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Política

RS: controvérsias ameaçam apoio político de governador

21 jan 2015 - 07h42
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Sartori anunciou ter voltado atrás nos aumentos salariais para si e para seu vice, José Paulo Cairoli (PSD)
Sartori anunciou ter voltado atrás nos aumentos salariais para si e para seu vice, José Paulo Cairoli (PSD)
Foto: Luiz Chaves/Palácio Piratini / Divulgação

Há menos de 30 dias no cargo e no comando de um Estado endividado, o novo governador do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori (PMDB), vem protagonizando uma série de ações controversas. Desde a campanha, Sartori afirma que o Rio Grande do Sul está “quebrado” e que a recuperação exige cortes drásticos. O governador determinou redução de despesas, suspensão de pagamentos e disse que os servidores teriam suas “cotas de sacrifício”. Porém, na semana passada, sancionou o aumento de seu salário, do vice, de deputados estaduais e Judiciário estadual. O custo total do reajuste: R$ 130 milhões aos cofres públicos este ano.

Bombardeado pela reação da opinião pública, Sartori abriu mão de seu aumento de 45,9% e do vice nesta segunda-feira, argumentando ter ouvido “a voz dos gaúchos” e dizendo que era “uma decisão pessoal”.

Entre lideranças políticas aliadas, a decisão gerou desconforto. Os deputados (governistas e oposição) aprovaram por unanimidade os aumentos em dezembro. “Se era para fazer isso, então que tivesse negociado com a base lá atrás. Não dá para ficar o tempo todo mudando de ideia”, disse um integrante da bancada do PMDB. “Fica parecendo que os deputados, e só eles, têm altos salários. Mas nós não temos todas as despesas pagas (como o governador)”, criticou outro parlamentar da base.

Veja algumas das ações polêmicas dos primeiros 21 dias de José Ivo Sartori no governo

Reestruturação administrativa

Em dezembro, Sartori solicitou o envio ao Legislativo de um projeto de reestruturação administrativa formatado pelo PMDB. A reestruturação, segundo os peemedebistas, geraria até 30% de redução nos gastos de custeio (aqueles vinculados ao funcionamento da estrutura administrativa, e que, em 2014, somaram R$ 6,4 bilhões). Na prática, o projeto modificou nomes de algumas secretarias e fundiu ou extinguiu pastas com baixo orçamento e poucos cargos em comissão (CCs). Entre as secretarias extintas, estava a de Políticas para Mulheres, o que gerou desgaste com movimentos de direitos humanos e os que tratam de questões de gênero.

O governo admitiu não saber qual o impacto das mudanças nas contas do Estado. Até hoje, não divulgou oficialmente um número.

No dia seguinte à polêmica sanção dos aumentos de salários, governador foi para o interior do Estado e participou da abertura da colheita do milho
No dia seguinte à polêmica sanção dos aumentos de salários, governador foi para o interior do Estado e participou da abertura da colheita do milho
Foto: Luiz Chaves/Palácio Piratini / Divulgação

Decreto de corte de despesas

Em 2 de janeiro, Sartori baixou o decreto 52.230, que veda por 180 dias o pagamento de despesas anteriores, contratos de prestação de serviços terceirizados ainda não adjudicados e a celebração ou prorrogação de convênios que impliquem em despesas. O decreto também prevê a obrigatoriedade da readequação da prestação de serviços terceirizados caso não haja disponibilidade orçamentária.

O governador garantiu que áreas essenciais, como saúde, educação e segurança não seriam afetadas. Porém, as "excepcionalidades" precisam ser "plenamente justificadas” e encaminhadas para análise da Junta de Coordenação Orçamentária e Financeira.

Até agora, não há informações de quantas solicitações chegaram à Junta, formada por quatro secretários de Estado e um número não divulgado de técnicos. O secretário estadual da Fazenda, Giovani Feltes, estima que o decreto possa gerar uma economia de R$ 600 milhões em 2015 (o equivalente a 10% dos gastos de custeio), mas não detalha os números.

Em função do decreto, já ocorreram problemas nas áreas da saúde e segurança. Na saúde, o governo precisou rever a suspensão de pagamentos de médicos do IPE Saúde, o plano de saúde dos servidores estaduais. Na segurança, a questão da suspensão do pagamento de horas-extras de bombeiros, que ocasionou até o fechamento de um quartel na região Metropolitana de Porto Alegre.

Nesta terça-feira o subcomandante-geral da Brigada Militar (BM), Paulo Stocker, confirmou que haverá redução de 40% nas horas-extras da corporação, mas disse que o policiamento nas ruas não será afetado.

Governador José Ivo Sartori participa da abertura da safra da uva, na serra gaúcha, sua base política
Governador José Ivo Sartori participa da abertura da safra da uva, na serra gaúcha, sua base política
Foto: Luiz Chaves/Palácio Piratini / Divulgação
Aumento dos salários

Em dezembro, a Assembleia Legislativa aprovou diferentes projetos de reajustes nos subsídios das cúpulas do Judiciário, Legislativo e Executivo. Os do Judiciário foram encaminhados pelo próprio Judiciário. O do aumento do subsídio dos deputados, do governador, do vice e dos secretários de Estado foi apresentado pela Mesa Diretora da Assembleia.

Os valores dos aumentos:

Governador: de R$ 17,3 mil para R$ 25,3 mil - aumento de 45,9%

Vice-governador e secretários: de R$ 11,5 mil para R$ 18,9 mil - aumento de 64,2%

Deputados estaduais: de R$ 20 mil para R$ 25,3 mil - aumento de 26,34%

Cúpula do Judiciário: de R$ 25,9 mil para R$ 30,4 mil - aumento de 14,60%

O reajuste da cúpula do Judiciário manteve os salários no teto constitucional. Os deputados estaduais só podem ter reajustes a cada quatro anos. O governador, o vice e os secretários não tinham os subsídios reajustados há oito anos. Sartori sancionou todos os projetos. Ante a repercussão negativa, voltou atrás e abriu mão do próprio aumento. Ele e o vice deverão devolver a diferença todos os meses.

Crise nas finanças

Sartori declara que a situação das finanças é muito pior do que ele pensava, mas não apresenta oficialmente estudos ou levantamentos. Sob a justificativa da crise, secretários já falaram em corte de cargos em comissão, em extinção de estatais e em falta de dinheiro para pagar a folha a partir de março. O secretário da Fazenda, Giovani Feltes, estima que o déficit chegará a R$ 5,5 bilhões em 2015 (cinco vezes o déficit de 2014, que foi de R$ 1,2 bilhão) e promete detalhar até o final do mês como chegou ao dado.

Desde a transição, circula entre aliados um levantamento feito pela consultoria PricewaterhouseCoopers (PwC) para o Movimento Brasil Competitivo (MBC), que tem como presidente fundador o empresário Jorge Gerdau Johannpeter.

Na semana passada, integrantes do governo vazaram que o estudo apontaria déficit de R$ 7,1 bilhões, também sem apresentar as bases utilizadas. A vinculação a uma consultoria privada e os questionamentos sobre como o diagnóstico foi encaminhado desagradaram a outra parte do governo. Ninguém no Executivo quis se manifestar publicamente sobre o número, sob o argumento de que ele não foi encomendado pelo governo e não ‘bate’ com os dados da Fazenda.

No MBC a informação é de que, em função de um acordo com a atual administração estadual, a entidade não pode dar detalhes do levantamento. E, ainda, que o MBC realiza este tipo de diagnóstico previamente em Estados ou prefeituras onde pretende firmar parcerias para melhorar a gestão, que podem ser tanto por contratação direta como por parcerias público-privadas.

Em reação, o PT, que governava o Estado até o mês passado, lançou nota na qual afirma que a crise financeira é uma farsa com objetivo de justificar a venda de estatais lucrativas.

Fonte: Terra
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