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Política

Quem é o coronel Ricardo Mello Araújo, vice de Nunes em SP e amigo de Bolsonaro?

Militar reformado da Rota tornou-se próximo do ex-presidente ao declarar voto nele em 2018 durante entrevista

21 jun 2024 - 17h10
(atualizado às 17h26)
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O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, e o coronel da PM Ricardo Mello Araújo, ex-chefe da Rota.
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, e o coronel da PM Ricardo Mello Araújo, ex-chefe da Rota.
Foto: Taba Benedicto/Estadão e Reprodução/Instagram/@melloaraujo10 / Estadão

Acostumado a lidar com armas, o coronel Ricardo Augusto Nascimento de Mello Araújo bem que poderia atribuir a escolha de seu nome para ser o vice na chapa do pré-candidato Ricardo Nunes (MDB) a "um tiro que saiu pela culatra". Mello Araújo recorda que estava em uma entrevista quando um repórter lhe perguntou em quem pretendia votar para presidente: "Respondi que votaria no Bolsonaro".

Mello Araújo está convencido de que o repórter pretendia criar um constrangimento entre ele e o então governador de São Paulo Geraldo Alckmin, que também disputou o pleito em 2018. Não deu certo. À época, o coronel era o comandante da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) e diz que ficou quase paralisado quando, algum tempo depois, o próprio Bolsonaro, já presidente da República, apareceu no quartel para lhe fazer uma visita. Desse primeiro encontro acabou surgindo uma amizade e relação de confiança que se fortaleceu e estreitou com o passar dos anos.

Em 2020, Bolsonaro convidou o amigo para ser diretor-presidente da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), em São Paulo, o maior entreposto de alimentos da América do Sul. E para que ninguém tivesse dúvidas sobre a titularidade da indicação, gravou um vídeo em que dizia:

"Prezados caminhoneiros, permissionários e funcionários da Ceagesp. Quero neste momento pedir a você um voto de confiança no novo presidente da Ceagesp, coronel Mello Araújo. Tenho ele como companheiro, como amigo. Procure-o em todos momentos que se fizer necessário. Pode ter certeza, ele fará uma excelente administração. Perfeitamente sintonizado com o interesse de todos vocês. Acreditem: a indicação é pessoal minha. E dessa forma, pode ter certeza: a Ceagesp vai resgatar tudo aquilo que perdeu no passado".

A gestão do coronel Ricardo de Mello Araújo à frente da Ceagesp foi marcada pela militarização da empresa pública e por confrontos com o Sindicato dos Empregados em Centrais de Abastecimento de Alimentos do Estado de São Paulo (Sindbast). O ex-comandante da Rota preencheu a maioria dos cargos comissionados com policiais militares aposentados. Ele também instalou um clube de tiro na sede da companhia, na Vila Leopoldina, zona oeste da capital.

Mello Araújo tentou expulsar o Sindbast da Ceagesp, mas foi impedida pela Justiça. A direção da entidade acusa o coronel de ter invadido o sindicato com seguranças armados após a decisão judicial. Em nota divulgada à época, o Sindbast afirmou que os funcionários e os diretores da entidade de classes foram intimidados pelos homens armados que acompanhavam o coronel Mello Araújo.

"Foi uma demonstração de autoritarismo covarde e truculento de quem quer 'ganhar do grito' e não se acostuma com as práticas democráticas. Nosso repúdio veemente a essa invasão e garantimos que vamos resistir", diz o texto publicado à época.

Terceira geração na segurança de SP

Nascido em São Paulo, no Hospital Cruz Azul, no Largo do Cambuci, o Coronel tem 53 anos, é casado e tem dois filhos. Ele gosta de contar que sua família cuida da segurança dos habitantes de São Paulo há um século. Isso porque ele é a terceira geração de policiais militares. Aposentou-se em 2019 da Polícia Militar, mas continuou trabalhando na Ceagesp até o começo de 2023, quando Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a presidência da República. A companhia, segundo ele, cresceu e se firmou financeiramente. "Vamos combater fortemente a corrupção. Não aceito e não sou omisso (...) A Ceagesp vai vencer, dar lucro e estar a altura que merece, que os antepassados construíram ao longo dos anos".

Mesmo assim, sua administração não foi muito tranquila. Segundo reportagens da época, ele teve vários confrontos com trabalhadores da Ceagesp e entidades sindicais como o Sindicato dos Empregados em Centrais de Abastecimento de Alimentos do Estado de São Paulo (Sindbast). Mas a frase que mais o marcou foi dita quando ele ainda estava no comando da Rota e afirmou que "a abordagem policial precisa ser diferente em bairros de elite como os Jardins e na periferia".

Pensamento alinhado ao bolsonarismo

Conhecer os pensamentos de Mello Araújo ajuda a entender por que Bolsonaro, desde que decidiu que apoiaria a reeleição do prefeito Ricardo Nunes, deixou claro que indicaria o vice. Com milhares de seguidores na redes sociais, o coronel já manifestou apoio ao impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF); aderiu à turma que desconfiava das urnas eletrônicas e contrariava as normas de isolamento e a vacinação contra a covid-19.

Apesar de Bolsonaro sempre ter deixado claro que o coronel era o nome que ele queria ver na chapa do prefeito Ricardo Nunes, a escolha não foi facilmente aceita pelos demais partidos da coligação e por parlamentares já decididos a votar em Nunes. "Mello Araújo não tem traquejo político nem votos. A menos que Bolsonaro faça campanha para ele, será mais difícil a chapa decolar", disse Coronel Telhada (PP-SP), deputado federal. Alguns parlamentares chegam a comparar Mello Araújo ao general reformado Braga Netto que foi vice na chapa em que Bolsonaro concorreu à presidência da República em 2022.

O coronel Telhada foi um dos que se rendeu aos argumentos do presidente do PP, o senador Ciro Nogueira (PI), voz que acabou batendo o martelo e decidindo a questão. O deputado estadual delegado Olim (PP) acha que nem o próprio Nunes se entusiasmava com a indicação. "Ele não agrega nada, mas, como homem de partido, vou fazer campanha e ajudar a vencer a eleição". O deputado Fausto Pinato (PP) tem praticamente a mesma opinião. Entretanto, considera que perder o apoio de Bolsonaro só por não gostar do vice que ele escolheu, não valeria a pena. "Então vamos engolindo", disse.

Estadão
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