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Política

Ricardo Barros: "Temos que flexibilizar para construir base"

Novo líder do governo na Câmara conseguiu manter veto presidencial ao reajuste salarial dos funcionários públicos

22 ago 2020 - 12h09
(atualizado às 12h20)
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Um dia após passar pelo "teste de fogo" como novo líder do governo na Câmara ao conseguir manter o veto presidencial ao reajuste do funcionalismo, o deputado Ricardo Barros (PP-PR) afirmou que pretende trabalhar para construir uma base parlamentar segura ao presidente Jair Bolsonaro, mas admitiu que em alguns assuntos haverá mais dificuldades, como projetos relacionados a pautas de costumes. "Reconheço que os partidos que são base do governo eventualmente não acompanham a pauta de costumes porque interpretam não como uma pauta de governo, mas do presidente", disse ele ao Estadão/Broadcast.

Novo líder do governo na Câmara, Ricardo Barros 
17/10/2017
REUTERS/Ueslei Marcelino
Novo líder do governo na Câmara, Ricardo Barros 17/10/2017 REUTERS/Ueslei Marcelino
Foto: Reuters

Ex-líder do governo durante a presidência de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e vice-líder dos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, ambos do PT, o parlamentar se gaba de se relacionar bem com a oposição. Afirmou que tem "trânsito livre" com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). "O presidente da Câmara é influente no plenário e, quando ele acompanha, as coisas facilitam", afirmou Barros.

Ao conseguir manter o veto ao reajuste de servidores, o governo, finalmente, construiu uma base ou seguirá tendo de negociar a cada votação?

Eu trabalho com um mapa de votação. Ontem, sabíamos que tínhamos voto para manter o veto. Sou engenheiro, faço contas. Não é toda votação que teremos todos os votos. Temos que ter a flexibilidade de entender como cada votação reflete na base do parlamentar. É assim que podemos construir uma base segura, harmônica e permanente.

Sem Rodrigo Maia, o governo conseguiria manter o veto ao reajuste de servidores?

Não posso te responder isso. Agradeço muito a participação do presidente Rodrigo Maia. Como nossa pauta é convergente sobre esse tema, é muito importante que fizéssemos essa votação conjunta.

Com a chegada do sr., melhora a relação entre o governo e o presidente da Câmara?

Eu diria que sim. Tenho trânsito livre com Maia. Fui líder do presidente Fernando Henrique Cardoso, me dou muito bem com o PSDB. Fui vice-líder dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, do PT, e me dou muito bem com a oposição. A turma aqui diz que eu seguro fio desencapado. Eu sou um político de resultados.

O processo de impeachment é um fio desencapado?

Não, nenhuma possibilidade de impeachment. O Maia já declarou publicamente que não há nenhuma chance de ele abrir o impeachment. Esse risco nunca existiu na verdade. Há sempre uma tentativa da formação de opinião de que a construção de uma base se dá por troca de algum interesse e não por cumprimento de compromissos que foram feitos na campanha. Ficam tentando criar um "toma lá, dá cá" que não existe.

O que fez o governo mudar de postura em relação ao Centrão?

O governo amadureceu. O presidente Bolsonaro começou o seu governo se relacionando com frentes parlamentares que indicaram ministros. Depois de um ano, percebeu que as bancadas não indicam a votação dos parlamentares no plenário, não indicam os membros das comissões, nem relatores das matérias. Quem faz isso são os partidos. Ainda precisamos concluir as condições desta parceria para que a gente possa, em um determinado momento, ter uma base sólida.

Qual foi o pedido do presidente ao formalizar o convite para o sr. assumir a liderança?

Em específico nada. Tudo está implícito na função. Por dez anos, fomos juntos do PP, tenho toda a liberdade. Só disse a ele: "Presidente, a palavra do líder não pode nunca ser deixada de ser cumprida". Compromisso assumido, compromisso cumprido. Tivemos algumas dificuldades com vetos que são fruto de acordo, aí desgasta o líder.

A falta de compromisso do governo é uma reclamação. O sr. impôs essa condição?

Não estou condicionando nada. Se o governo não me der condições de trabalho, vai ter dificuldade de articulação. Se o líder não tem credibilidade, o governo sofre nas votações.

O sr. vai defender a votação de projetos sobre porte de armas e pautas de costumes, bandeiras do presidente?

Vou trabalhar para aprovar os projetos de interesse do governo na Câmara. Reconheço que os partidos que são da base eventualmente não acompanham a pauta de costumes porque interpretam não como uma pauta de governo, mas uma pauta do presidente.

Mas acha possível votar essas pautas ainda neste ano?

Algumas sim. Não posso ainda afirmar quais porque não tive tempo de checar isso. Peguei uma emergência e não tive tempo, mas eu vou ver o que tem voto e vou tentar costurar maioria para aprovar a pauta do presidente.

O sr. é ex-ministro da Saúde e é sempre mencionado para assumir a pasta, que há três meses é conduzida de forma interina pelo general Eduardo Pazuello. Qual a sua avaliação do enfrentamento da pandemia no País?

Eu defendo a permanência do general Pazuello, ele entregou nesta semana o Comando da Amazônia. Ele não era efetivo, porque não era possível acumular. O ministro Pazuello faz excelente gestão.

Em entrevista ao Estadão, Maia defendeu um "muro" para separar as Forças Armadas do governo. Acha que isso precisa ser discutido?

Não tenho nenhuma restrição à participação de militares da ativa no governo. Essa discussão não é um contexto único, está dentro do contexto da quarentena para juízes e promotores. O fato é que é preciso ter uma regra, porque não podemos ter juízes dando despachos espetaculosos para formar popularidade e depois entrar na política.

Como o sr. vê os movimentos para a reeleição de Maia, na Câmara, e de Davi Alcolumbre, no Senado?

Câmara e Senado são poderes independentes. O governo não se mete em eleição de outro Poder.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Estadão
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