoral em 2018. De volta ao DEM, partido que integrou desde os tempos de PFL, elegeu-se senador com 22,49% dos votos, sendo o mais votado do Estado.

Eldorado Expresso: PF encontra dinheiro na cueca de vice-líder do governo Bolsonaro:

"União estável" com Bolsonaro

Escolhido como vice-líder do governo Bolsonaro, o senador e o presidente mantém uma relação profissional desde os tempos em que ambos eram deputados. Os dois ocuparam cargos na Câmara Federal por 20 anos, no mesmo período.

Após a operação dessa quarta-feira, internautas resgataram vídeos em que o presidente troca elogios como o senador. Em um deles, Bolsonaro diz que a relação dos dois é "quase uma relação estável", enquanto Rodrigues ressalta o "resgate da moralidade" e o "patriotismo" do presidente.

A relação não acaba por aí. Chico Rodrigues emprega em seu gabinete no Senado o assessor parlamentar Leonardo Rodrigues de Jesus, conhecido como Léo Índio, filho da irmã de Rogéria Nantes, que é mãe do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos).

Léo Índio ganhou o cargo de confiança no Senado em abril de 2019. Ele é muito próximo de Carlos, com quem morou no Rio, e tem livre trânsito no Palácio do Planalto, onde esteve 58 vezes só nos primeiros 45 dias do governo Bolsonaro.

No Palácio do Planalto, auxiliares do presidente ouvidos pelo Estadão, sob reserva, disseram que Rodrigues deve deixar o cargo de vice-líder do governo. O argumento é que seria péssimo para a imagem de Bolsonaro manter o senador nesse posto depois do escândalo. A expectativa é a de que o próprio parlamentar entregue o cargo.

Dinheiro na cueca e justificativa

Chico Rodrigues tentou ocultar dinheiro na cueca durante uma operação da PF em Boa Vista que investiga desvios de recursos públicos destinados ao combate à pandemia de covid-19, oriundos de emendas parlamentares. A ordem de busca e apreensão foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso.

Segundo o Estadão apurou com duas fontes que tiveram acesso a informações da investigação, foram encontrados R$ 30 mil dentro da cueca do vice-líder do governo Jair Bolsonaro. Ao todo, os valores descobertos na casa do senador chegariam a R$ 100 mil. A investigação apura indícios de irregularidades em contratações feitas com dinheiro público, que teriam gerado sobrepreço de quase R$ 1 milhão.

Após a operação, o senador publicou uma nota dizendo estar tranquilo e acreditar na Justiça, afirmando, contudo, ter sido alvo de uma operação "apenas por ter feito o seu trabalho". Confira a nota na íntegra:

"Acredito na justiça dos homens e na justiça divina. Por este motivo estou tranquilo com o fato ocorrido hoje em minha residência em Boa Vista, capital de Roraima. A Policia Federal cumpriu sua parte em fazer buscas em uma investigação na qual meu nome foi citado. No entanto, tive meu lar invadido por apenas ter feito meu trabalho como parlamentar, trazendo recursos para o combate ao covid-19 para a saúde do Estado.

Tenho um passado limpo e uma vida decente. Nunca me envolvi em escândalos de nenhum porte. Se houve processos contra minha pessoa no passado, foi provado na justiça que sou inocente. Na vida pública é assim, e ao logo dos meus 30 anos dentro da política conheci muita gente mal intencionada a fim de macular minha imagem. Ainda mais em um período eleitoral conturbado como está sendo o pleito em nossa capital.

Digo a quem me conhece que, fiquem tranquilos. Confio na justiça, vou provar que não tenho, nem tive nada a ver com qualquer ato ilícito. Não sou executivo, portanto, não sou ordenador de despesas, e como legislativo sigo fazendo minha parte trazendo recursos para que Roraima se desenvolva. Que a justiça seja feita e que se houver algum culpado que seja punido nos rigores de lei."

Estadão
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