Quem ocupará o espaço deixado pelo PMDB no governo Dilma?
Imagine um ministério lotado de Georges Hiltons, o ministro do Esporte que sequer ficou corado ao declarar, publicamente, que não entende nada do assunto. Hilton foi nomeado no ano passado pela presidente Dilma Rousseff, apenas para agradar ao então aliado PRB. Com o rompimento oficial do PMDB, as chances de isso se repetir em outras pastas são maiores do que nunca. Isto porque, a partir de agora, Dilma usará tudo o que pode para se salvar do impeachment – incluindo a distribuição de cargos deixados pelo ex-aliado.
“Dilma vai transformar o ministério na sua última trincheira”, explica o cientista político Antônio Lavareda. Diante da evaporação da base aliada, com um pedido de impeachment em tramitação na Câmara e outro que acabou de ser protocolado pela OAB, a presidente fará o que ela e seu partido, o PT, tanto abominaram nos tempos de oposição: partir para o fisiologismo puro e simples, no melhor “estilo toma lá, dá cá”.
Na ausência de grandes caciques com quem negociar apoio no atacado, Dilma partirá para o varejinho da conversa de pé de ouvido com qualquer deputado que possa votar contra seu impedimento – e ela precisa de, no mínimo, 171 deles. E, enquanto há cargos, há esperança. Afinal, segundo o levantamento do Movimento Vem Pra Rua, há 138 deputados indecisos sobre o impeachment, além de 118 contrários. Bastaria, em tese, que Dilma convencesse 53 para assegurar sua permanência no Palácio do Planalto até 2018.
Neste ponto, a presidente terá de manusear uma faca de dois gumes: a elevada fragmentação do Congresso, que conta com 25 partidos representados. Se, por um lado, isso pode facilitar sua busca por novos aliados, por outro, aumentará sua exposição a legendas e parlamentares incolores e altamente voláteis, que mudam de posição de acordo com as conveniências do momento. O custo de mantê-los fieis será bem maior – praticamente uma chantagem.
Quem quer dinheiro?
É aí que voltamos para os cargos que vagarão com a saída do PMDB. Nunca é demais lembrar que os sete ministérios ocupados pela legenda contavam com um orçamento de quase R$ 100 bilhões em fevereiro (antes do anúncio de novos cortes). É verdade que R$ 88 bilhões estavam alocados em uma única pasta, a Saúde. Mas o restante não é desprezível. Afinal, estamos em um ano de eleições municipais, e os deputados do baixo clero com quem Dilma negociará esses cargos sempre se ressentiram do desprestígio com que são tratados, e, por tabela, da falta de verbas para contentar suas bases eleitorais. Ter acesso a recursos públicos, ainda que modestos, pode ser a diferença entre eleger ou não seu candidato a prefeito ou vereador.
Se todo esse balcão de negociações fracassar e Dilma sofrer um impeachment, conviver com um ministério inexpressivo terá sido apenas um dos capítulos dos estertores desse governo. O maior problema, porém, é se a presidente for bem-sucedida e, com a distribuição de cargos, conseguir barrar o processo. Aí, prepare-se: muito provavelmente, o Brasil vai conviver com um gabinete inoperante até 2018.
“O ministério que sairá de tudo isso pode até impedir o impeachment, mas não terá nenhuma condição de governar”, resume Lavareda. De concreto, até a noite desta segunda-feira (28), apenas um peemedebista havia deixado o gabinete de Dilma: Henrique Alves, que comandava o Turismo. Outros, como Katia Abreu, são considerados mais fiéis à presidente que ao partido, a ponto de considerarem uma troca de legenda para permanecer ao seu lado.
Mas o efeito-manada causado pela saída do PMDB tende a arrastar outras legendas da base, abrindo novas vagas no governo. Será uma oportunidade única para deputados inexpressivos galgarem os holofotes e obterem verbas. Quem sabe, um dia, sentiremos saudades de George Hilton nos Esportes?