Relembre episódios que ajudaram a azedar relação entre Jair Bolsonaro e Pablo Marçal
Dupla se reuniu pela última vez em junho, em episódio de afago em que ex-presidente entregou homenagem ao ex-coach; desde agosto, entretanto, os dois protagonizaram cenas públicas de lavação de roupa suja
Apenas quatro meses após um episódio de afago protagonizado por Pablo Marçal (PRTB) e Jair Bolsonaro (PL), em que o ex-coach foi presenteado pelo ex-presidente com a medalha de "imbrochável", "imorrível" e "incomível", a lua de mel azedou. Como mostrou o Estadão, após a exigência de um pedido de desculpas de Bolsonaro direcionado a Marçal, reclamado pelo próprio empresário, aliados avaliam que não há qualquer possibilidade de uma reaproximação dos dois, pelo menos por ora.
Os episódios que foram criando atrito na relação envolvem sobretudo a corrida eleitoral de São Paulo, em que o ex-coach esperava ter o apoio oficial do ex-presidente, chegando a afirmar no último encontro cara a cara, em junho, quando ganhou a "homenagem" de Bolsonaro, que o ex-mandatário não iria chancelar a candidatura de Ricardo Nunes (MDB).
Mas o apoio a Nunes veio, mesmo que no começo a contragosto — quando Bolsonaro disse que preferia seu ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles (Novo) —, e contando com a presença do ex-presidente em poucos eventos de campanha do prefeito durante a corrida eleitoral: eles estiveram juntos apenas na convenção do MDB e no 7 de Setembro.
Após terminar o primeiro turno em terceiro, não garantindo lugar na segunda etapa do pleito por somente 56,8 mil votos de diferença, Marçal condicionou seu apoio a Nunes a um pedido de desculpas não apenas de Bolsonaro, mas também do prefeito, do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), do pastor Silas Malafaia e do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
O ex-coach afirmou ter sido prejudicado por mentiras e ataques daqueles que, segundo ele, deveriam estar ao seu lado e os responsabilizou por Guilherme Boulos (PSOL) ter chegado ao segundo turno. Desde agosto, o nome do influenciador cresceu nas pesquisas eleitorais, principalmente entre o eleitorado bolsonarista, apesar de o ex-presidente apoiar formalmente a reeleição de Nunes.
Bolsonaro: vídeo com retrospectiva de Marçal em 2022
Em 22 de agosto, o ex-presidente declarou guerra ao candidato do PRTB ao compartilhar em seu canal oficial do WhatsApp, que na época contava com 1,2 milhão de seguidores, um vídeo de oito minutos reunindo diversos momentos em que Marçal o critica.
O compilado mostra o empresário chamando Lula e Bolsonaro de "farinha do mesmo saco", "populistas" e apoiadores de ditadores. O ex-coach chega a dizer que os dois "significam a mesma pessoa" e que a diferença é que falta um dedo em um deles.
Bolsonaro: 'Nós? Um abraço'
No mesmo dia, os dois bateram boca no Instagram, estreando lavação de roupa suja pública. O empresário comentou em uma postagem no perfil de Bolsonaro na rede social com a frase: "Pra cima, capitão. Como você disse: eles vão sentir saudades de nós". Em poucos minutos, Bolsonaro respondeu: "Nós? Um abraço".
Marçal: 'Se não existe nós, devolva os R$ 100 mil'
No mesmo episódio, Marçal rebateu a invertida do ex-presidente e, numa tréplica, publicou um "textão": lembrou a Bolsonaro que doou R$ 100 mil para a sua campanha de reeleição à Presidência em 2022, além de tê-lo ajudado nas estratégias digitais, fazendo Bolsonaro gravar "mais de 800 vídeos" no Palácio do Planalto.
Um dos filhos do ex-presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, também entrou no entrevero. Na postagem, o filho "03? saiu em defesa do pai, questionando Marçal sobre a campanha presidencial de 2022 e a afirmação de que a única diferença entre Lula e Bolsonaro era o dedo a menos. Na manhã seguinte, o ex-coach publicou uma foto com o filho do presidente em seu perfil no X (antigo Twitter), afirmando que o deputado federal será "o nosso senador em 2026?.
Marçal: Bolsonaro 'não manda' na direita
Em entrevista ao canal CNN Brasil, em 26 de agosto, dias após a primeira troca de farpas, o influenciador afirmou que o termo "bolsonarismo" foi criado pela esquerda para associar o crescimento do conservadorismo no País ao ex-presidente. Segundo disse o ex-coach na ocasião, nem Bolsonaro nem ele próprio controlam esse movimento.
"A esquerda criou o nome bolsonarismo para ver se faz com que todo mundo tenha a cara do presidente [Jair Bolsonaro]. Nós, que somos defensores da liberdade, eu tenho um recado para todo mundo, qualquer brasileiro que estiver em qualquer lugar do mundo: a liberdade não tem dono. Não é o Pablo Marçal que manda nisso, não é Bolsonaro que manda nisso", disse.
Marçal sobre 7 de Setembro: 'só eu fui para os braços do povo'
A relação já desgastada começou a azedar mesmo durante o ato bolsonarista de 7 de Setembro, na Avenida Paulista, quando Marçal, já no encerramento do evento,apareceu no local e queria subir no trio elétrico em que estavam os políticos, incluindo Bolsonaro.
O ex-presidente divulgou uma nota acusando o candidato à Prefeitura de São Paulo de fazer "palanque às custas dos outros". Bolsonaro mencionou que Marçal tentou subir no trio elétrico ao fim do ato, mas foi barrado por "questões óbvias". Segundo ele, o episódio foi o "único e lamentável incidente" da manifestação. O pastor Silas Malafaia, um dos organizadores do ato bolsonarista, também se posicionou, acusando Marçal de tentar se passar por "vítima" e de querer "lacrar" a qualquer custo.
Ao Estadão, Marçal disse: "Como fazer palanque se não me deixaram subir no palanque? Eu fui para os braços do povo. Não tive fala nenhuma, só fui o único que foi para os braços do povo". No mesmo dia, o seguinte ao ato, Marçal publicou um vídeo no Instagram reiterando que foi barrado e declarando que está sozinho: "Deus, povo e nada mais".
Bolsonaro sobre comparação de cadeirada com facada: 'Lamentável'
No início de setembro, após Marçal provocar e levar uma cadeirada do adversário na corrida eleitoral José Luiz Datena (PSDB), o ex-coach publicou uma foto em seu Instagram comparando a agressão com os atentados sofridos por Bolsonaro, que em 2018 levou uma facada, e Donald Trump, que levou um tiro de raspão neste ano.
O ex-presidente gravou um vídeo criticando Marçal e disse ter ficado "chocado" com a atitude, acusando o então candidato do PRTB de fazer a comparação apenas para "conseguir ganhar poder".
"Condeno a cadeirada e condeno a provocação também, feita de forma vil. Agora, o que me deixou chocado neste episódio é que o elemento que levou a cadeirada, que provocou, foi para as mídias sociais e comparou aquela cadeirada ao tiro do Trump e à facada que eu levei", disse o ex-presidente. "Usar um episódio desse da cadeirada, que ele provocou, para buscar se comparar comigo e com o Trump para conseguir o poder é lamentável."