Quem é Luiz Fernando Corrêa, indicado de Lula para comandar a Abin
Ex-diretor-geral da Polícia Federal é conhecido de longa data dos governos petistas; especialista em segurança pública e no combate ao crime organizado, foi acusado pelo MPF por desvio de dinheiro público na organização dos Jogos Pan-Americanos do Rio
Nesta sexta-feira, 3, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou um novo nome para comandar a Agência Brasileira de Inteligência (Abin): o ex-diretor-geral da Polícia Federal Luiz Fernando Corrêa. Antes de assumir, ele terá de passar por uma sabatina na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado e ter seu nome aprovado no colegiado e no plenário da Casa.
Graduado em Direito pela Fundação Universidade do Rio Grande e formado pela Academia Nacional de Polícia, Corrêa é considerado um homem de confiança do presidente Lula. Ele já atuou como secretário nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça durante o primeiro mandato do petista entre novembro de 2003 até agosto de 2007.
No primeiro mandato da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2007, Corrêa assumiu a diretoria-geral da Polícia Federal, onde ficou até 2011, atuando na investigação de esquemas de corrupção. Um dos episódios emblemáticos foi a Operação Satiagraha, de 2008, que investigou desvio de verba pública e lavagem de dinheiro e resultou na prisão de políticos, empresários, doleiros, diretores de banco e investidores; dentre eles o banqueiro Daniel Dantas. Na época, a investigação foi criticada por membros do Poder Judiciário e do governo por supostos excessos.
Corrêa também atuou como diretor de segurança do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos Rio 2016, grupo criado em 2009 para organizar o evento no Brasil. A sua atuação no grupo, entretanto, durou pouco tempo. Ele deixou o cargo após revelação, no final de dezembro de 2011, que ele era alvo de uma ação de improbidade do Ministério Público Federal em Brasília por suspeitas de irregularidades nos Jogos Pan-Americanos do Rio, realizado em 2007.
Na acusação do Ministério Público Federal, Corrêa, que ocupava o posto de secretário Nacional de Segurança Pública à época dos jogos , e outros cinco citados, sendo quatro empresas, foram cobrados a devolver aos cofres públicos R$ 17,9 milhões por terem contratado de um consórcio, sem licitação, equipamentos de informática para ações de inteligência do evento. Na época, ele afirmou estar confiante na sua absolvição e que tinha intenções de buscar uma reparação por danos morais após as acusações. A ação acabou arquivada, e ele voltou para o cargo.
Especialista em segurança pública e no combate ao crime organizado, Corrêa também outras experiências na área além dos cargos no Executivo federal. Foi chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Superintendência da Polícia Federal no Rio Grande do Sul (1996 a 2001) e delegado regional de polícia da Superintendência da Polícia Federal no Distrito Federal (2001 a 2003).
Cenário da Abin
A nomeação de Corrêa chega em um momento de "desmilitarização" da Abin pelo governo Lula. Após o fracasso na antecipação e monitoramento das invasões do dia 8 de janeiro, o presidente optou por reformular o órgão em uma tentativa de "limpar" os serviços de inteligência e segurança institucional de militares ainda fiéis a Jair Bolsonaro.
Além da demissão e exoneração em massa, o presidente Lula transferiu a Abin para a Casa Civil, pasta diretamente ligada à Presidência da República e comandada por um dos ministros mais próximos do chefe do Executivo, Rui Costa. O órgão central do Sistema Brasileiro de Inteligência estava anteriormente sob comando do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), único ministério comandado por um militar na Esplanada, o general Gonçalves Dias. A decisão foi publicada nesta quinta-feira, 2, no Diário Oficial da União (DOU).
A mudança era esperada. A estratégia do governo é desmilitarizar a Abin, após o fracasso na antecipação e monitoramento das invasões do dia 8 de janeiro, e reformular o órgão em uma tentativa de "limpar" os serviços de inteligência e segurança institucional de militares ainda fiéis a Jair Bolsonaro. Titular do GSI na gestão passada, o general Augusto Heleno era um dos ministros mais próximos do ex-presidente.