Saiba como será feita a exumação do ex-presidente João Goulart no RS
As dúvidas sobre as circunstâncias da morte do presidente deposto pelo regime militar
João Goulart podem dar os primeiros passos em direção a uma resposta a partir de quarta-feira, quando será feita a exumação de seus restos mortais na cidade de São Borja, no interior do Rio Grande do sul, onde ele nasceu e foi sepultado, após morrer exilado na Argentina, em 1976.
Os trabalhos da equipe de peritos começam amanhã, às 7h, mas apenas familiares, peritos e autoridades terão acesso ao cemitério. Os restos mortais serão retirados da sepultura e enviados a Brasília, onde será feito o trabalho de coleta e análise. Serão colhidas amostras para exames antropológicos (que consiste na medição da ossada e procura de características que possam auxiliar na identificação, além da possibilidade de radiografia e tomografia) e de DNA.
As análises toxicológicas, que podem esclarecer se Jango foi envenenado, serão realizadas em laboratórios no exterior, indicados pela Cruz Vermelha. As amostras serão lacradas e enviadas para os locais da análise, que serão mantidos em sigilo. Cada um dos laboratórios receberá as mesmas análises.
Serão procurados traços de remédios que eram usados por Jango, como Isordil e Adelfan, para o tratamento cardíaco e de hipertensão, e de substâncias que possam ter matado o ex-presidente, como cloreto de potássio, clorofórmio e escopolamina.
A exumação será feita pela Polícia Federal através do Instituto Nacional de Criminalística (INC), acompanhados por uma comissão de peritos do Brasil, Argentina, Cuba e Uruguai, com o intuito de legitimar a investigação. O especialista indicado pela família é o reitor da Universidade de Ciências Médicas de Havana, Jorge Perez, que também trabalhou na exumação de Ernesto Che Guevara. Os demais integrantes da equipe já participaram da exumação de Simon Bolivar, Pablo Neruda e Salvador Allende.
Ainda na quarta-feira os restos mortais serão levados para a cidade de Santa Maria, de onde serão transportados pela Força Aérea Brasileira (FAB) para Brasília. A chegada está prevista para as 10h de quinta-feira, quando será realizada uma cerimônia com honras de chefe de Estado.
Não existe previsão para a divulgação dos resultados das análises, e o corpo de Jango volta para a cidade natal no dia 6 de dezembro, data em que ele morreu no exílio. Existe ainda a possibilidade de que as análises sejam inconclusivas. No entanto, a exumação é considerada apenas mais uma fase da investigação, que inclui ainda provas documentais e testemunhais.
O processo de exumação do ex-presidente partiu de iniciativa da família em 2007, que pediu a reabertura das investigações. Em 2011, o pedido chegou à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, e ganhou força com a criação da Comissão Nacional da Verdade em 2012.
O Corpo de Jango não passou por autópsia e em sua certidão de óbito constada que a causa da morte era uma “enfermedad” (doença). Ele enfrentava problemas cardíacos há quase 10 anos, e teria morrido por conta de um enfarte. Na década de 80 começaram a vir à tona suspeitas de que seus medicamentos teriam sido trocados em uma ação da Operação Condor, que se tratava de um pacto firmado entre as ditaduras sul-americanas para reprimir militantes contrários aos regimes. Além disso, documentos comprovam que Jango foi monitorado durante seu exílio.
Ele é o único presidente brasileiro que morreu no exílio e não recebeu as honras de chefe de Estado em seu sepultamento. Várias teriam sido as tentativas de evitar que seu corpo voltasse para o Brasil.