Reação dos Poderes, prédios restaurados e operação da PF: o balanço de 1 mês de ataques em Brasília
Após o dia 8 de janeiro, o Distrito Federal teve seu governador afastado e passou por intervenção federal
Há um mês, no dia 8 de janeiro, apoiadores golpistas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) invadiram os prédios do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal, deixando um rastro de destruição pelo caminho: vidraças foram quebradas, móveis foram destruídos e obras de arte foram depredadas.
Somente horas depois de os golpistas tomarem conta de símbolos da democracia brasileira, as autoridades conseguiram controlar a situação e expulsar os bolsonaristas dos prédios invadidos.
Intervenção federal
Enquanto as imagens de terroristas quebrando tudo dentro do Congresso, Planalto e STF, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) preparava uma coletiva de imprensa para anunciar que iria decretar intervenção federal na segurança do Distrito Federal.
O dispositivo durou do dia 8 até 31 de janeiro, sob comando do interventor Ricardo Cappelli. Em sua fala, Lula prometeu punição para os envolvidos. “Nós achamos que houve falta de segurança, e eu queria dizer para vocês que todas essas pessoas que fizeram isso serão encontradas e serão punidas. Eles vão perceber que a democracia garante o direito de liberdade, de livre comunicação e expressão, mas ela também exige que as pessoas respeitem as instituições que foram criadas para atender a democracia”, afirmou na ocasião.
Governador afastado
Em uma das primeiras medidas tomadas após os atos golpistas em Brasília, Alexandre de Moraes, ministro do STF, determinou o afastamento do governador do DF, Ibaneis Rocha, por 90 dias.
Moraes classificou a conduta de Ibaneis de "dolosamente omissiva" por ter chamado os atos de vandalismo de "livre manifestação política em Brasília" e por ter ignorado apelos de autoridades para traçar um plano de segurança semelhante ao empregado no 7 de Setembro.
Anderson Torres preso
Outra medida do ministro do STF foi determinar a prisão de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal. Ele fora nomeado ao cargo por Ibaneis Rocha que, antes de seu afastamento, decidiu demiti-lo do cargo após a grave falha na segurança pública no dia 8 de janeiro.
Torres estava de férias nos Estados Unidos com a família quando golpistas invadiram prédios dos Três Poderes. No dia 14, ele retornou ao Brasil, sendo preso pela Polícia Federal ainda no aeroporto. Além da falha de segurança, Torres também foi questionado sobre uma minuta, encontrada em sua casa após buscas da PF, cujo objetivo era reverter o resultado das eleições presidenciais.
Acampamentos desmontados
Moraes também ordenou que acampamentos antidemocráticos pelo País, como o de frente ao QG do Exército em Brasília - que reuniu os golpistas envolvidos na destruição do dia 8- , fossem desmontados em um período de 24 horas.
Em relatório final, o interventor Ricardo Cappelli disse que os acampamentos funcionaram como "centro de construção de planos contra a democracia", classificando o espaço como "mini-cidade golpista".
Operação Lesa Pátria
Após os ataques em Brasília, a Polícia Federal começou a prender os golpistas envolvidos nos ataques. O número de presos chegou a passar de mil logo após a retomada da segurança em Brasília e o desmonte dos acampamentos antidemocráticos. Após avaliação da Justiça, 464 foram soltos com medidas cautelares e 942 seguem em prisão preventiva.
Para investigar os financiadores dos atos, a PF também criou a Operação Lesa Pátria, que se tornou permanente. A operação já cumpriu 16 mandados de prisão preventiva e 31 mandados de busca e apreensão. Na última fase, deflagrada na terça-feira, 7, quatro PMs foram presos, incluindo o coronel João Eduardo Naime Barreto, que era o responsável pela segurança na Esplanada dos Ministérios no dia 8 de janeiro.
Prédios restaurados e início dos trabalhos
Representantes dos Poderes trataram logo de mostrar força mesmo com seus respectivos prédios destruídos. Em 9 de janeiro, um dia após a onda de destruição, o presidente Lula já trabalhou direto do Palácio do Planalto. Lá, ele reuniu autoridades, como a presidente do STF, Rosa Weber, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) e o presidente em exercício do Senado, Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB). O dia ainda foi marcado por uma caminhada até o STF, prédio mais destruído pelos golpistas, e promessas de que tudo estaria restaurado até o início dos trabalhos.
De fato, foi o que ocorreu. No dia 1º de fevereiro, conforme prometido, Rosa Weber, ministra e presidente do STF, abriu o Ano Judiciário em um plenário totalmente reconstruído após os ataques golpistas. A cerimônia teve a presença do presidente Lula, que exaltou a coragem da Corte. Reeleito como presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) também defendeu os Poderes.
No Congresso, as discussões e costuras para a eleição do presidente das Casas trouxe um clima de normalidade, e quase não havia sinais dos ataques golpistas, que foram lembrados em discursos na abertura do Ano Legislativo para que a seriedade da ameaça não fosse esquecida.
Reeleito para a presidência da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) condenou os atos extremistas de 8 de janeiro em seu discurso de vitória. "Neste Brasil, não há mais espaço para aqueles que atentam contra os Poderes que simbolizam a nossa democracia. Esta casa não acolherá, defenderá ou referenderá nenhum ato, discurso ou qualquer manifestação que atente contra a democracia. Quem assim atuar terá a repulsa deste Parlamento, a rejeição do povo brasileiro e os rigores da lei", afirmou.